Vivemos uma letargia ou é uma necropolítica em execução
Jessé Souza*
As articulações políticas visando já as próximas eleições gerais estão intensas não apenas nos bastidores, mas nas movimentações públicas dos pretensos candidatos. É lastimável que, enquanto o Estado de Roraima passa por sérios problemas, pouco se vê interesse de parlamentares tentando resolvê-los.
É fato que na política partidária é natural que existam esse jogo de interesses partidários e as articulações visando não só a governabilidade, mas também pensando na conquista do voto, que é a essência da política, por meio do qual o cidadão expressa seus anseios por uma sociedade melhor.
Mas essas movimentações visando apenas o voto não pode se tornar um joguete acima do interesse coletivo. Quem acompanha a política local percebeu que, nessas duas últimas semanas, o que se viu em nível estadual foram operação policial batendo à porta de gabinete parlamentar, jogo de interesses partidários e quase zero de discussão dos problemas que afligem o roraimense.
No parlamento, escapou o discurso de um parlamentar estadual falando do problema energético que castiga o roraimense devido ao preço altíssimo da tarifa para um serviço prestado ao consumidor de péssima qualidade. Além de uma empresa que não está preocupada com isso, inclusive sequer respeitou uma lei estadual, confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que proíbe o corte de energia enquanto perdurarem os decretos restritivos devido à pandemia do coronavírus.
Dentro desse contexto, a Assembleia Legislativa do Estado (ALE) tem a CPI da Energia que se perdeu pelo meio do caminho e não representa mais qualquer esperança, enquanto se arrasta o processo para liberar a construção do Linhão de Tucuruí, que por si só não representará autonomia energética de Roraima por muito tempo, mas será um alento para a população deixar de ser refém do atual problema.
O Estado de Roraima deverá ser duramente afetado com a não realização do Censo 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo levantamento que seria realizado este ano foi cancelado devido ao corte no Orçamento. É o golpe fatal que atingirá a destinação de transferência de recursos para o Estado e municípios, os quais veem aumentar a população com a chegada de imigrantes não só venezuelanos, mas também haitianos que vieram para ficar definitivamente.
Estamos vendo uma letargia por parte de nossos representantes que não estão empenhados como deveriam nestas questões importantes, problemas estes que foram ampliados com a crise provocada pela pandemia. Olhando apenas para os interesses da viabilização de suas pretensas candidaturas, o Estado perde tempo nas discussões sobre o que realmente interessa para resolver as grandes questões.
Como não há um pacto em favor de Roraima, nenhuma agenda organizada suprapartidária, esses problemas só se ampliam enquanto os políticos já começam a antecipar o embate eleitoral, não se importando para o momento crítico pelo qual estamos vivendo. Porque não se pode esperar mais nada por parte do Governo Federal, como foi prometido pelo então candidato a presidente que chamava Roraima de “a menina de seus olhos”.
E o que está ruim pode piorar ainda mais, caso o governo realmente corte a verba para a Operação Acolhida, ação esta que tem amenizado o impacto da migração em massa de venezuelanos. Se os políticos não estiverem realmente se importando com o andamento desta questão, a tendência é chegarmos a um momento muito crítico, jamais visto e vivido pelos roraimenses.
Apesar de tudo que o Estado já passou, com crises temporárias, a exemplo do atraso de pagamento do funcionalismo público, como ocorreu no governo anterior, os problemas foram superados, mas graças ao apoio do Governo Federal. Se não houver um plano B, cujas forças políticas locais possam apontar e criar soluções, aí entraremos realmente neste fundo do poço, enquanto os políticos pensam apenas em suas candidaturas.
A não ser que os políticos estejam querendo que tudo fique assim mesmo e até piore, não apenas uma letargia qualquer, mas uma necropolítica do “quanto pior, melhor”, a qual foi elevada a sua última potência com a chegada da pandemia, para depois os políticos se apresentarem como a solução, conforme sempre vimos na política.
Aí teremos que nos preparar para o pior.
*Colunista