O problema está além da Comunicação, a não ser que queiram apenas uma nova embalagem
Jessé Souza*
Quando um governo não caminha bem sempre surge aqueles que logo culpam a Comunicação. Geralmente, os que fazem essa leitura são os que querem ganhar alguma vantagem dentro desse grande bolo movimentado pelo mercado publicitário.
Foi assim com o então governo Suely Campos, o pior de todos os tempos, que foi ruim não porque deixou de ter uma boa Comunicação, mas porque era ruim mesmo dentro de sua incompetência e, por fim, dos escândalos que cercaram aquela administração revelados por operações da Polícia Federal.
Agora ocorre o mesmo com o governo de Antonio Denarium (sem partido), cujos analistas de plantão jogaram a culpa na Comunicação. E os argumentos são exatamente os mesmos: “Temos obras por todos os cantos, mas isso não chega ao conhecimento do povo”. Joga no Google que possivelmente essa frase irá aparecer como análise de governos anteriores.
Verdade que a política vive de faturar politicamente por meio da propaganda e do marketing. Mas há de se lembrar que, quanto mais o produto é ruim, mais ele precisa de propaganda. Os produtos bons precisam apenas de um reforço publicitário, e não o inverso.
O fato é que o governo Denarium surgiu de uma grande expectativa de mudanças da “velha política” que sempre comandou o Estado. Mas não tardou para escorregar para dentro das antigas práticas de lotear o governo, optar pelos grandes produtores (sem investir nos pequenos) e não cumprir a promessa inicial de realizar uma auditoria para revelar a caixa-preta com os meandros do Estado.
A pandemia tão somente complicou o que já vinha ruim na saúde pública, setor que se tornou um grande problema para os governantes brasileiros em todos os níveis, apesar de prefeitos prefeitas tentarem se eximir de suas culpas e escamotear a importância do atendimento primário. E a saúde precisa ser prioridade absoluta.
Será preciso muito mais que propaganda e marketing para mudar a visão que o povo tem desse governo. Precisa de uma reinvenção política diante do último factoide, que foi a “lei do garimpo”, uma cartada errada que não emplacou por grave vício constitucional.
A campanha eleitoral passada, quando Denarium acreditou que iria ser o grande ator, foi um desastre político não só por causa do “caso da cueca”, mas porque as pessoas votaram nele justamente para que fizesse o inverso, que era não rifar o governo para os antigos grupos políticos. Porque o eleitor está cansado de saber o que isso representa.
A não ser que os novos estrategistas estejam pensando isso mesmo: pegar o produto ruim para fazer uma nova embalagem mais bonita, com mais propaganda, para tentar vender um “produto” que parece novo. Mas que se trata tão somente do “mais do mesmo”.
Porque, analisando bem, parece impensável que surja um novo governo diante do que se tem aí. Essa conversa de que o governo caminha para sanear suas contas, realizar obras importantes e fazer o Estado melhorar, com as pessoas felizes, também parece uma promessa repetida de governos anteriores.
Só faltará completar o velho jargão: “Estamos no caminho certo. Só precisamos de mais quatro anos”.
Mas, independente de qualquer análise, o povo torce para que realmente os governos, em todos os níveis, se reiventem e acertem diante do quadro de catástrofe pelo qual estamos passando. E o Estado de Roraima precisa muito desse acerto. Porque a situação é crítica, periclitante.
*Colunista