Um prefeito que reza a cartilha do continuismo político que não aceita oposição
Jessé Souza*
É de conhecimento público que a administração do prefeito Arthur Henrique (MDB) é um continuismo político do grupo emedebista de sua antecessora, a ex-prefeita Teresa Surita, do qual ela já era vice por dois mandatos seguidos. Ele é a peça fundamental para cumprir os planos para as futuras pretenções da ex-prefeita e seu grupo comandado pelo ex-senador Romero Jucá, que também não pensa em outra coisa a não ser voltar ao poder.
Como a atual tampa da panela do grupo, ficou como missão para o prefeito reproduzir todas as antigas táticas que sempre foram utilizadas por seu grupo de não aceitar qualquer tipo de diálogo com representantes da sociedade organizada, qualquer tipo de intervenção em seus planos e principalmente uma oposição na Câmara de Vereadores. Nas últimas legislaturas, o grupo mantinha a maioria dos vereadores nas mãos, aos quais cabiam apenas dizer “amém”.
Na base da política do “eu mando, vocês obedecem”, o grupo comandou a Prefeitura de Boa Vista por um bom período atropelando a reduzida oposição, conduzindo a base aliada na coleira e esnobando qualquer tipo de crítica; ou usando seus “cães de guarda” nas redes sociais para desacreditar qualquer tipo de crítica ou denúncia.
Essa é a tática usada pelo atual prefeito, que desta vez tem a caneta nas mãos, porém conta com uma oposição em maioria, na Câmara, que não aceita as mesmas práticas de baixar a cabeça e abanar o rabinho para tudo o que vem do Executivo municipal. A tática é colocar quaquer tipo de oposição ou crítica como “perseguição ou boicote para prejudicar a população e antigir seu grupo político”.
Já sabemos que o prefeito apenas cumpre uma missão do grupo, sobre a qual ele sequer sabe como irá terminar. Ele só sabe que tem de seguir um script. Mas o que ele está enfrentando, atualmente, é tão somente um jogo normal do regime democrático, em que a Câmara não é uma extensão do Executivo. Os vereadores precisam discutir, debater, alterar, fiscalizar, propor. Foi para isso que eles foram eleitos.
Na administração de Teresa, com Arthur como vice, quem tentou cumprir seu papel como vereador foi não apenas perseguido políticamente, com foi alvo de ataques dos “cães de guarda” nas redes sociais, como também alvo de ação judicial para que fosse cassado. Da mesma forma, teve que recorrer à Justiça para barrar os malfeitos praticados por aquela administração, cujos projetos eram impostos goela abaixo, sem discussão e, pior, sem qualquer transparência para que a sociedade pudesse fiscalizar.
Foi assim com o suposto projeto de mobilidade urbana, com a instalação do estacionamento rotativo pago no Centro da cidade e com os processos licitatórios de todas as obras de praças, todos apresentando algum tipo de suspeita. O principal deles foi o que contratou a empresa paulista Sanepav para executar a limpeza pública e molhar as plantas e flores das praças. É este contrato obscuro que será o alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Lixo.
Como o grupo que comanda Arthur Henrique sabe do grande poder que terá essa CPI de desnudar tudo aquilo que foi mantido sob uma cortina de ferro, os ataques a quem critica ou se opõe estão se intenificando. A sociedade precisa entender o que está ocorrendo, para não deixar ser enganada por campanhas difamatórias ou fake news que visam desacreditar quem tem o papel de fiscalizar.
A Prefeitura de Boa Vista passou por toda a administração passada sem um poder fiscalizatório ou ausente de um papel legislador que impedisse que os recursos municipais não fossem direcionados para o que não é prioridade ou para grandes obras e serviços realizados sem transparência necessária. Até o Ministério Público foi acusado de não ter os mesmos olhares fiscalizatórios para as ações municipais.
Foi um período obscuro para quem clamava por fiscalização e transparência. É o momento agora de resgatar os verdadeiros papéis de quem foi eleito para cuidar da boa aplicação dos recursos públicos. Quem reclama de quem fiscaliza e cobra é quem tem algo a esconder. Sempre foi assim no país da bandalheira geral.
*Colunista