Novos bilionários, mais miseráveis e os 4 mil cadávares diários
Jessé Souza*
Não há muito o que esperar de um país que foi o último a libertar os escravos no mundo e onde a classe política esteve sempre a serviço dos donos do capital. A aprovação do Projeto de Lei 948 pelo Senado e pela Câmara é um desses absurdos que nem surpreende mais sequer setores da imprensa.
Para quem ainda não está atualizado, o PL 948 permite a iniciativa privada comprar vacinas, ou seja, autoriza oficialmente os mais ricos a furarem a fila da vacina do Sistema Único de Saúde (SUS) sob o argumento que estarão imunizando a classe trabalhadora.
Se bobear, ainda será o Governo Federal que irá financiar a compra dessas vacinas para as grandes corporações, as quais depois irão dar o calote nos cofres públicos para serem perdoados lá na frente por um desses perdões concedidos a grandes empresários e a igrejas evangélicas.
Está tudo dentro do script de um Brasil em que políticos protegem os barões do capital. No mesmo momento em que o Congresso aprova o projeto do “fura-fila da vacina”, a Forbes publicou que o Brasil em 11 novos bilionários em seu ranking mundial.
Na verdade, são 30 brasileiros entre as pessoas mais ricas do mundo, sendo que estes 11 são novos na lista em plena pandemia. Enquanto isso, esse mesmo Brasil tem quase 52 milhões de pessoas na pobreza e 13,5 milhões na extrema pobreza.
Enquanto as pessoas ficam mais pobres durante a pandemia e os ricos ficam mais ricos, o estudo “Concentração de Riquezas no Brasil”, publicada em fevereiro, aponta que mais de R$650 bilhões em impostos deixaram de ser pagos pelas classes mais ricas, entre 2007 e 2018 por conta da regressividade das alíquotas sobre os ganhos para as altas rendas.
O mesmo estudo conclui que esta acumulação de riqueza ocorre, em parte, por uma ineficiência da tributação sobre a renda em capturar uma parcela dos altos rendimentos e, também, por uma baixa tributação sobres as grandes heranças e doações.
No país de novos bilionários e dos mais ricos furando a fila da vacina do SUS, o Governo Federal reduziu bruscamente o valor do auxílio emergencial de R$600,00 para R$150,00, ao mesmo tempo em que congelou reajuste salarial e outros benefícios dos servidores públicos em todos os níveis.
São cifras que passam por cima de 4 mil novos cadávares por dia, vítimas do coronavírus, conforme foi previsto por esta coluna, na edição de ontem. Os novos bilionários não têm do que reclamar do Brasil. O mesmo não se pode dizer de pequenos empreendedores, autônomos e outros trabalhadores que estão perdendo o emprego diariamente.
Não há mais nada a ser dito. Apenas pedir um minuto de silêncio e consternação depois de encerrar a leitura desta artigo…
*Colunista