Opinião

Opiniao 12059

Convite a Autorrenúncia no mundo da Autoafirmação

Debhora Gondim

Lucas 14:33

A história mundial desde que Adão comeu o fruto em nome da humanidade tem sido marcada por tempos difíceis. E ao contrário do que o filosofo Jean-Jacques-Rousseau afirmou, o ser humano nasce ruim e é quem corrompe a sociedade. Basta olharmos e observarmos o cenário mundial, desde os primórdios, que veremos que sempre houve instabilidade política; econômica e social. Sempre houve e sempre haverá, neste mundo caído pelo pecado, conflitos entre povos, nações e ideologias.

Todo este contexto é motivado, nutrido e praticado por egos inflados, possuidores de corações orgulhosos. Está carregando em si um histórico de rejeição, opressão, traumas e anseio por poder se sobressair sobre o outro. Tudo isso leva a necessidade de autoafirmação. Seja por parte do opressor ou do oprimido. Grande parte da humanidade busca por seu lugar ao Sol como se isso fosse essencial para ter uma identidade.

 A autoafirmação é um dos conselhos mais difundidos pela autoajuda. O conceito desta palavra está em defender a identidade, os direitos, opiniões e desejos. Nada mais é do que a tentativa de se impor a aceitação do meio. Diante disto faz-se uma analise profunda do que realmente motiva a busca por autoafirmação e aponta para a falta ou para a deturpação da identidade. Indivíduos com complexos de inferioridade, em graus distintos um do outro, em que o ego faz com que achem que devem gritar alto, manifestar de forma aberrativa, protestar com ofensas em redes sociais. Atitudes alimentadas por uma raiva travestida de amor-próprio ou de ser politicamente correto, defensores das minorias. Tudo por acharem que não tem ou que não são tratados com a honra que pensam merecer.

Jesus que sempre andou na contramão do mundo e, tendo o cristianismo que se propõe a ser imitador e seguidor de Cristo vem fazer um convite individual para a pratica da autorrenúncia. Jesus nunca buscou a autoafirmação, mas sempre viver a humildade, oferecer perdão aos pecadores que diariamente optam por viver a vida a sua maneira e o rejeitam. Jesus mesmo sendo Deus não fez disso algo a se orgulhar, mas veio a terra como servo de todos e foi obediente até a cruz. Sejamos seus imitadores, perdendo o que este mundo passageiro oferece e ganhando a eternidade.

Cristo compreendeu nossas mazelas e foi levado a cruz por nossas motivações escusas. Mas ao contrário do que muitos de nós faríamos, Ele não buscou justiça própria ou seus direitos, mas como ovelha mansa ele se entregou a uma morte de cruz para que, nós fossemos justificados, mesmo que nunca a mereçamos, diante de Deus. Ele é nosso salvador, nosso advogado, quem luta as nossas causas, que provê o que de fato necessitamos e planeja com maestria um bom futuro para aqueles Nele esperam. Quando compreendemos que para os que estão em Jesus já não há mais condenação e que somos seus filhos amados, em que Ele se agrada (Romanos 8:1; Marcos 1:11), não procuramos autoafirmação, já não nos importamos com o que outros pensam a nosso respeito e nem o que muitas vezes achamos que somos, e sim com o que Deus pensa a nosso respeito.

Em Tito 2:12 afirma que a Graça de Deus mostra o que devemos renunciar e como devemos viver: “Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente,”. Está em esvaziar o ego frágil de todo censo falso de merecimento; em procurar cura para coração orgulhoso em Jesus. Para que, não venhamos a nos ofender por tudo que nos acontece ou nos fazem; em cultivar um coração perdoador, humilde e manso; em praticar o autoesquecimento, considerando o outro digno de atenção e ajuda, tendo a necessidade dele como prioridade, amando de fato (1 Coríntios 13). A renúncia a tudo o que é contrário a Deus é marca do verdadeiro discípulo de Cristo.

Teóloga e Professora

Mais um arremesso sobre as terras indígenas

Sebastião Pereira do Nascimento*

O Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 estabelece que: “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, cabendo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Este Artigo e seus dispositivos constitucionais, seguem alinhados às resoluções assinadas pela Convenção n. 169 da OIT de 27/06/1989 – ratificada pelo governo brasileiro através do Decreto n. 5.051, de 19/04/2004 – e à declaração americana sobre os direitos dos povos indígenas aprovada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 26 de fevereiro de 1997.

Apesar de todos esses dispositivos legais, os povos indígenas vêm passando por uma das maiores ameaças aos direitos indígenas que já tramitaram no Congresso, tendo como arremesso o Projeto de Lei 490/2007, de autoria do deputado Homero Pereira (PR/MT), falecido em 2013, que trata de modificar a Lei n° 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio e alterar o texto da PEC 215.

Há quatorze anos o proposta (protocolada em 20/03/2007) vem perambulando pelo congresso, tendo recebido o parecer favorável, em 2008, da Comissão da Agricultura e depois rejeitado pela a Comissão dos Direitos Humanos em 2009. Além disso, houve tentativa de ser aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania), mas o parecer nunca chegou a ser votado. Sendo arquivado com a mudança da legislatura.

No último dia 25 de maio de 2021, com forte pressão da bancada ruralista, o PL 490/2007 mais uma vez
foi lavado à CCJ da Câmara para receber o parecer da comissão e, infelizmente, a chance de o projeto ser aprovado é grande, visto ainda o empenho pessoal da presidente da Comissão de Justiça, deputada Bia Kicis (PSL/DF), aliada aos ruralistas e obstinada defensora do presidente Jair Bolsonaro.

Caso seja aprovado na CCJ, o projeto vai para o plenário da Câmara e, se também for aprovado, segue para o Senado. O PL 490/2007 permite a implantação de hidrelétricas, mineração, estradas e arrendamentos, entre outros empreendimentos, eliminando a consulta livre prévia e informada às comunidades indígenas afetadas. Além disso, permite retirar o usufruto exclusivo dos povos indígenas de suas terras tradicionais, cujas terras sejam de interesse público do Estado brasileiro. A deputada Joênia Wapichana (Rede/RR) esclarece ainda que a proposta é uma verdadeira afronta ao direito de demarcação aos povos indígenas e segue abarrotado de inconstitucionalidade.

Dentre muitos absurdos, o projeto nega um dos direitos mais fundamentais dos povos indígenas: o direito à terra. Pois, viabiliza o acesso ostensivo às áreas indígenas de diversos empreendimentos impactantes que podem causar sérios problemas aos territórios indígenas. O projeto pega carona no chamado “marco temporal, quanto às demarcações das terra indígenas pelo qual só teriam direito à terra os povos indígenas que estivessem em sua posse no dia 05 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, ou que estivessem em disputa judicial ou conflito direto com invasores. O argumento desconsidera o histórico de expulsões, remoções forçadas e violências cometidas contra essas populações, em especial durante o regime da ditadura militar. Os argumentos dos congressistas que apoiam o projeto é que o “marco temporal” deve ser aplicado a todas as demarcações e que seus arranjos já fazem parte da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. No entanto, na visão de uma boa parte dos ministros do STF isso não procede dessa forma.

Clareando mais as intenções do projeto, é previsto ainda a possibilidade de contestações em todas as fases do lento processo demarcatório. Tais questionamentos podem ser apresentados por municípios e estados, organizações de agropecuaristas e grileiros. No quadro atual, a contestação pode ser feita por qualquer pessoa, em até noventa dias após a publicação do relatório de identificação elaborado pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Se aprovado, o PL 490/2007 abre caminho também para que o governo federal interfira na autonomia da terra indígena, caso julgue que o território tradicional não esteja sendo ocupado ou usado adequadamente pelos povos residentes. Além de vergonhoso, esse projeto fere profundamente a constituição brasileira e o próprio Estatuto do Índio instituído em 1973.

À luz da história, ao invés de o Estado Brasileiro expressar desculpas eternas aos povos indígenas pelos males causados ao longo de séculos, grupos políticos, ideologicamente alinhados ao atual presidente da república, buscam aniquilar os avanços dos direitos indígenas. Por conta dessas investidas, o Brasil mostra ao mundo o seu lado medonho. A face de um país onde a sordidez e a violência social andam de braços dados e pesam sobre os povos originários.

Em tempo: o mandatário brasileiro representa o que é para os povos indígenas um ser possesso – tão endemoniado quanto patético –, fruto da cegueira da insensatez humana que por maldade ou vaidade forja o mal e lhe dá manutenção, com grata aprovação e obediência de seus vassalos (ministros, assessores, alguns prefeitos e governadores, uma parcela de congressistas e outra infinidade de pulhas).

 

* Consultor Ambiental, Zoólogo e Filósofo

 

O relacionamento

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Não se obtém a disciplina, cimento dos exércitos e garantia do seu valor, pelos meios violentos, mas pela educação do soldado e pelo desenvolvimento de relações entre ele e a oficialidade”. (Rui Barbosa)

É bem verdade que está muito difícil comentar sobre desacertos entre os poderes. A violência nas ruas está desastrosa, e mais desastrosa é a divulgação, de certa forma vulgar, dos acontecimentos violentos. Há uma tendência desastrosa de culpar o policial, nos confrontos de rua. E isso, com certeza, vem do despreparo em todas as forças militares. Mas cuidado. O que considero despreparo não é falta de preparo, mas como se prepara.

Um dos exemplos mais simples que tenho usado por aqui, nunca foi aceito por ser considerado banal. E vamos nos atermos aos policiais civis e militares, em serviço nas ruas. Sabemos a dificuldade que um policial tem em encarar os insultos do marginal. E é aí que vem o exemplo de como o policial é preparado para enfrentar o bandido. O policial é bem treinado, claro. Só que ele é treinado para o bandido. Quando deveria ser treinado para o cidadão. O soldado sai para a rua para enfrentar o bandido e não para proteger o cidadão. O foco é o bandido. Psicologicamente o soldado é preparado para a luta.

Há excelentes bons exemplos de policiais que mostraram um comportamento digno de respeito no lidar com o contraventor. Mas são fatos que a mídia nacional não se interessa em divulgar. Por que, não sei. As coisas mudaram, sobretudo no comportamento entre oficiais e soldados. Mas mesmo assim ainda temos muito pra mudar no preparo do soldado para enfrentar o bandido nas ruas. E este treinamento está nas Relações Humanas, que ainda não é considerada uma educação profissional de altíssima qualidade. Que é nela que aprendemos a encarar o inimigo sem considerá-lo inimigo. Simples pra dedéu.

Nos anos sessentas do século passado assistimos, no filme “O tenente”, um episódio exemplar. Durante a guerra um soldado estava numa trincheira, à noite, quando alguém chegou por trás e riscou um fósforo acendendo um cigarro. O soldado gritou:

– Apague esse fósforo!

O Fósforo continuou aceso e o soldado gritando até que gritou virando-se:

– Apague esse fósforo, palhaço!

Mas quando se virou deu de cara com o General que fazia uma revista na tropa. O soldado quase desmaiou. Mas o general tocou no seu ombro e falou:

– Acalme-se filho. Mas dê graças a Deus por eu não ser o subtenente.

Imagine se em vez do general o soldado tivesse chamado o subtenente de palhaço, em pleno serviço.

Porque é assim. O que devemos é nos prepararmos para o século vinte e um. Pense nisso.

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