Jessé Souza

JESSE SOUZA 12045

A ‘nova política’ que só existiu na imaginação e as CPIs em Roraima

Jessé Souza*

Quem apostou na “nova política”, com o fim da corrupção, está percebendo que pouca coisa mudou, e até o que mudou está retornando aos poucos em nível nacional. Em Roraima, os grandes esquemas sempre alimentaram a ganância de quem está na política apenas para fazer negócios escusos.

Já passamos pelo “caso DER”, que chegou alimentar o “caso dos gafanhotos”, o “caso Codesaima”, o “caso CER” e vários outros que sugaram um incalculável volume de recursos públicos federais, os quais poderiam ter ajudado a tornar Roraima um Estado exemplo para o mundo e justo para o seu povo.

O símobolo local dessa suposta nova política, eleito sob bandeira do bolsonarismo, foi o governador Antonio Denarium (sem partido). Contando com a benevolência de aliados, os mesmos que praticaram, ou foram coniventes, ou estiveram envolvidos nos grandes escândalos, tentam blindá-lo sob todas as formas.

Denarium não tinha nada de “não-político”, muito menos era necessariamente um calouro na política partidária com credencial para ser representante da “nova política”. Porque ele sempre esteve junto com a velha política nos bastidores, agindo ativamente para manter tudo como estava. Tanto é que, ao se eleger, fatiou seu governo para os atores da velha política.

A situação da saúde pública, desde o início de seu governo, já mostrava que quase nada mudaria. Trocou de secretário como se trocasse de paletó. E os depoimentos de ex-secretários e ex-serdivores da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), na Comissão Parlamentar de Inquértio (CPI) da Saúde na Assembleia Legislativa, apontam uma ligação do governador com alguns fatos investigados.

A CPI da Saúde tem elementos de sobra para convocar Denarium a dar explicações, principalmente depois deste último depoimento de um servidor que afirmou que o governador não apenas sabia como chegou a autorizar a compra de medicamentos com valores superfaturados. É aqui onde o truque da “nova política” chega ao fim.

Pelo que está se desenrolando na CPI local, tudo indica haver uma blindagem para esquivar o governador das responsabilidades pelo que ocorreu na Sesau durante a pandemia e bem antes, ainda no início do seu governo, quando ocorreu a compra de medicamentos superfaturados, conforme foi dito pelo depoente.

É por isso que o governador tem muito a explicar também na CPI da Covid-19, no Senado, pois o senador Chico do Rodrigues (DEM), o do “escândalo da cueca”, que era vice-lider do governo Bolsonaro, não apenas tinha influência na Sesau, como também fazia parte do núcleo do grupo a quem Denarium entregou o seu governo, nas eleições municipais passadas, em troca de apoio político futuro para sua reeleição. É a velha política em toda a sua essência.

De outro lado, a ex-prefeita Teresa Surita e o seu grupo emedebista, comandado pelo ex-senador Romero Jucá, também terão muito a esclarecer na CPI do Lixo, que está em execução na Câmara Municipal de Boa Vista. Na Prefeitura de Boa Vista, a “nova política” sequer chegou ao menos disfarçada.

O contrato milionário da Prefeitura com a empresa paulista Sanepav, para limpeza urbana e jardinagem nas praças públicas e meio-fios da cidade, requer uma rigorosa investigação para saber se os quase R$500 milhões recebidos por esta empresa, durante todos os mandatos de Teresa, foram bem aplicados ou este caso se tratou de mais um da velha política com seus joguetes.

Parece que Teresa não se mostra muito preocupada em se explicar, pois conseguiu um cargo de consultora-geral do Município, porém, em vez de estar percorrendo postos de saúde (que sequer conseguem aplicar uma vacina), bairros alagados e a zona rural com suas extremas dificuldades, entrou numa verdadeira caravana nos municípios do interior do Estado, bem ao estilo que nada tem a ver com a “nova política”. É a velha mesmo, em toda sua concepção.

Esses atores políticos já estão em campanha eleitoral, como se nada tivesse ocorrido e como sequer houvesse mais pandemia em Roraima. O mínimo que a CPI da Saúde, na Assembleia Legislativa, e a CPI do Lixo, na Câmara de Vereadores, poderiam fazer é chamar o governador e a ex-prefeita a se explicarem. E os responsabilizarem por possíveis e quaisquer atos irregulares.

Não seria uma guinada para a nova política, porque ela nunca chegou a existir fora da utopia, mas apenas uma forma de a velha política impor um limite e mostrar que nem todos estão concordando com a bandalheira que consome os recursos públicos, enquanto as pessoas morrem nos hospitais e enfrentam o desemprego, a inflação, além de todas as mazelas da velhacaria na política.

*Colunista