AVENIDA PARTEIRA PATROCÍNIA LEITE
– Em 50 anos de trabalho realizou mais de 1000 partos –
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As parteiras tradicionais são profissionais paramédicas que se dedicam ao ofício de assistir à mulher na hora do parto. Nem todas cursaram uma faculdade com curso na área de enfermagem , mas possuem conhecimento prático sobre a arte de amparar a futura mamãe e o bebê no momento do nascimento, prestando-lhes cuidado e dedicação.
O saber das parteiras está guardado na memória e nas histórias que são contadas, e repassadas, geralmente de mãe para filha. E, quando falam da chegada de cada criança que elas ajudam a nascer, contam este fato com pura alegria e fazem deste trabalho um momento marcante em suas vidas. Além do mais, a Parteira contribui para a formação do vínculo de amor entre a mãe e o recém-nascido.
Domingo passado, dia 09 de maio, comemorou-se o “Dia das Mães”. E, hoje, até como deferência a quem ajuda tantas mães, homenageio uma Parteira.
Escrevo aqui um resumo da vida da parteira Patrocínia Pereira da Silva Leite, que durante 50 anos nesta função, atendendo na capital e no interior, realizou mais de 1.000 partos.
Sua primeira experiência ocorreu quando ela tinha apenas 13 anos de idade. Um dia ela estava na casa da sua tia Nazaré, no Uiramutã, quando foi chamada às pressas para ir até ao quarto da casa. Lá estava sua tia Nazaré prestes a ter um bebê, mas a parteira ainda não havia chegado. E, dada à situação, a sua tia pediu que ela lhe ajudasse. O parto foi um sucesso. Daí em diante, a Patrocínia tomou gosto pelo trabalho, e não parou mais de fazer partos.
Patrocínia da Silva Pereira nasceu no dia 02/11/1915, e era filha de Severino Mineiro (Severino Pereira da Silva), fundador do Uiramutã e defensor da fronteira Norte, que era casado com a índia Macuxi Maria Pereira, conhecida como Semari.
Em 1933, numa viagem que a Patrocínia fez com seu pai Severino Mineiro à “Fazenda São Luis”, de propriedade do senhor José Leite, ela conheceu o jovem Francisco Leite Pereira (Chico Leite) que era filho do proprietário da fazenda. Iniciava-se ali um namoro que chegaria ao casamento no dia 11/05/1935, realizado pelo Bispo D. Alcuino Meyer.
O casal Patrocínia e Chico Leite teve 15 filhos: Ozair, Ariston, Gêminos, Francisco Isbernon; Luiz Wanderlan, Sílvio, Josefa, Raimunda, Maria de Jesus, Maria Nazaré, Rosália, Maria Dorotéia (dona Morena), Maria Jalva, Maria Wanda e Maria dos Santos.
Tempos depois, a família veio para Boa Vista e o Chico Leite comprou uma casa na Rua Barão do Rio Branco, 158, ao lado da Praça da Bandeira, no Bairro São Pedro.
A parteira Patrocínia, na sua própria residência, atendia as mulheres grávidas. Algumas vinham para “endireitar” a criança que estava mal encaixada na barriga, outras vinham em busca de um remédio caseiro, entre outros atendimentos.
Em 1946, quando foi inaugurada a primeira Maternidade de Boa Vista, que à época tinha o nome de “Divisão de Assistência à Maternidade e à Infância – DAMI” –, ali na Rua Coronel Pinto – Centro-, onde hoje funciona a SEPLAN (Secretaria Estadual de Planejamento)-, a Parteira Patrocínia era quase sempre convidada pelo médico Silvio Lofego Botelho que gostava de ouvir sua opinião sobre as condições da mulher que estava na mesa do parto.
Em alguns casos, a criança estava atravessada, outras vezes estava mal encaixada na barriga da mãe, enfim, quando acontecia algo assim, a Parteira Patrocínia era chamada para “solucionar o problema”, haja vista que ela tinha 50 anos de experiência só fazendo parto.
Mas, admirável mesmo era o amor e a paixão entre Patrocínia e o marido Chico Leite. A união durou exatamente: 67 anos, 1 mês e 17 dias, quando Patrocínia veio a falecer no dia 28/06/2002, aos 86 anos de idade, no Hospital Geral de Roraima.
Em sua homenagem, a Câmara Municipal aprovou a redenominação da antiga Avenida S-41, no Bairro Senador Hélio Campos, para: “Avenida Parteira Patrocínia Leite”, conforme Lei nº 810/05, de 19/09/2005, publicada no Diário Oficial do Município de Boa Vista, nº 1573, de 27/09/2005.
Quanto ao marido, Francisco Pereira Leite (Chico leite), nasceu em 11/08/1915, na cidade de campo maior, no Piauí. Era filho do casal José Leite Pereira e Josepha de Alcântara Leite.
Devido à grande seca que se abateu no nordeste, a família saiu do interior do Piauí e foi para a capital Terezina. De lá vieram para Manaus e, de lancho boeira, chegou à boa Vista no dia 15/09/20.
A família trabalhou inicialmente na fazenda “Rosa branca”, no baixo rio Parimé de J.G. de Araújo, e depois na fazenda “Caranguejo”, do Sr. João Capistrano da Silva Mota (o coronel Mota) na margem esquerda do rio cotingo. Como não havia salário, o pagamento era em forma de “Quarto” de cada 4 bezerros nascidos, 1 pertencia ao vaqueiro que cuidava do gado, a família de Francisco Leite, em 6 anos e 8 meses de trabalho para o Coronel Mota, saiu com 800 cabeças de gado. Depois disso fundaram a “Fazenda Vista Geral “, no alto rio Cotingo.
O próprio Chico Leite, ao casar-se com a parteira Patrocínia, tinha a sua fazenda a “Nascente”, no alto rio Maú, e ali moraram por 55 anos. Depois vieram para Boa Vista, onde fixaram residência próxima a dos filhos que já estavam morando na cidade.
Francisco Pereira Leite (Chico leite) nasceu em 11/08/1915 e faleceu no dia 13/06/2016, prestes a completar 101 anos de idade.