Máfias na saúde e a importância de se ter uma opinião pública bem informada
Jessé Souza*
O Brasil vive um momento crítico em que os escândalos na saúde pública, em nível nacional, vinham sendo expostos desde o início da pandemia, inclusve em Roraima com o “caso do dinheiro na cueca”. E encrudesceram durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado, que vem revalando um dantesco esquema de assessores do governo Bolsonaro que armavam um dos maiores esquemas de compra de vacinas.
Com toda poeira e fumaça escuras que pairam sobre todas as atmosferas, é importante que fique bem claro que o conhecimento dos fatos só é possível graças à imprensa que, bem ou mal, tem levado as informações para a opinião pública brasileira. Graças à imprensa os detalhes vão sendo esmiuçados para que o cidadão fique informado e possa tomar decisões.
Antes de tudo isso que está ocorrendo, o atual governo, que foi eleito com a bandeira da moralização, tinha um bem traçado plano para minar a imprensa livre e desacreditá-la perante a opinião pública, cuja linha de ataque é a Rede Globo, que tem, sim, suas culpas por seu passado recentem ou não, acumulando poderes ilimitados a cada governo. Mas isso não é salvoconduta para massacrar a imprensa.
Foi montada uma frente de ataque incisivo e cada vez mais virulenta contra a imprensa, inclusive servindo como incentivo a agressões verbais e físicas aos profissinais do jornalismo no exercício da profissão em público, à medida em que se criava na sociedade a falsa realidade de que as informações geradas nas redes sociais e correntes de WhatsApp seriam o “novo normall”.
Estava em andamento uma poderosa e organizada rede de fabricação de mentiras, chamada de fake news, engendrada no antro do poder, com a finalidade de servir aos interesses escusos de grupos mal intencionados, dentro e fora do governo, inclusive este que se alojou no Ministério da Saúde para desviar dinheiro destinado à vacina.
Esta é a importância de se ter uma imprensa livre, para que máfias e grupos não se sintam livres para agir, sem qualquer tipo de monitoramento, que é um dos papeis do jornalismo, cuja uma de suas responsabilidades é monitorar o centro do poder. Por isso mesmo que qualquer governo mal intensionado, ao assumir, concentra seus esforços para cercear a imprensa ou mesmo desacreditá-la.
A imprensa livre é um dos instrumentos essenciais para uma sociedade democrática, apesar de seus erros e possíveis excessos, os quais podem ser freados e corrigidos por meios dos próprios instrumentos democráticos e jurídicos, além do monitoramento da sociedade que apredeu a “cancelar” aquilo que ela escolheu odiar coletivamente.
Depois que toda essa poeira sentar, é necessário que a opinião pública consiga enxergar o imprescindível papel da imprensa e perceber o grande perigo que é o orquestrado movimento de manter a opinião pública manipulada pela rede de fake news, que tem feito um grande estrago em todas as frentes, principalmente no ataque a democracia.
As mentiras orquestradas também prestaram um grande desserviço na pandemia, especialmente em relação à imunização. Além da compra de vacina ter sido retardada por uma política de governo, e também pela ação da corrupção, como está mostrando a CPI, as fake news têm convencido muitos a não se vacinarem, comprometendo a imunização em massa, que é a única forma de vencer o coronavírus.
O Brasil precisa sair amudurecido desse triste período que estavamos vivenciando, para que os erros de agora não prossigam e para que a mentira não prevaleça como um “novo normal”, servindo de arma para inescrupulosos. A imprensa precisa seguir com o grande papel de fazer a democracia respirar e para que os operadores da mentira não prosperem. Esse é um dos desafios daqui para frente.
*Colunista