Opinião

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A CARRAPETA DA POLÍTICA

Linoberg Almeida*

Estava entre buchas e parafusos numa loja de material de construção no Sílvio Leite quando uma senhora se dirigiu a mim e disse estar cansada de politizarem tudo nesse país. E olha que não é só ela que tem achado o ato de fazer alguém ou a si próprio ter consciência dos deveres e direitos de cidadão e reconhecer a importância da ação política na vida como algo negativo, chato. Dar caráter político às coisas é legal demais e anda em falta.

Tem gente que acha que devemos deixar a política por si só; assim como a religião, a arte, o amor, o lazer, a gastronomia, como se tudo isso não se politizasse. Esse verbo transitivo direto está contaminado pela nossa preguiça de usar o dicionário e nossa falta de percepção crítica da realidade como um todo. Crítica é outra palavra que anda desvirtuada também.

Tem política até nos materiais de construção, como preço, tipo, o que se pode comprar, onde é vendido, quem vende ou compra… Você já viu a quantas anda o saco de cimento? Ter noção ampla e esclarecida de onde se está pisando, com discernimento capaz de não deixar que outro determine o que é bom ou não é bom para você, é libertador.

Pode ser exagero, mas temos que politizar tudo sim. Mal sabe aquela senhora que com três notas de vinte reais emboladas na palma da mão em busca de uma carrapeta ou torneira nova para cessar o pinga-pinga no seu tanque, tem ela mais noção de orçamento que muitos parlamentares por aí.

Vivemos uma crise profunda, três mil mortos por dia, cortaram o censo, não mexeram nas forças armadas, saúde como se nada estivesse acontecendo e temos um orçamento de faz de conta. Com um pouco de leitura vê-se erros de quem não deixa claro de onde sairá o pífio auxílio emergencial, os recursos da educação e do campo. Gastamos com supérfluos ou carinhos na politicagem mais que no dever constitucional de dar cidadania e dignidade à pessoa humana.

A saída não está no empurrar com a barriga. Nem eu, nem Célia, aquela senhora, temos a pretensão de ser mais do que ninguém ou achar que temos capacidade maior que os outros. Ela faz política como ninguém. Vi pechinchar, reclamar da bala ao invés do troco, e até da sacola quando viu que o que comprou cabia na bolsa, sem mais um plástico no meio ambiente. São nas pequenas atitudes que conhecemos as pessoas.

Mesmo com grana para torneira, lá vai ela consertar e economizar com sabedoria. E um monte de representante e nada da CPI da pandemia, nada de questionar o decreto das armas, nada de suspender partes da lei de segurança nacional, nada de investimentos densos na ciência, nada de ação efetiva para salvar nossos rios. Temos que arrumar a torneira e a casa.

O papo não é sobre ser totalitário; é sobre cuidar da essência do diálogo. É nele que aprendemos. Ignorar o poder das palavras sempre dá nesse jeitinho de não entender a política como relações de poder presentes em tudo e todos, até num corredor de pregos e porcas. Vai ver que é pela carrapeta da torneira que vamos redescobrir a Política, antes de irmos pelo ralo.

*Sociólogo, professor da UFRR

COMO DIRIA MACUNAÍMA, “AI QUE PREGUIÇA”

Luciene de Lara*

Luci B. Serricchio**

A discussão sobre a leitura dos clássicos pelos estudantes é um assunto que volta a toda hora. Por que certas pessoas precisam responsabilizar nossos grandes escritores, como se eles fossem os culpados? A maior vítima é Machado de Assis – verdadeiro ícone dos negativistas.

O tema apareceu ultimamente em uma das redes sociais e mais uma vez as opiniões se dividiram. Sem a pretensão de esgotar o assunto, vamos pensar um pouquinho sobre isso. O que é um clássico? Macunaíma é um clássico? E O apanhador no campo de centeio? E Quarup? E Harry Potter? E Alice? E A hora da estrela?

É uma tarefa difícil definir esse conceito. Podemos entender um clássico como uma obra relativa ao movimento literário que se desenvolveu no Renascimento, durante o século XVI, ou como uma “obra prima” de alto nível literário, ou algo que permanece ao longo do tempo, ou ainda como uma obra que vem fascinando leitores.

Independentemente da época, há de ser uma obra que reflita valores de um tempo e que tenha caráter universal. Acima de tudo, que seja uma obra que traga histórias que envolvam, emocionem, que traga ao leitor o conhecimento de si próprio e do outro, que o faça “viajar”.

Portanto o problema não está nem nos autores, nem na palavra clássico. A leitura é mais um dos problemas da educação. Desde que a leitura literária entrou para a escola, o livro tornou-se objeto de rejeição. Se está na sala de aula como algo obrigatório, não estará formando leitores, seja com um conto de fadas, seja com Machado de Assis.

Em tese, o gosto pela leitura deveria ser criado em casa, mas em um país de “não leitores”, a escola assume esse papel, muitas vezes de forma compulsória. No entanto, é possível criar, nesse ambiente, leitores curiosos, proficientes e que tenham prazer no ato de ler. Basta que o professor seja, em primeiro lugar, ele mesmo, um bom leitor; basta que saiba selecionar as obras adequadas e motivadoras desde a mais tenra infância até a adolescência; basta que não limite o livro a avaliações sem sentido; basta que trabalhe outros meios que dialoguem com o livro em questão. Pois é justamente aí que se reconhece um clássico: no diálogo que ele mantém com nosso mundo, com nosso tempo, conosco, apesar de ter sido escrito há muitos anos.

Ler um clássico é essencial, mas é algo que se prepara ao longo da formação de alunos leitores. Se houver o desenvolvimento de leituras de forma gradativa, seja quanto à motivação, seja quanto a literalidade, quando o chamado clássico chegar à mão dos adolescentes, ele não será um peso, algo incompreensível e tedioso.

Ninguém espera que um aluno de 12 anos entenda Machado, Guimarães Rosa e Linspector em toda amplitude e complexidade. São autores que exigem uma abstração, um amadurecimento e uma percepção de mundo que os alunos só passam a ter no Ensino Médio e, mesmo assim, alguns precisam de ajuda. Mas é justamente aí que entra o papel do professor, como mediador entre um livro que exige do seu leitor um nível de leitura mais aprofundado.

Não se está falando aqui em adaptar um clássico através da simplificação do enredo e do uso de uma linguagem mais “acessível e adequada”; isso é retirar do livro o que ele tem de mais precioso: seu texto, sua escrita, marca da personalidade e estilo do autor.

Então, não há solução? Há sim. Somos educadores e sempre encontramos soluções. Ela vai variar para cada obra, para cada aluno, para cada escola. Mas é possível ajudar os jovens a lerem os clássicos: algumas vezes, lendo em voz alta trechos da obra, ou relacionando-a com outros textos, músicas, filmes; outras discutindo com
os alunos o contexto em que foi produzida, ou a biografia do autor (quem não se encanta com as poesias de Gregório de Matos ao saber um pouco de sua vida barroca de exageros, irreverência e oposições); não há uma receita mágica, não há uma receita única.

O que há é a necessidade de se ler os clássicos, sempre, por serem obras que nos compõem enquanto indivíduo e enquanto espécie humana. São obras de arte que nos modificam, mesmo se a princípio não a entendemos por completo. Elas ajudaram a formar o mundo em que vivemos hoje e nos auxiliam a entendê-lo melhor. Às vezes, até a entendermos quem somos.

*Mestra em literatura e professora do Colégio Marista Anjo da Guarda.

**Especialista em literatura infantil e coordenadora de Português do Colégio Marista Anjo da Guarda.

O PODER DA LIDERANÇA FEMININA NA ADVERSIDADE

Helen Mesquita*

Em meio a um período tão difícil em que vivemos por conta da pandemia do novo coronavírus, que assolou a saúde e a economia mundial, saber que o Brasil manteve pelo quarto ano consecutivo uma mulher em primeiro lugar no ranking dos 100 melhores líderes do País é a prova da importância feminina na adversidade. Esse ranking, realizado pela Exame, com 2.366 entrevistados entre julho e dezembro de 2020, contemplou 22 novos líderes e mais mulheres do que nas edições anteriores. Na liderança do ranking, está Luíza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza.

A paridade de gênero está sendo levada a sério no empreendedorismo. Fatores como o aumento da transparência, o relato de diferenças salariais entre homens e mulheres e o diálogo público estão levando os executivos a perceberem como essa mudança é necessária.  Não é à toa que muitas empresas estão delegando metade dos cargos de liderança (diretoria e cargos acima) para mulheres.

A presença feminina no poder segue o exemplo mundial e, nesse momento delicado de pandemia, elas ganharam destaque na mídia e nas redes sociais pelas medidas colocadas em prática para combater a atual crise global de saúde, a exemplo da Noruega.

A presença da mulher na liderança traz diversidade à tomada de decisões, com características peculiares de empatia e colaboração, tão importantes nesse momento.

A capacidade de a mulher lidar com as adversidades também será retratada no livro ‘Mulheres incríveis e suas histórias de superação’, que será lançado em breve pela editora Império, no qual tive o prazer de ser uma das coautoras com mais 19 mulheres com histórias incríveis de superação. A obra, com prefácio escrito por Luíza Helena Trajano, chega em um momento crítico, com o objetivo de inspirar outras mulheres que de alguma forma estão sendo afetadas pela pandemia, seja em questões pessoais, profissionais ou financeiras.

A ideia é que, ao compartilharmos nossas histórias, possamos fortalecer as mulheres e mostrar que é possível vencer desafios e obstáculos. Hoje, conseguimos definir qual é o nosso papel na sociedade e na liderança em todos os sentidos. Agora, é preciso união para que essa corrente fique cada vez mais forte e alcance o patamar de fato merecido por todas.

*Advogada, LLM em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, especialista em privacidade e proteção de dados pessoais, membro da Associação Nacional de Advogados(as) do Direito Digital (ANADD) e Co-founder LGPD Learning.