A cidade em que moradores precisam acordar de madrugada para juntar água em baldes
Jessé Souza*
A atual administração do Governo de Roraima já avança para o seu final, mas a estatal responsável pelo fornecimento de água, a Caer, nunca conseguiu resolver os graves problemas em seu sistema de abastecimento. Na maioria dos bairros periféricos, na zona Oeste da Capital, falta a água nas residências.
Com base nas reclamações dos moradores que chegam a esta coluna, não se trata de um problema setorizado. Eles nem reclamam mais para a empresa porque já sabem da resposta, a qual acaba jogando a responsabilidade para o consumidor por não ter caixa d’água em sua residência.
Essa é uma resposta equivalente à empresa de energia elétrica alegar que os moradores precisam ter um gerador de energia em casa para que possa suprir os recorrentes cortes na distribuição. E todos aceitam como uma resposta normal, inclusive os órgãos fiscalizadores, que ficaram pianinho até aqui.
Os moradores do bairro Jardim Primavera enfrentam cortes na distribuição quase que diariamente, especialmente no início da tarde. No bairro Araceli, os consumidores dizem que já chegaram a ficar quase uma semana sem água na torneira na maior parte do dia, sendo obrigados a aparar água em baldes durante a madrugada.
Um bairro antigo, o 13 de Setembro, na zona Sul, também registra o problema da falta de água, o qual foi intensificado a partir da instalação dos abrigos para os venzuelanos, quando aumentou a demanda de consumo. Denúncias e pedidos de solução vêm sendo feitos há quase um ano.
E assim a falta de água vai sendo registradas em outros bairros periféricos, especialmente os mais populosos, sem que a Caer consiga amenizar os problemas. O cenário é sempre o mesmo: falta de água durante o dia, o que obriga as famílias a madrugarem se quiserem ter água para seus afazeres domésticos e higiene pessoal.
Já habituados a sofrer, muitos sequer denunciem mais, fazendo com que a empresa tenha um novo argumento em sua autodefesa: “Não há registro de reclamação em nosso sistema”. Óbvio que não há porque o povo está se habituando a ser gado, ruminando de cabeça baixa em direção ao matadouro.
Daí a necessidade de os órgãos de controle buscarem informações sobre o que está ocorrendo na estatal responsável pelo abastecimento de águal, uma vez que o povo não reclama mais e até a imprensa parece ter se cansado desse tipo de denúncia.
Inadmissível que em um Estado com uma população pequena, cuja Capital reúne 70% da população, a estatal não consiga administrar um sistema de fornecimento de água potável que deveria ser exemplo para o país. Ou está ocorrendo algo naquela estatal que a opinião pública não pode saber?
*Colunista