Jessé Souza

JESSE SOUZA 12088

Vistas grossas das autoridades e as graves agressões ao Rio Branco

Jessé Souza*

O Parque do Rio Branco, onde foi erguido o Mirante, acabou por se tornar um imenso esgoto a céu aberto. Historicamente, o problema se repete naquele local, quando aquela área ainda era conhecida como Beiral, antiga favela que existia no Centro de Boa Vista comandada pelo tráfico de drogas.

A Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) lança esgoto da coleta urbana não tratado historicamente no Igarapé Caxangá, isto devido a recorrentes problemas na estação elevatória que lá existe. Mudou o cenário, com a retirada dos moradores e a construção do parque no local, mas o problema permaneceu.

O igarapé Caxangá já havia sido assassinado pela Prefeitura de Boa Vista que, em vez de recuperá-lo, optou por sepultar o igarapé o canalizando com concreto os principais trechos do seu leito. Além do esgoto lançado pela Caer, ainda tem o lançamento de dejetos por moradores e empresas localizadas às margens do igarapé, crime este nunca fiscalizado.

Como a Prefeitura é comandada por uma política fechada em si mesmoa e em seu grupo, sem aceitar críticas nem conversar com a oposição, o esgoto lançado pela Caer tornou-se uma séria ameaça. Porém, em vez de dialogar, a então prefeita Teresa Surita (MDB) passou por toda suas seguidas gestões criticando e atacando a estatal de água em sua bolha virtual, o Twitter.

O problema segue na atual gestão, com as críticas nas redes sociais em vez de entendimento. E o lago que surgiu com a construção do parque hoje não passa de um imenso esgoto que deságua no Rio Branco, o principal manancial de água potável de Boa Vista, já fortemente agredido pela ação do garimpo ilegal em seus afluentes e tributários localizados em terras indígenas.

Não é só lá que este problema ocorre. Também no Igarapé Mirandinha, no bairro Caçari, área nobre da cidade, localizado acima da estação de captação e tratamento de água, a Caer também lança dejetos no igarapé que vão cair direto no Rio Branco. Assim como ocorre no Parque Rio Branco, o problema é histórico e nunca solucionado.

Os graves problemas ambientas não param por ai. Um novo esgoto se formou no bairro 13 de Setembro, com dejetos provenientes do abrigo para venezuelanos lançado dentro do que era o leito do Igarapé Pricumã, outro que foi morto pela poluição e a canalização em concreto, cujo esgoto cai direto no Rio Branco. E lá não existe fiscalização, nem da Caer, muito menos da Prefeitura e sequer pelos órgãos ambientais do Estado e da União.

E tudo isso passando ao largo de quem deveria fiscalizar e cobrar uma solução definitiva para os problemas. Não há argumentos sequer para alegar que o poder público não está sabendo de nada, porque tudo está ocorrendo na área urbana e grande visitação, inclusive na principal vitrine eleitoral do grupo que comanda a Prefeitura de Boa Vista, o Mirante do Parque do Rio Branco.

O principal rio de Roraima não suportará por muito tempo essas recorrentes e severas agressões, principalmente agora, diante do avanço do garimpo ilegal nas terras indígenas. Ou as autoridades começam a agir agora, já, para ontem, ou todos iremos pagar um preço muito caro por estes crimes ambientais sob a vista grossa da sociedade.

*Colunista