Jessé Souza

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Uma luz sobre esse governo que elege cesta básica e estradas

Jessé Souza*

A agenda de visita do governador Antonio Denarium (sem partido) ao Município do Amajari, Norte do Estado, no fim de semana passado, acabou por dar uma luz sobre quais as verdadeiras intenções políticas desse governo, neste momento crítico em nível nacional em que os ricos estão ficando mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Denarium foi distribuir cestas básicas, acompanhado de sua base aliada e prestigiando os grupos das regiões visitadas a fim de agregar apoio partidário, o que indica um programa social como ponta de lança de sua administração, o que sempre alavanca popularidades, como ocorreu com o governo Bolsonaro (sem partido) a partir do auxílio emergencial.

Foi assim com o “vale alimentação” do passado, quando aquele benefício social distribuído sem critérios rígidos foi decisivo não apenas para eleger candidatos, mas também para cassação de um governador, já que esse tipo de assistencialismo foi usado para comprar votos desbragadamente.

Há de ser lembrado que, nas eleições municipais passadas, surgiu a tentativa de cadastrar beneficiários em plena campanha eleitoral, quando uma fatia grande do governo foi concedida a um grupo que acabou naufragando nas urnas, especialmente depois do “escândalo da cueca”. Falhou também porque houve denúncias que resultaram em ações da Polícia Federal nesses locais de cadastramento.

Agora parece algo arquitetado para Denarium tentar surfar nessa onda depois de quase três anos de um governo confuso, sem comando definido diante do fatiamento em busca de apoio partidário e governabilidade. Enquanto isso, não se vê medidas realmente efetivas diante de um cenário nacional de crise profunda.

Denarium aposta também em asfaltamento e recuperação de estradas e pontes, mas não somente porque os pequenos produtores necessitam, mas porque grandes fazendeiros estão se estabelecendo nessas regiões, no grande compadrio político e econômico que já é de conhecimento público.

É preciso levar em consideração que o mundo vive um boom das commodities, especialmente soja, em que esses grandes produtores precisam de mais estrutura para continuarem faturando alto. E isso precisa ser transformado em distribuição de renda para o povo, pois os cofres públicos não conseguem manter os benefícios sociais por muito tempo.

Não se vê políticos falando em reformas econômica e tributária, que é imprescindível para o brasileiro sair desse buraco, especialmente pós pandemia. Se o tamanho e o peso do Estado não forem reduzidos para o povo, somente os ricos continuarão ficando mais ricos, enquanto sequer restarão benefícios sociais e distribuição de cesta básica, pois os cofres não irão suportar isso por muito tempo.

Tudo levar a crer que Denarium partiu para uma antiga fórmula, já que ele decidiu estar com os políticos do passado comandando seu governo. A distribuição de cesta básica, um paliativo com dias contados, é uma velha prática que sempre funciona, mas os teóricos não estão levando em conta que foi construída uma nova realidade na Capital e em todos os municípios.

Esta nova realidade precisa levar em conta os imigrantes venezuelanos, uns já habituados ao assistencialismo, boa parte em situação mesmo de vulnerabilidade e uns que já estão no crime, cuja tendência é a violência crescer. Basta consultar um Uber para ver quais regiões da Capital eles recusam corridas, a exemplo do bairro 13 de Setembro, por medo da violência.

A tática de colocar o maior número de pessoas na fila do assistencialismo sequer consegue resistir a esta realidade da imigração. Sem contar que os venezuelanos não votam, o que significa um obstáculo para os planos de quem usa esses programas sociais como bandeira eleitoral.

Será necessário muito mais que programas sociais. E tudo pode piorar se o Governo Federal decidir não mais fazer sua parte com a Operação Acolhida. E vai piorar ainda mais quando as fronteiras forem reabertas depois das restrições pós pandemia.

Estamos em um momento crucial para o Estado de Roraima, em que paliativos podem até resolver momentaneamente alguns problemas, especialmente com relação aos mais pobres. Mas só irá adiar que a bomba exploda lá na frente, em um curto espaço de tempo. Será preciso muito mais que cestas básicas e reformas de estradas.

Talvez por isso a propaganda seja a outra parte desse projeto, como esta coluna já tratou anteriormente.

*Colunista