Bem explicadinho o valor de um Legislativo não subserviente
Jessé Souza*
Ficou bem claro, agora, a importância de se ter um Legislativo municipal que não seja subserviente ao Executivo. A Prefeitura de Boa Vista quis emplacar um robusto cabide para abrigar o vice-prefeito e mais 10 assessores, com gordos salários, ao tentar aprovar um projeto criando uma tal de Agência Municipal do Empreendedor (AME).
A AME (que nada tem do verbo amar o povo) daria um salário de R$ 16 mil para o vice-prefeito e mais dez que iriam variar de R$4,5 mil a R$12 mil. É como se estívessemos em grande bonança de um passado em que se esbanjava criação de penduricalhos para fartar aliados e sustentar a fome de quem gosta de dinheiro público sem fazer nada.
Todo esse gordo “guarda-chuva político” só seria possível com a extinção de 83 cargos da Secretaria Municipal de Educação, a exemplo de diretor de unidade escolar, assistente e agente público municipal. Seriam oito dezenas de pais e mães de famílias demitidos para que uma dezena de afortuados ficassem no bem-bom de uma entidade que nem há razão de existir, pois esse papel de cuidar do empreendedor pode muito bem ser feito pelo Sebrae-RR.
Aliás, caladinho está o Sebrae, comandado pela família do grupo da ex-prefeita Teresa Surita e o ex-senador Romero Jucá (ambos do MDB). Talvez esse projeto da AME seja um indicativo de que o Sebrae não está cumprindo com suas obrigações, especialmente neste período crítico em que os pequenos empreendedores passam devido à pandemia. Ou achavam que poderiam empurrar mais esse ônus ao contribuinte boa-vistense?
É por isso que o grupo que comanda a Prefeitura odeia tanto uma Câmara de Vereadores que não seja subserviente. Porque, em outras legislaturas, bastava o prefeito estalar os dedos e mais um cabide de emprego teria sido criado, em vez de se buscar parcerias com o Sebrae, que recebe gordos recursos federais para apoiar o empreendedor. Apesar disso, a entidade ainda cobra R$200,00 para prestar consultorias a quem já está afundando na crise do coronavírus.
A tática para se criar essa autarquia segue a mesma usada pela política da atualidade, de tentar empurrar as armadilhas enquanto as pessoas estão assustadas e com sua atenção voltada à pandemia da Covid-19. E quem ia pagar o pato seria a Educação, um dos setores mais duramente impactados pela pandemia.
Enquanto a Prefeitura tenta criar um cabide e atentar contra a Educação, faltam médicos no Hospital da Criança Santo Antonio, onde pais e mães estão enfrentando uma dura realidade de mais de cinco horas de espera na fila de atendimento, pois geralmente há apenas um médico de plantão.
Não se pode esquecer que, no ano passado, com as bênçãos de uma Câmara subserviente e pusilânime, a Prefeitura criou o cargo de conselheira municipal só para abrigar a ex-prefeita Teresa Surita, não apenas para que ela não ficasse desempregada, mas também para seguir com seus planos eleitorais, além de ficar vigiando o prefeito de perto.
Então, não há mais dúvida sobre o choro perturubador do grupo que comanda a Prefeitura de Boa Vista em relação ao atual cenário na Câmara de Vereadores. Não fosse isso, a posição de não baixar a cabeça, estaria instituído o novo slogan dessa administração municipal: “Muito AME envolvido”.
*Colunista