ACODE, ACODE, ACODE
Linoberg Almeida
Eu, como muitos brasileiros, ficamos de joelho no milho algumas vezes na vida. Essa coisa do castigo como prática educativa tem aspectos de raiva, medo, desespero, impotência, dor e incompreensão. É coisa importada da Europa que não educa ninguém. Deixa marcas naqueles que veem na autoridade de quem bate a razão. Aí mora o perigo.
Semana passada, vi a Comissão da Saúde da Assembleia Legislativa reunida com o secretário do estado pela internet. As perguntas, respostas, considerações me levaram para o canto da sala, de frente para a parede, a pensar onde foi que erramos. Se cada surra deixa heranças impossíveis de apagar por que insistimos nesse roteiro previsível que não muda a realidade da vida de ninguém?
Uma população cansada não merece o açoite de quem conhece leis, os problemas e parece insensível a desempenhar seu papel constitucional. Grávidas de risco na maternidade não podem esperar. Pessoas nas filas de esperas por leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) não podem esperar. Os casos de infarto do miocárdio, insuficiência respiratória, casos de acidente vascular cerebral e os acidentados do trânsito não podem esperar. E a tranquilidade no balé de microfones e discursos dói como um tapa na cara.
Ouvi parlamentar questionar quase em deboche a prioridade de atenção à população indígena como se não houvesse decisão do STF sobre o assunto, ou não soubesse bem do lugar Roraima. É o jogar para a plateia, manipular as raivas, que politiza a crise com descaso e deixa boa parte da população perdida. Em quem confiar? Em quem acreditar? A quem pedir socorro? Acabamos muitos caindo na armadilha de quem vende gato por lebre e nunca entregou por essas bandas o que o Sistema Único de Saúde preconiza, quiçá a postura parlamentar.
É preciso dar limites aos indivíduos, em especial aos eleitos. Ou saímos dessa posição acuada ou nunca vamos ter serviços de saúde organizados para promover, prevenir, reabilitar e curar toda a população. A hora de ir ao médico é antes da doença. Não podemos esperar outras crises para tomar uma atitude. A defesa da vida é para ontem.
Questionar costumes não é nada fácil. É como a velha palmada, que de ver avós e pais fazerem, muitos repetem sem tentar outras fórmulas. Os de poder falam, a gente escuta passivo e sem ação. Fica com raiva, se cala e espera a urna para dar solução. Mas, até lá haverá vida? Não estou aqui para dizer o que é certo ou errado, mas o julgamento e a nossa tolerância aos “castigos políticos” devem ser discutidos e reprimidos. Chega de apanhar calado. Salve-nos se puder.
*Sociólogo, professor da UFRR
A SILENCIOSA REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO
Henrique Flory*
Estamos todos sofrendo de tal forma com os efeitos avassaladores da crise continuada do COVID-19 que muitos conseguem apenas ver as desgraças, as mortes, as UTIs lotadas, a falência do sistema de saúde e o desespero tomando posse dos nossos espíritos. Eles não conseguem perceber que em todas as calamidades e guerras existem sim avanços e melhorias, existem ganhos que podem, se entendidos e defendidos, ser incorporados na sociedade de forma duradoura. Esse artigo pretende mostrar como esses processos estão ocorrendo na Educação, se nos dermos a chance de conseguir observá-los.
A decretação da primeira quarentena em meados de março de 2020 pegou quase todas escolas de surpresa. Muitas suspenderam suas atividades, por poucos dias que se estenderam a meses e depois se tornaram uma adaptação em aulas remendadas de diversos tipos: tarefas, indicações de leitura, vídeos, aulas em vídeo, telepresenciais, mas em sua grande maioria nada planejado nem organizado.
Outras escolas, porém, estavam melhor preparadas, já tinham experiências reais e significativas com aulas a distância, telepresença, criação de incentivos e sistemas de avaliação online e em tempo real. Essas escolas, com o “alívio” burocrático e sindical conseguido devido às condições da pandemia, puderam expandir e evoluir suas prestações de serviços, chegando a uma nova realidade, que praticamente independe da sala de aula tradicional. Sim, um movimento certamente inevitável e inexorável, mas que sem a pandemia levaria décadas para se consolidar.
As mudanças não foram apenas ao se incorporar tecnologias. Toda metodologia de estudo e ensino pode ser repensada. Uma nova startup educacional passou a oferecer 2.000 professores particulares online, 24 horas por dia, 7 dias por semana, mudando o conceito de se estudar ao fazer atividades e exercícios. A avaliação em tempo real do nível de interesse e participação dos alunos trouxe a possibilidade de “medir o pulso” do paciente ao invés de “fazer a autópsia” de três em três meses, apenas na época das provas.
Aqueles que não conseguiram ver ou acompanhar as mudanças passaram a clamar pela volta presencial, como se fosse uma forma melhor e mais evoluída de ensino. Como se apinhar 40 alunos em uma sala com um professor, a escola-fábrica herdada da era industrial, fosse realmente eficiente. Como se essa solução, ao colocar 35% dos alunos, fosse funcionar, e não resultasse em os outros 65% exigindo que a aula fosse repetida quando tivessem a oportunidade de estar presentes.
Grande parte da população, enganada por falsas esperanças, comprou a ideia da volta. E os argumentos, embora todos focados no retrovisor da História, parecem convincentes e atraentes. Vamos voltar ao que era antes, vamos apagar esse ano terrível das nossas memórias. Os alunos precisam estar na escola!
Os alunos precisam estar na escola porque em casa ninguém consegue forçá-los a estudar, e na escola sim. Esse é o conceito da escola-prisão. Escola não deve ser isso. Os alunos precisam estar na escola para ter uma refeição. Essa é a escola-refeitório. Os alunos precisam estar na escola porque o ambiente familiar é tóxico. Essa é a escola-albergue.
As experiências de 2020 nos ensinaram que a Escola não precisa, e não pode, ser nada disso. Outras instituições precisam existir para cumprir essas funções. O conceito da escola evoluiu, tornou-se difuso para abraçar o online, o social e as redes sociais, as múltiplas e diversas formas de aprender e avaliar o aprendizado.
Essa revolução na Educação já está aí presente, mas ainda não é bem entendida. Já existem alunos e pequenos grupos sociais vivenciando-a. É a Educação que ensina que seus alunos não esperam pelo ontem, eles criam o amanhã. Eles não bebem toda a água do bote salva-vidas na esperança de que o resgate venha amanhã. Eles criam seus novos grupos e interações e projetos, não ficam na dependência de um salvador divino ou uma vacina perfeita que irá nos conduzir de volta ao mundo de antes.
Eles são a solução, não terceirizam a esperança.
*Diretor do Colégio Einstein Assis – https://einsteinassis.com.br/
LEIA NOS OLHOS
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“A falsidade é a mentir que aprendeu a sorrir”. (Legrand)
Você tem receio de pessoas falsas? C
orte essa. Quando conhecemos o inimigo não o tememos. E conhecer uma pessoa falsa é muito simples. É só você aprender a identificar a pessoa, como ela é, olhando-a nos olhos. A falsidade está apoiada na mentira que aprendeu a sorrir. E não há como não identificar uma pessoa falsa no sorriso dela. E aprenda a ler os olhos da pessoa, aprendendo a se ver no seu espelho interior. Simples pra dedéu.
Só quando nos conhecemos, somos capazes de reconhecer as outras pessoas. E é aí que quando a pessoa engana você, é porque você foi tolo, ou tola. E se se enganou recorra ao seu espelho interior. Ainda há muitos tolos que riem quando falo do espelho interior. Mas ele é um escudo para a nossa defesa, ensinando-nos como não devemos errar da próxima vez. Voltemos ao assunto. Quando você se vê no seu espelho interior está se vendo como você realmente é. Está se vendo no seu íntimo. E se alguém, geralmente o falso, enganou você, verifique se foi ele que enganou você ou se foi você que se enganou com ele.
Nunca se engane com alguém. Mas, para isso você tem que ser maduro, ou madura, para não se deixar enganar. Porque se se enganar a culpa é sua e não de quem, em quem você põe a culpa. Se você é uma pessoa que se deixa apaixonar com frequência, cuidado. Você ainda tem muito a aprender no livro da vida. Que é o livro que devemos usar na Faculdade do Asfalto. Porque é nela que realmente aprendemos a viver a vida como ela deve ser vida.
Nunca mantenha a ira armazenada na sua mente. Porque se você mantiver a raiva engavetada na mente, você nunca irá viver a vida que deveria viver. Inicie seu aprendizado não culpando os outros, pelos seus erros. E quando você se aborrece, está dando crédito a quem não merece. Sorria, cante, mas sem fingimento. Não tente pensar que está levando numa boa. Você pode estar se enganando e, consequentemente, cometendo um erro. E só aprendemos com os erros quando os assumimos.
Respire, olhe para o céu, sorria e continue na caminhada dos acertos. Porque tudo de que necessitamos para ser feliz, está dentro de nós mesmo. Não precisamos buscar lá fora, o que está dentro de nós. Você, como todos nós, é de origem racional. O importante é que nos tornemos racionais com o conhecimento da nossa evolução racional. E comece sua tarefa não confundindo isso com religião. É apenas uma caminhada para a racionalidade, sem a qual não voltaremos ao nosso mundo de origem. E queiramos ou não, um dia teremos de voltar para lá, que é onde não há unidade de tempo. Pense nisso.
*Articulista – Email: [email protected] – Telefone: 95-99121-1460