O temporal que desnudou as fachadas que não resistem a uma chuva rigorosa
Jessé Souza*
Quanto tempo uma pessoa leva para mandar consertar o teto da casa, que abriga sua família, depois de uma chuva rigorosa? Provavelmente, no mesmo dia é tomada providência, pois é na residênia onde as pessoas têm seu refúgio e sua segurança.
Com esse exemplo dá para se ter a ideia da falta de comprometimento do Governo de Roraima para determinar a reforma geral do teto não só do Hospital Geral de Roraima (HGR), mas dos poucos hospitais que existem na Capital, locais que representam a garantia de vida e saúde das pessoas.
Esse desleixo e irresponsabilidade puderam ser vistos, mais uma vez, numa cena repetida, na noite e madrugada de quarta para quinta-feira, durante a chuva torrecial que caiu em Boa Vista. As imagens dos vídeos gravados no local não apenas envergonham, mas causam total indignação.
E o novo/velho secretário estadual de Saúde estava lá, fazendo selfies e gravando vídeo, como se ele nada tivesse a ver com aquilo. Uma ova! Ele tem, sim, suas grandes responsabilidades, porque está no mínimo há 30 anos na políltica, de deputado estadual a federal, e foi assessor especial de um ministro da Saúde.
Como político, o secretário está cansado de ver, a cada governo, esta cena se repetir durante o inverno. Então, ao assumir, já deveria ter mandado providenciar ao menos uma revisão paliativa até que a obra definitiva possa ser realizada. Mas não. No momento crucial, ao assumir a pasta, largou tudo para acompanhar o depoimento de seu ex-chefe na CPI da Covid, no Senado, como sinal de apoio e solidariedade ao negacionismo científico e à antivacina.
Este governo de Antonio Denarium já está caminhando para o fim de mandato, o que significa que não fez o mais básico do básico na saúde, que era consertar o telhado do único hospital de referência na Capital. Porque estava ocupado em trocar secretários indicados para acomodar os interesses de grupos políticos. Porque estava viajando sob a alegação de que buscava investidores fora do Estado. Porque priorizou o agronegócio, em vez da saúde no momento de uma pandemia.
Essa chuva não apenas escancarou a irresponsabilidade de nossos gestores com a saúde pública. Também serviu para mostrar uma Boa Vista de fachada, com uma estética que não resiste à primeira chuva mais forte de um inverno rigoroso. Não só a periferia ficou debaixo d’água, mas também áreas centrais, como as avenidas Brigadeiro Eduardo Gomes e Ataíde Teive, por exemplo, que se transformaram em um vergonhoso rio de lama.
Signfica que, nos últimos anos, a Prefeitura preferiu investir em jardinagem e reforma de praças, bem como apostou tudo na obra milionária do Parque do Rio Branco, que custou aos cofres municipais R$150 milhões. Não priorizou a infraestrutura básica da cidade, especialmente nos bairros mais afastados. Se a chuva daquela noite fosse no horário de meio-dia, teríamos um cenário catastrófico de filme de Hollywood.
Diante do que o boa-vistense viveu na noite fatídica daquela forte chuva, ficam os questionanentos para serem respondidos ou somente como reflexão, já que os políticos estão em campanha eleitoral antecipada:
– Se uma gestora não conseguiu resolver os principais alagamentos na Capital, como irá ter competência para encarar um Estado com um interior imenso, onde se precisa de vicinais, estradas e pontes em vez de praças, parques e jardins?
– Se um gestor não cuidou do telhado do principal hospital de Roraima, como irá resolver os principais problemas de infraestutura de um Estado todo?
*Colunista