Jessé Souza

JESSE SOUZA 11755

Ação social é importante neste momento, mas há outras demandas urgentes

Jessé Souza*

Um vídeo institucional produzido pelo Governo do Estado sobre asfaltamento de estradas, que está sendo divulgado antes da visita do governador Antonio Denarium (sem partido) ao Município do Amajari, começa mal. A propaganda governamental diz que a estrada para a Serra do Tepequém estaria “um tapete”.

Não é verdade. Esse ainda continua sendo o sonho não apenas de quem mora e empreende naquela localidade, mas também de turistas que querem desfrutar das belezas naturais da região sem passar por transtornos, prejuízos e sustos. O asfaltamento começou, mas está longe de se tornar “um tapete”.

O que foi feito, até agora, foram alguns poucos quiolômetros de asfalto e uma operação tapa-buraco provisória, com barro, para aliviar a buraqueira. Com as chuvas rigorosas que começaram a cair, é bem provável que essas crateras já tenham reaparecido. Seria bom que o governador veja isso durante sua visita a região, marcada para hoje, quando ele pretende distribuir cestas básicas em Tepequém.

As obras de asfaltamento seguem a passos lentos e, com toda certeza, devem ser paralisadas devido às chuvas. E serão vários meses de espera e sofrimento especialmente para os moradores, que precisam se deslocar por aquela estrada constantemente. É necessário que o governo acompanhe esta questão e mantenha a população informada, pois o asfaltamento é uma reivindicação coletiva.

Já que o governador irá a Tepequém, que ele não fique apenas nessa ação social, mas que também aproveite para conhecer a nova diretoria da

Associação dos Moradores da Serra do Tepequém (Adsmote), eleita e empossada no mês passado, após vários anos desativada. Essa entidade tem em suas mãos as mais importantes reivindicações da comunidade e dos empreendedores do turismo.

A estrada é uma dívida de governo desde as administrações anteriores, mas há outras demandas importantes para o fortalecimento e desenvolvimento do turismo, bem como para o bem-estar das pessoas que lá moram e que dependem das atividades turísticas como principal fonte de geração de emprego e renda.

A questão fundiária continua num grande impasse e incerteza, e esse governo precisa cumprir as promessas feitas anteriormente com prioridade, pois somente a regularização irá garantir tranquilidade das famílias e a garantia de que os empreendedores poderão investir sem receios.

O governo também precisa dar as mãos à associação dos moradores nas demais questões, como o sério problema no sistema de geração e distribuição de energia, na falta de uma operadora de telefonia celular (o que é uma vergonha para um ponto turístico consolidado), na urgente demanda de esgoto sanitário e outras questões, como a construção de um planejamento estratégico para o turismo.

Não é mais admissível que seguidos governos ignorem o principal ponto turístico consolidado de Roraima, que atrai milhares turistas não só locais, mas de outros estados, com destaque para o Amazonas. Para se ter uma ideia do desprezo com Tepequém, sequer a Prefeitura consegue manter a iluminação pública em meia dúzia de ruas habitadas, nem mesmo na rua principal, que é a única asfaltada.

Até agora, a única realidade são as duras restrições adotadas devido à pandemia que atingiram em cheio aquele ponto turístico, para desespero de quem vive exclusivamente do turismo, especialmente os mais pobres, como condutores locais e pessoas que vivem de diárias que surgem a partir das demandas das atividades turísticas.

Que esta visita do governador sirva para dialogar com os novos representantes da comunidade e, partir desse contato, o governo assuma verdadeiramente o compromisso de investir no turismo e garantir a segurança que os moradores sempre almejaram. Cestas básicas certamente são importantes nesse momento de restrições que atingem os mais pobres. Mas é preciso muito mais.

É necessária uma vontade política para dar à Serra do Tepequém a devida importância que ela representa como um atividade econômica alternativa em tempos de crise e escassez de emprego. E que essa prática não se resuma àquela região, mas que se estenda a todas atividades turísticas de outras regiões do Estado, que há tempos mostram viabilidade sem qualquer ajuda governamental, ignoradas por essa política que despreza o turismo.

*Colunista