Jessé Souza

JESSE SOUZA 12242

Diante da pandemia e mortes, restam reflexões nos 131 anos de Boa Vista

Jessé Souza*

Quem mora em Boa Vista sabe que a cidade, atualmente, está bem servida de praças públicas, das quais a população pode se orgulhar nesses 131 anos de criação do Município, celebrados nesta sexta-feira. No entanto,  os grandes desafios nos chamam a uma reflexão sobre o que queremos daqui para frente, especialmente diante do momento que vivemos devido à pandemia, que vitiou  mais de 500 mil pessoas no país.

Antes da ameaça do coronavírus, que fez mais de 1.700 mortos em Roraima, a chegada em massa de venezuelanos, provocando uma imigração inesperada e desordenada, já desafiava os gestores públicos, especialmente porque eles sempre estiveram acomodados com suas políticas públicas e de infraestrutura, habituados a fazerem o básico como forma de engabelar a população.

A nova realidade da imigração escancarou as falhas na saúde, especialmente no antedimento primário, onde as Unidades Básicas de Saúde (UBS) vinham atuando de forma falha, fazendo com que piorasse ainda mais a busca por atendimento na saúde estadual, onde o Hospital Geral de Roraima (HGR) também padecia de todas as mazelas diante de um governo sempre relapso com a saúde pública.

Com a pandemia a situação se complicou mais do que estava. A Prefeitura de Boa Vista tinha um grande débito com o atendimento primário e agora precisa melhorar seu sistema para enfrentar novas pandemias que podem vir daqui para frente, assumindo suas responsabilidades na prevenção e nos primeiros atendimentos antes de os pacientes entrarem para o agravamento de seu quadro.

Mas existem outras grandes desafios em Boa Vista, como o ordenamento no trânsito, com uma política de mobilidade urbana que precisa estar atenta a esse inchaço populacional e a crescente frota de veículos que cresce favorecida por um sistema de transporte público ineficiente e caótico.

Sequer temos semáforos em quantidade suficiente para proporcionar um trânsito seguro nas principais vias e em cruzamentos movimentados nos bairros mais populosos. Não existe a mesma pressa para instalar um semáforo como foi a agilidade usada para instalar uma sinaleira no trecho urbano da BR-174 para favorecer uma grande empresa ali instalada.

Os pedestres estão cada vez mais vulneráveis diante de um trânsito que urge por passarelas, sinalização e manutenção de faixas de pedestres, semáforos, mais ciclovias, além de constantes campanhas de educação para o trânsito, as quais deixaram de ocorrer há muito tempo. A “indústria da multa” chegou até ser instalada, quando agentes municipais de trânsito arrochavam nas multas.

As chuvas rigorosas desse inverno também estão servindo para mostrar as graves deficiências na urbanização, com falta de asfaltamento de ruas e avenidas nos bairros, drenagem de água pluvial e ordenação em áreas que nasceram de invasões e que crescem sem planejamento. É a política de inversão de prioridades, outro desafio, em que os bairros centrais funcionam como fachadas para uma cidade preterida na periferia.

É esta grande fachada que acaba por revelar que a Capital está bem servida de praças e jardinagem nos canteiros centrais, onde o asfaltamento não apenas chega primeiro como também são realizadas obras de recapeamento nas avenidas principais, enquanto os bairros periféricos sequer recebem obras de terraplanagem nas ruas de terra batida ou serviço de manunteção com tapa-buraco nos asfaltos antigos e remendados.

A regularização fundiária, ordenação de feiras-livres, políticas sociais voltadas para crianças em vulnerabilidade, apoio para autônomos e ambulantes perseguidos pela fiscalização, políticas públicas para localidades na zona rural e outras ações também precisam de atenção neste momento em que comemoramos mais um aniversário de Boa Vista.

A situação política clama por moralidade no trato com o bem público e ações rápidas para enfrentar situações como a pandemia. Mas não é isso que vemos em uma Prefeitura que vai à Justiça para impedir que seja fiscalizada. Então, vamos celebrar a cidade que temos. Mas principalmente refletir sobre os problemas que estão ocultos ou sendo gerados a partir da realidade que foi construída até aqui.

*Colunista