O país não pode tergiversar com o crime que se organiza nos garimpos
Jessé Souza*
O cúmulo do absurdo foi a manifestação realizada por garimpeiros, em Boa Vista, na semana passada, em favor da exploração mineral das terras indígenas. No mesmo dia, garimpeiros recebiam policiais federais à bala no Rio Urariocoera, que é a principal rota para a entrada nas frentes garimpeiros em áreas ambientais e indígenas. O Brasil não pode flertar com a ilegalidade. É crime a garimpagem nas terras indígenas, assim também como é ilegal garimpar em qualquer outra área sem que haja uma autorização para a pesquisa e lavra concedida pelo governo brasileiro. Em Roraima, apenas uma única empresa tem essa autorização, mas ela sequer está em atividade. O desemprego é evidente, mas isso não significa uma autorização para que se atue na ilegalidade, cometendo crimes ambientais que ameaçam as populações indígenas e os principais mananciais de água potável que abastecem todo o Estado. Desemprego se combate com políticas de governo, então é dele que se deve cobrar. Não há a mínima possibilidade de se defender garimpagem dentro de terras indígenas, sob qualquer hipótese, sem que a mineração seja regulamentada pelo Congresso Nacional. É crime, E ponto final. Negociar com quem pratica crime só favorece o surgimento de mais crimes organizados. E o garimpo é um crime organizado mantido por quem tem dinheiro. Os garimpeiros trabalhadores também são vítimas dele. Os políticos são responsáveis por fomentar a ação de garimpeiros dentro das terras indígena. Um deputado federal, ao acabar de ser eleito em Roraima, teve como uma de suas primeiras declarações que iria atuar para legalizar o garimpo nas terras indígenas. Até hoje, ele sequer apresentou qualquer proposta neste sentido, o que significa que sua fala serviu apenas para fomentar que garimpeiros se animassem a agir na ilegalidade. O governo não pode tergiversar sobre esta questão. Os últimos conflitos entre garimpeiros x índios, bem como garimpeiros x policiais federais, mostram o que o garimpo ilegal é capaz de fomentar. As frentes de garimpos estão cada vez mais organizadas, inclusive com internet que é decisiva para manter comunicação e ajudar na organização de suas ações para driblar a lei e as autoridades. Ou o governo, com ajuda do Exército, monta uma frente permanente contra a garimpagem ilegal, ou mais um crime organizado irá se instalar dentro das florestas amazônicas em terras indígenas. Já não bastam as favelas do Rio de Janeiro tomadas pelo crime organizado. Agora as favelas de lona que surgem nas frentes garimpeiras na Amazônia são a nova força de um novo crime que se organiza para desafiar o poder constituído. É preciso agir rápido. *Colunista