O escandaloso caso das vacinas estocadas que ficou oculto
Jessé Souza*
Durante uma audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, realizada no dia 18 passado, quando o secretario estadual de Saúde, Marcelo Lopes, foi ouvido a respeito da falta de médicos no Hospital Geral de Roraima (HGR), veio à tona um lamentável caso que continua sem alarde: 25 mil doses de vacinas contra a Covid-19, destinadas às comunidades indígenas, estão estocadas em algum lugar.
O motivo é a falta de logística, um problema recorrente na administração do hoje ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que tinha como assessor o ex-deputado estadual Airton Cascavel. Não bastasse a falta de interesse do Governo Federal em agilizar a chegada da vacina para uma imunização em massa, também não havia organização para que as vacinas já adquiridas chegassem ao povo em quantidade suficiente e de forma rápida.
Além do grande risco do desperdício dessa vacina, a qual não consegue chegar às populações indígenas por incompetência dos governos federal e local, populações estas que estão no grupo prioritário para imunização, o fato ainda provocou uma reação não favorável aos índios.
A sugestão que surgiu, a partir desta reunião da CPI, é que estas vacinas estocadas fossem destinadas imediatamente para a Capital. Ou seja, os povos indígenas que esperem e que lutem, pois, na lógica dos políticos, é que a prioridade dos indígenas pode esperar.
Já não bastasse a grave situação do garimpo ilegal que avança sob a omissão do Estado e o incentivo por parte dos políticos. Não custa lembrar que um avião apreendido durante operação da Polícia Federal pertencia do senador Chico Rodrigues (DEM), o mesmo do “escândalo da cueca”, no qual ele é investigado por suposto desvio de recursos destinado à Covid-19.
A vacina estocada, que não consegue chegar às comunidades indígenas, é mais um episódio dentro do grande escândalo em que se tornou a questão da vacina contra o coronavírus e a saúde indígena historicamente. E também mais uma face de como o país trata as populações tradicionais dentro desse grande contexto, onde o garimpo ilegal é incentivado, em vez de combatido.
É urgente a necessidade de uma ação rápida do Ministério Público Federal (MPF) e dos demais órgãos de controle no caso da vacina, revelada na CPI da Saúde. Inadmissível que haja tanto descaso em um momento delicado em que a vacinação é a principal arma para frear o avanço da pandemia. Além da insensibilidade dos políticos quanto à prioridade da vacinação por parte das comunidades indígenas.
Não se trata apenas da criminosa falta de logística do Governo Federal, mas também da omissão das autoridades estaduais para o grave fato, que ficou oculto por todo esse tempo, bem como da tentativa de inversão da prioridade, em vez de imediatas ações para corrigir o escandaloso erro. Os responsáveis por isso precisam ser punidos.
*Colunista