Mais um escândalo bate à porta e uma saúde pública que vive trocando de secretário
Jessé Souza*
Já era muito estranho o pedido de demissão do então secretário estadual de Saúde, Airton Cascavel. Difícil acreditar que sua saída teria algo a ver com o fato de ter contraído Covid-19 pela segunda vez. Além de não convencer, passou a ser atestado de que o próprio responsável por conduzir a saúde estadual diante da pandemia de coronavírus não acreditava na sua própria atuação.
Quando a pessoa acredita no seu trabalho e em sua equipe, então age como o médico Mauro Asato. Quando teve seu quadro agravado devido ao coronavírus, ele pediu à família que não fosse transferido para outro Estado, deixando sua vida nas mãos de sua equipe ao ser entubado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Geral de Roraima (HGR).
Mas os fatos sempre se desenrolam para que a verdade um dia venha à tona. Logo depois de jogar a toalha, a mídia nacional começou a divulgar que Cascavel foi citado na CPI da Covid como supostamente um dos partícipes no escândalo sobre a negociação de vacinas mesmo antes de ser nomeado no Ministério da Saúde. As coisas começaram a ficar cristalinas.
Cascavel já tinha relações estreitas com Eduardo Pazuello bem antes de ser nomeado ministro da Saúde interino pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em maio deste ano. Quando Pazuello coordenava a Operação Acolhida em Roraima, Cascavel era seu assessor especial, a partir de quando começavam inclusive a visualizar voos altos na política partidária.
Agora citado na CPI, Cascavel passou a ser apontado como o “número 2” do Ministério da Saúde no tempo de Pazuello, que está todo enrolado no suposto esquema da vacina. Não à toa, assim que assumiu a Secretaria de Saúde de Roraima, em um momento crítico, Cascavel largou tudo para acompanhar o depoimento de Pazuello na CPI da Covid, em Brasília, supostamente em “solaridade ao seu ex-chefe”.
O secretário da Saúde demissionário já sabia o que lhe aguardava, pois havia sido procurado pela imprensa para se pronunciar. Sabia que poderia estar no “olho do furacão” e que sua vida passaria a ser investigada pela CPI da Covid. Por isso decidiu sair pelas portas dos fundos alegando que precisava se tratar de coronavírus.
Agora é esperar o desenrolar dos fatos. Até aqui, o Estado de Roraima protogonizou o caso mais emblemático durante uma operação da Polícia Federal no famoso escândalo do dinheiro na cueca. Ao demitir-se, Cascavel acabou poupando o governador Antonio Denarium (sem partido) de ter um secretário citado em um escândalo em nível nacional.
Da CPI do Senado, o governador só se livrou graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto isso, a CPI da Saúde da Assembleia Legislativa de Roraima se faz de desentendida para tentar não envolver Denarium nas investigações, mesmo ele tendo um irmão citado por um ex-secretário de Saúde durante depoimento.
Ainda tem muita coisa para acontecer. É esperar agora os próximos capítulos. E as expectativas não são nada boas para a saúde pública, especialmente em Roraima.
*Colunista