Opinião

OPINIAO 12075

Saudade das pernas tortas –

Walber Aguiar* Quero trazer à memória o que me pode dar esperança                                                        Lamentações  3:23

De repente lembrei o velho e insubstituível Arão, o anjo das pernas tortas, o homem com cara de moleque, o motorista número um de Josué da Rocha Araújo.  Uma lembrança boa, fruto de um surto nostálgico, de uma vontade incontrolável de estar lá, na geografia santa de um lugar inesquecível. “Cadê o porco Zé?“, era a senha da molecagem, dos pés descalços no barro do velho campinho, da devocionalidade simples e cheia de um desejo de que aqueles dias nunca mais acabassem. De que o culto da fogueira nos reaquecesse a alma, sempre. Eram dias de banho no igarapé de águas profundas, de afundar panelão no poção das cobras, de procurar a dentadura do Manoel, de enfrentar os medos com saltos loucos e intrepidamente desafiadores. Carioca estava lá, cheio de  marra e marcas da queda, Agostinho também trazia no rosto as marcas da inocência que só os índios podem ter. Jessé, Júnior e Emerson ainda eram projetos de gente, com seus corpos “sarados”, na expectativa de que os músculos surgissem. O velho Arão, embora vivesse brincando, armava-se de enorme reverência no momento em que fazíamos fila para nos alimentarmos da palavra de Deus. Sério, sóbrio, circunspecto era o anjo das pernas tortas. Menos quando estava debaixo da “xambeca”,  o carro que fez  de Josué Araújo um mecânico teimoso e autêntico. Ali Arão era um mestre, um santo sujo de graxa, como no episódio em que tentou ligar um motor a noite inteira, quase sem sucesso. Isso porque contou com a ajuda de seu Hélio e Josué, na escuridão do Maranata. Sempre lembro o grande e insubstituível Arão, com suas pernas de Garrincha, suas molecagens, seus improvisos, sua vontade de viver. Isso porque, mergulho de madrugada, sozinho, nas águas geladas do igarapé mais encantador e misterioso de que se tem notícia. Isso porque, salto na direção de Deus e da amizade, da fé simples e do desejo de me embrenhar na mata,  naqueles dias de amizade e contemplação da verdadeira vida. Irmão João concordando com tudo, até em vender a igreja presbiteriana e mudar o culto para depois do fantástico, era uma das principais diversões do velho Arão. Depois a gozação com Fernando, o hino a Lameque, a teimosia com Zé “bichin”, a construção das grandes fogueiras na última noite de retiro. De repente lembrei o anjo das pernas tortas. De uma das pessoas mais lindas em autenticidade que já conheci. Chorei de madrugada, pois acordei do sonho mais fascinante que já tive. O de mergulhar no peito de Deus e sentir a cruviana gostosa da sua bondade, de um prazer que não pensei estar disponível aos mortais… ainda assim, ri com o velho Arão, Moisés, Samuel Dadá, velho Eugênio e chamei o “Hilário”… *Poeta, advogado, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]

Nós passamos e as riquezas ficam

Marlene de Andrade

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua Justiça e todas as coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6. 33) 

Mesmo sem o avanço da tecnologia que temos hoje, Salomão se notabilizou por sua insuperável inteligência e descobertas. Esse rei era profundamente reconhecido pelas pessoas de seus dias, pois se aprofundou em grandes pesquisas estudando plantas e também animais de variadas espécies, inclusive peixes. Sua simpatia atraia pessoas de vários lugares daquele mundo antigo, pois queriam ficar sabendo quais eram suas últimas descobertas e conhecê-lo pessoalmente. Apesar de ter sido o homem mais rico do antigo Israel e ser dotado de uma inteligência rara, acabou caindo em um profundo quadro de frustração, pois começou a questionar do que lhe valia o conhecimento que adquirira, riquezas e um harém? Essa sua frustração foi tão forte que ele a manifestou escrevendo o livro de Eclesiastes. Deveras esse livro é belíssimo e cheio de ensinamentos importantes às nossas vidas. Algumas das frustrações de Salomão estão reveladas nos versículos abaixo: “Tudo é vaidade. Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. Todos os rios vão para o mar, e, contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.” (Eclesiastes 1:2-8).  

Como podemos perceber, apesar de Salomão ter sido um rei tão admirado por todos, passou a achar tudo muito enfadonho. De fato Salomão foi muito bem sucedido, contudo, como colocou Deus em último lugar em sua vida, acabou entendendo que nada mais havia feito do que dar socos ao vento. Se sempre tivéssemos absoluta confiança em Deus, acreditaríamos que Ele é, e sempre será a maior prioridade de nossas vidas. 

Marlene de Andrade 

Médica Especialista em Medicina do Trabalho – ANAMT/AMB/CFM 

Médica Pós-graduada em Pericias Médicas – Fundação UNIMED 

Técnica de Segurança no Trabalho – SENAI / IEL 

CRM-RR 339 RQE-341 

             

A força e a inteligência

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Dois dos poderes que governam o mundo, a força e a inteligência, é a força que sai sempre vencida”. (Napoleão Bonaparte)

Sabemos que a humanidade vive, sempre, num período de evolução. Só ainda não temos inteligência suficiente para entender em que compasso essa evolução segue. O que nos esclarece, ou simplesmente nos adverte a Cultura Racional, é que estamos vivendo a vigésima e primeira eternidades, da nossa chegada a este planeta Terra. E pelo que vemos ainda não conseguimos alcançar a racionalidade. Ainda vivemos disputando entre a força e a inteligência. E como ainda não temos nem uma coisa nem outra, vamos pagando o pato.

Um dos maiores discípulos do Maquiavel, Francisco Guicciardini, falou isso, lá pelo século dezesseis: “Nunca brigue com a religião ou com as coisas que parecem depender de Deus: elas dominam em demasia a mente dos tolos”. Quem conhece a história do Maquiavel e dos seus discípulos não está nem aí para esse papo com Francisco. Mas quem não conhece a história já está pulando da cadeira. Porque o ser humano é assim mesmo. Está mais inclinado à briga.

Mas deixa isso pra lá e vamos falar de nós mesmos. O que somos e o que queremos ser. E o pior é que ainda não somos, porque não sabemos o que queremos ser. Então vamos parar de cochilar e começar a viver com clareza. Vamos parar de brigar e respeit
ar mais a opinião do próximo. E todos somos próximos. Somos vizinhos. E enquanto não entendermos isso não entenderemos a fala do Emerson: “Você é tão pobre ou tão rico quanto o seu vizinho; senão não seria vizinho dele”. Em que grupo você está incluído? No dos que procuram entender para decidir, o no dos que brigam porque não entenderam?

Para de ciscar. Deixe isso para os ciscadores e para as galinhas. Eles são craques no ciscar. Estamos nos aproximando de novas eleições e não estamos nos preparando para o voto. A bem da verdade, não estamos nem aí. Estamos mais preocupados com o covid-19. Quando na verdade este já revela o nosso despreparo para viver. Estamos nos equilibrando nas beiradas do cadinho. E correndo o risco de cair para dentro e nos fundirmos. E não sabemos em que nos tornaremos depois de fundidos.

Vamos refletir sobre nosso futuro. E vamos iniciar a tarefa nas próximas eleições. E leve isso a sério. Muita cautela e cuidado na escolha do seu próximo candidato. Veja se ele tem realmente preparo para a função que pretende exercer. E não se esqueça de que você ainda está votando por obrigação, quando deveria votar, por dever de cidadão. Estamos numa fase preparatória. Então a iniciemos com responsabilidade. Pense nisso.

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