Uma denúncia gravíssima que precisa ser bem esclarecida
Jessé Souza*
Trecho do vídeo de uma reunião ministerial realizada no dia 22 de abril do ano passado, com a presença do presidente Jair Bolsonaro (sem paritido), mas que só veio a público agora, aparece a ministra da Mulher, Damares Alves, fazendo uma grave denúncia que precisa ser muito bem esclarecida.
Sem dar muitos detalhes, Damares comenta sobre o seu real motivo da vinda a Roraima e ao Amazonas, naquele período, que seria apurar a gravíssima denúncia de que “estariam contaminando criminosamente índios para prejudicar diretamente o presidente Jair Bolsonaro”.
Disse a ministra, no vídeo: “Recebemos a notícia que haveria contaminação criminosa em Roraima e Amazonas, de propósito, para dizimar aldeias e povos inteiros para colocar nas costas do presidente Bolsonaro. Eu tive que ir pra lá com o presidente da Funai, me reuni com generais da região e o superintendente da Polícia Federal, pra fazer uma ação meio que sigilosa. Porque eles precisavam matar mais índios pra dizer que nossa política não estava dando certo”.
Trata-se da fala de uma ministra, que tem fé pública. Mas há um porém: é de conhecimento público também que este governo não só fabrica como alimenta fake news, notícias falsas lançadas estrategicamente para a opinião pública visando angariar apoiar a este governo por meio do viés ideológico.
No entanto, é necessário que o governo explique a verdade dos fatos e traga a público o que realmente ocorreu com essa investigação sigilosa, se realmente houve algum movimento orquestrado para praticar genocídio dos povos indígenas com o propósito de lançar culpa em Bolsonaro. Ou se foi só um alarme falso, ou mesmo mais uma fake news visando conturbar o cenário político.
A única verdade, bem explícita e que nem precisa de investigação sigilosa, é que a única contaminação praticada contra os índios, em larga escala, é o uso de mercúrio em busca de ouro nas terras indígenas, o qual é descartado no leito dos rios, contaminando não apenas a água como também os peixes, que é um dos principais alimentos da população de Roraima e Amazonas.
Inclusive, o governador Antonio Denarium (sem partido) não só incentiva a garimpagem como sancionou a “lei do garimpo” que regularizava a mineração em terras estaduais e com o uso do mercúrio. Como se tratava de uma lei eivada de inconstitucionalidades, o Supremo Tribunal Federal não tardou para suspendê-la.
A invasão garimpeira é, de fato, o maior risco para a sobrevivência dos povos indígenas e também para o futuro imediato do Estado, conforme foi tratado em antigos anteriores nesta Coluna, um deles publicados na edição de ontem, que comenta sobre a ação criminosa praticada contra o Rio Mucajaí.
Já que a ministra veio aqui e não tomou conhecimento desse grave problema provocado pelo garimpo, então que Damares venha a público a fim de explicar que atentado foi esse aos povos indígenas, que visou praticar uma matança somente para culpar Bolsonaro. Quem são essas pessoas? De que forma seria essa contaminação? Que providências foram tomadas? Alguém foi responsabilizado?
A grave denúncia não poder ficar “por isso mesmo”. É necessário que as autoridades apurem e cobrem o resultado dessa investigação sigilosa. Se foi apenas mais uma fake news, então que os responsáveis sejam chamados à responsabilidade, porque também é um atentado usar os povos indígenas para fazer apologia a um governo.
*Colunista