Jessé Souza

JESSE SOUZA 12227

Campeão em mortalidade infantil, Roraima revela situação da saúde municipal e estadual

Jessé Souza*

Os dados foram apresentados pelo Índice de Gestão Municiça Aquila (IGMA), a partir do programa Estratégia de Saúde da Família do Ministéirio da Saúde.. O Estado de Roraima é campeão do Norte e Nordeste em mortalidade infantil: Roraima (20,69%), Amazonas (19,77%), Acre (18,04%), Amapá (16,78%), Sergipe (16,76%) e Bahia (15,27%).

Embora o maior número de casos esteja nos municípios do Amajari (49,33%), Alto Alegre (46,41%) e Pacaraima (32,37%), a estatística mostra a situação precária denunciada constantemente por famílias de grávidas que vão dar à luz na maternidade estadual, o Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth.

Por tabela, o problema também resvala na Prefeitura de Boa Vista, onde as mulheres do municípios do interior buscam atendimento na Capital, uma vez que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) municipais não funcionam. Chegando na Capital, elas não encontram o atendimento, já que nem as mães boa-vistenses conseguem um pré-natal digno, apesar da campanha pessoal da ex-prefeita Teresa Surita (MDB) colocar Boa Vista como a “Capital da Primeira Infância”.

Esse quadro de falhas no atendimento estadual e municipal reflete-se nos dados do Núcleo de Ações Programáticas de Saúde da Criança (NAPSC). Com base nas informações enviadas pelos municípios nos últimos dois anos, o NAPSC detectou que houve um aumento de 12,46% na taxa de mortalidade infantil em Roraima.

O motivo é o fato de Roraima apresentar “fraqueza do pré-natal”, além de muitas mortes ocorrerem por causas evitáveis, como doenças infecciosas e parasitárias, doenças respiratórias, dentre outras, revelando a precariedade no atendimento básico a mães e suas crianças, especialmente nos municípios do interior, as quais são obrigadas a buscar atendimento em Boa Vista.

Outra das principais causas que levam ao óbito infantil é a falta de vacinas para recém-nascidos, uma vez que pode haver desidratação, pneumonia e infecções não cobertas por vacinas. Conforme a entidade, a falta da assistência médica adequada no período pós-natal, período em que a criança acabou de nascer, leva a não indicação de vacinas e, dessa forma, o bebê fica suscetível a doenças.

Este quadro preocupante só piora, pois chegam diariamente mais imigrantes vindos da Venezuela, engrossando uma realidade que pode ser vista nos semáforos e calçadas dos centros comerciais da cidade, onde mães com seus bebês no coloco ou mulheres grávidas são vistas pedindo dinheiro para se alimentar. E isso na Capital da Primeira Infância.

Vencer esta preocupante realidade não é uma obrigação só do Estado ou da Prefeitura de Boa Vista. Requer empenho de todos os prefeitos e prefeitas dos municípios do interior do Estado, os quais precisam investir no atendimento à infância, especialmente no atendimento ao pré-natal.

Obrigação também da saúde indígena, sob responsabilidade da Saúde Especial Indígena (Sesai), uma vez que são registrados recorrentes casos de bebês indígenas que chegam na Capital completamente desnutridos, chegando a morrer. O povo Yanomami mostra-se o mais vulnerável, embora seja uma preocupação em todas as demais etnias.

Como estes casos acabam chegando à Capital, seja na maternidade estadual ou no Hospital da Criança Santo Antônio, compete ao Governo do Estado e à Prefeitura de Boa Vista boa parcela dessa responsabilidade, inclusive quando se trata de crianças de mulheres imigrantes.

Logo no início do encrudescimento do problema da imigração desordenada, a Prefeitura de Boa Vista, quando a prefeita era Teresa Surita, que infla se ego com a campanha pessoal da “Capital da Primeira Infância”, se negou a assumir a fornecer alimentos para crianças venezuelanas nos abrigos.

É aí onde se vê que discurso e prática estão dissociada da realidade. É por isso que a sociedade precisa cobrar ações políticas verdadeiras para enfrentar os problemas da infância roraimense. Mães que não recebem o pré-natal devido podem não apenas se tornarem estatística da mortalidade infantil, mas principalmente podem ter bebês que poderão ter sequelas para o resto da vida, comprometendo o futuro de uma geração.

O desafio está aí, os números são preocupantes e precisam da interveção das autoridades. Os órgãos fiscalizadores podem puxar as primeiras ações, como fiscalizar e cobrar das prefeituras um atendimento digno no pré-natal das mulheres grávidas. E também fiscalizar a situação do Hospital Meterno Infantil, que historicamente nunca consegue resolver os problemas. Já será um bom começo.

*Colunista