Cotidiano

Mulheres contam como foi o difícil dilema de encarar o câncer de mama

Mesmo diante dos obstáculos, para as pacientes, a fé em Deus e o apoio da família ajudaram a superar a doença

Mesmo com o fim do “Outubro Rosa”, a conscientização e o cuidado com o corpo, em especial o da mulher, devem continuar acontecendo em todos os meses do ano. As histórias de vida da aposentada Olga Barbosa e da empresária Soraia Carvalho mostram que não há data para descobrir e vencer o câncer de mama, doença responsável por tirar a vida de oito a dez cada mulheres no País.

Roraimense de nascimento, a aposentada Olga Barbosa, de 52 anos, sempre procurou manter o espírito de otimismo, mesmo diante dos vários obstáculos da vida. Com o câncer de mama, tudo começou no ano 2003, quando resolveu fazer o autoexame das mamas durante o banho.

“Quando vi que tinha algo de errado, eu procurei o Dr. Adonis Rocha, da Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC). Ele fez os exames e logo constatou que eu estava com câncer de mama. No início, a gente fica impactada, mas, desde muito nova, sempre fui muito decidida. Então, decidi que era o momento de fazer algo”, contou.

No ano seguinte, Olga iniciou o tratamento contra a doença e, assim como muitas pacientes oncológicas ouvidas pela Folha, precisou sair do Estado para lutar pela vida. Segundo ela, essa não foi uma tarefa fácil, mas a vontade de viver acabou falando ainda mais alto.

“Fiz todo o tratamento pela Fundação Cecon (Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas), porque aqui em Roraima ainda não era possível fazer todos os procedimentos. Nesse tempo, a Liga quase não tinha recurso, mas, mesmo assim, com empenho e dedicação, eles conseguiram me colocar em uma casa de aluguel que ficava próxima desse centro. Chegando lá, o médico aconselhou que eu retirasse a mama. Não vou mentir! Isso mexe muito com o psicológico de uma mulher. No entanto, falei a ele que se essa era a única maneira de me curar, que teria a minha permissão”, destacou.

No estado vizinho, a aposentada fez todos os procedimentos pertinentes ao tratamento do câncer, das sessões de quimioterapia e radioterapia, às cirurgias de retirada de tumor e reconstituição da mama. Mesmo estando sozinha, em um local totalmente oposto à sua realidade, ela encontrou consolo na fé para superar os obstáculos da vida.

“A gente que é origem humilde sabe que as coisas só são conquistadas com honestidade e muita determinação. Não tinha como ter apoio da família próxima de mim, mas meu marido e meus filhos torceram por mim até o fim. Tive muitos problemas, e nesse período de tratamento perdi um dos meus cinco filhos, mas mesmo assim busquei consolo na fé. Qualquer enfermidade que aparecer, você tem que primeiramente procurar a Deus. Tendo fé, e acreditando no milagre, consegue-se tudo. Você nunca deve dizer que está doente e que isso vai te derrotar, mas sim dizer para si que Deus vai te curar. Assim foi o meu caso”, salientou.

Assim como Olga Barbosa, o câncer de mama também mudou a vida da empresária Soraia Carvalho, de 47 anos. Natural do estado do Amazonas, ela é casada e mãe de três filhos. Sua trajetória de vida chama a atenção pelo amor depositado em todas as atividades que faz e no cuidado com a família.

Foi no ano de 2014 que empresária descobriu que era portadora do câncer de mama, e assim como muitas mulheres que passaram pelo drama, a aceitação não foi nada fácil.

“No ano passado, eu senti um nódulo do meu seio e achei aquilo muito estranho. De imediato, procurei o meu médico e fiz um ultrassom. Ele me tranquilizou dizendo que era apenas uma suspeita, mas eu não estava tranquila. Fiz a mamografia em clínica particular porque pelo SUS a consulta sairia apenas três meses depois. Feito os exames, levei ao médico novamente e ele solicitou a biópsia. Fiz a biopsia e aguardei alguns dias. Quando vieram os resultados, ele [doutor] não tinha vaga para a consulta. Peguei o resultado do exame e decidi fazer uma pesquisa na internet, foi quando soube que era um câncer. Eu tive um choque muito grande”, contou.

Mesmo diante de um grande dilema, Soraia disse que não se entregaria tão fácil à doença. Era hora de correr contra o tempo e buscar forças na família e nos amigos que conquistou ao longo de 21 anos em Roraima

“Costumo falar que naquele dia eu morri um pouco, porque não é fácil receber um diagnóstico positivo de câncer. E como na minha família não havia ninguém que tinha passado por isso, a gente se pergunta o que aconteceu para que a doença aparecesse. Mas eu acredito que esse problema veio por algum tipo de propósito, para que eu me fortalecesse como pessoa. No meu caso, como descobri muito cedo, o sofrimento não foi tão longo. Pior seria se tivesse deixado aquilo ir mais adiante, e provavelmente não estaria contando o que aconteceu comigo, de como superei isso”, destacou.

Com exceção das sessões de radioterapia, que foram feitas em Porto Velho (RO), os demais procedimentos foram realizados em Roraima. A cirurgia de retirada da mama foi realizada no Hospital da Mulher e a quimioterapia, na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia de Roraima (Unacon), no HGR. Um processo doloroso, mas que serviu de exemplo para que ela mudasse radicalmente de vida.

“Levei os meus exames para o meu médico e ele disse que eu teria que fazer a mastectomia radical. Foi mais um choque. No mesmo dia que eu fiz a cirurgia de retirada da mama, era para ter feito a reconstrução. Porém, poderia afetar nas minhas sessões de radioterapia, procedimento que não pode ser feito com a prótese mamária. Então, primeiro fizemos a cirurgia, depois, o tratamento todo, para depois pensar na reconstrução da mama. É difícil sim, pois mexe com a vaidade da mulher, mas eu queria viver, me livrar do câncer, e assim o fiz”, frisou.

Hoje a empresária mantém uma peregrinação diária, com consultas médicas e medicamentos. A alimentação também mudou, passando a investir em produtos mais saudáveis para a saúde. “A primeira coisa que eu fiz foi cortar a carne vermelha. Consumo mais carne branca, que é mais saudável e passei a ingerir mais frutas e legumes. Antes eu não tinha esse cuidado, depois que passei por isso foi que vi que alimentação é fundamental. Consulto-me regularmente com o meu médico e a medicação é essencial no período de sete anos. Passei a ter uma melhora em qualidade de vida depois disso”, salientou.

“Meu conselho é para que as mulheres se conheçam melhor. Notando algo de diferente em seu corpo, procure ajuda médica. Nunca ache que você perderá a batalha. Tem que ter fé, porque quanto mais cedo o diagnóstico, mais altas são as chances de vencer o câncer”, finalizou. (M.L)