Jessé Souza

JESSE SOUZA 11726

Um vergonhoso revés histórico que se repete um século depois

Jessé Souza*

Já não há mais dúvida de que somente a vacinação em massa conterá o avanço do coronavírus no país. Depois de sofrer pressões de empresários e dos líderes do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já defende a vacina e até anunciou que irá se imunizar.

O comportamento de Bolsonaro e de seus ministros mais fiéis, que se colocaram contra a vacina, fez o Brasil perder a oportunidade de ser um exemplo para o mundo , uma vez que a medicina no país havia avançado sobremaneira, permitindo ao país ter uma das melhores logísticas do mundo para a vacinação em massa.

Mas a chegada do negacionismo, com ataques à ciência e cortes de recursos para bolsas e pesquisas, culminou com a triste realidade de um país que ficou para trás na questão da vacina. O impressionante é que esse revés não é nenhuma novidade na História do Brasil.

O início da história da vacina, no país, foi traumático com a chamada Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, em 1904, logo após a aprovação da Lei da Vacina Obrigatória, em 31 de outubro daquele ano. Diante da iminência de um pandemia, o governo brasileiro decidiu  imunizar a população contra a varíola, mas encontrou um povo bombardeado por uma desinformação arquitetada e generalizada.

As pessoas ficaram aterrorizadas com as fake news da época que pregavam efeitos terríveis da injeção, cujos boatos davam conta de que as mulheres receberiam a dose da vacina em suas partes íntimas. Imagina a consequência disso no início daquele século. Houve uma rebelião que deixou um saldo de 50 mortos e 110 feridos.

Quase 120 anos depois, com a retomada do negacionismo, que ressuscitou não apenas a possibilidade de uma terra plana, mas também uma mentalidade quadrada de boa parte da população suscetível a quelquer fake news e teorias conspiratórias, inclusive com viés ideológico e religioso, a ponto de acreditarem que a vacina pode transformar as pessoas em jacaré ou que irá implantar um chip do capeta no corpo da pessoa.

A consequência disso é que a população brasileira está pagando um preço muito caro por isso, com milhares de vidas perdidas e que poderia ter sido salvas, além de medidas restritivas traumáticas que empurram a economia para um fosso que deixa os pobres mais pobres ainda.

Os pequenos são os mais prejudicados, uma vez que não têm lastro suficiente para “ficar em casa”, especialmente trabalhadores assalariados, autônomos e pequenos empreendedores (enquanto o Sebrae fica no seu confortável casulo, homenageando políticos que igualmente se trancam nas suas bolhas).

Já poderíamos estar em situação mais confortável, com as pessoas retomando suas vidas, o comércio se refazendo do revés pós-pandemia e com a economia voltando ao seu eixo. Mas negaram e combateram a ciência, colocando a vacina como inimiga, e não como única forma de salvar vidas e devolver a tranquilidade a uma nação.

E quem vai pagar por tudo isso? Somente as famílias que nem tiveram tempo de se despedir de seus entes queridos e as pessoas que foram empurradas para degraus mais abaixo da pobreza. Porque os políticos sempre dão um jeito de se safar, inclusive com o voto dessas mesmas pessoas que hoje choram.

Bolsonaro, inclusive, já mudou de discurso, e anda dizendo que defende a vacina desde criancinha…