Jessé Souza

JESSE SOUZA 12109

A imponência do Mirante, a velha orla e a lama fétida que invade as casas das famílias Jessé Souza*

A Prefeitura de Boa Vista fez uma assepsia social às margens do Rio Branco na área central da cidade, retirando as famílias pobres, mas não conseguiu resolver os problemas de alagamentos com as obras realizadas na principal orla boa-vistense. O inverno rigoroso mostrou a falta de estudo para prever as cheias históricas. O Parque do Rio Branco, onde tem o Mirante de 100 metros, erguido onde ficava a antiga favela do Beiral, tornou-se uma ilha em si mesma, cercada por áreas alagadas. Como a obra foi construída às pressas, por determinação da então prefeita Teresa Surita (MDB), para servir como seu marco político ao deixar a prefeitura, os graves problemas já surgiram. Como não foram desapropriadas todas as casas no entorno, as que permaneceram estão debaixo d’água, cujas famílias vivem um drama porque não se trata apenas de lama, mas de um esgoto fétido, pois ali não foi resolvido o problema do lançamento de esgoto sem tratamento no leito do Igarapé Caxangá, que foi canalizado e transformado em uma lagoa artificial como parte do projeto do parque. O inverno ainda está pela metadade e, se as chuvas continuarem rigorosas, essa lagoa artificial poderá transbordar e complicar ainda mais a situação das famílias cujas casas ficaram numa área abaixo do aterro onde foi erguido o parque, hoje tomadas por uma lama fétida. E mais: as águas do rio podem avançar ainda mais sobre boa parte do calçadão do Parque do Rio Branco. Atualmente, pelo menos 1/4 do calçadão já está com com sua área interditada para acesso de pedestres. Assim que o inverno começou, a praia feita para servir de atrativo para visitantes e turistas já havia sido engolida pelas águas do rio. Agora, a cheia ameaça avançar ainda mais sobre o primeiro piso do calçadão, o que mostra a falta de estudo e planejamento para que se evitasse isso. O mesmo erro grotesco foi feito com a Orla Taumanan, a antiga orla, que está há um ano interditada para uma nova reforma. A plataforma baixa da orla algou no inverno rigoroso de 2011 e está muito próximo de outra vez ser encoberta pelas águas do Rio Branco. Tudo isso é fruto de obras feitas ao bel prazer de administradores que não costumam ouvir a sociedade nem gosta de realizar estudos históricos. Aliás, a própria Orla Taumanan é uma aberração, porque foi erguida sobre o Porto do Cimento, local histórico mais importante porque foi por lá onde começou a ocupação para o início não só de Boa Vista, mas do Estado de Roraima. Alguns até  chegaram a ser consultados, mas esses são os traidores de sempre, que se vendem pelo vil metal. Agora estamos com dois problemas que revelam obras mal planejadas que precisarão consumir mais recursos públicos para corrigir os erros. A Orla Taumanan está em sua terceira reforma seguida. E a forte cheia deste ano pode novamente deixar a plataforma inferior submersa, numa vergonha administrativa de quem não costuma agir com transparência e correição. O Parque do Rio Branco, inaugurado às pressas e erguido sob o cadáver dos que morreram de coronavírus no ano passado, hoje se tornou um local sombrio, onde as pessoas se cadastram para observar a beleza de Boa Vista a 100 metros de altura, mas só consegue enxergar uma lama verde no entorno do parque, cujo esgoto avança sobre as casas das famílias que não foram indenizadas para que deixassem o local. As pessoas aprovam obras de apelo estético, que podem servir ao turismo e proporcionar lazer e bem-estar às pessoas. Mas não se pode admitir obras milionárias, a exemplo do Parque Rio Branco, que custou R$135 milhões, consumam tantos recursos públicos, mas que apresentam graves erros que comprometem a segurança das pessoas, provocam transtornos às famíias e que causam mais prejuízos aos cofres públicos. A Orla Taumanan, além dos recursos públicos que estão sendo gastos com seguidas reformas, provocaram o maior prejuízo que o patrimônio histório local já sofreu. E isso é irremediável. Tudo porque não há respeito com a cultura local nem com os recursos públicos, muito menos compromisso com a transparência. A orla no Berço Histórico de Boa Vista é o maior exemplo de falta de respeito com nossa cultura e com a aplicação do dinheiro de nossos impostos. E olha que nem estamos entrando no mérito sobre a inversão de prioridade em tempos de pandemia. O Parque do Rio Branco, inagurado ainda inacabado, sequer respeitou a dor das famílias que perderem seus entes queridos durante a pandemia no ano passado. *Colunista