Oficialmente, estamos de volta à velha política, da qual nunca saímos
Jessé Souza*
A “nova política” prometida pela onda bolsonarista que varreu o país, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cuja bandeira era acabar com a corrupção no país, inclusive com o fim do toma-lá-dá-cá no Congresso Nacional, não passou de um sonho para muitos brasileiros.
A minirreforma ministerial anunciada pelo governo, esta semana, é a oficialização da volta à velha política, da qual, na verdade, nunca o país conseguiu sair dela. Se tudo foi uma grande farsa, o tempo dirá. Mas o fato é que uma grande parcela da população chegou a acreditar em um novo projeto.
Com as mudanças anunciadas por Bolsonaro, o maior símbolo do toma-lá-dá-cá, o Centrão, passou a comandar a política brasileira com mais força do que já tinha. Não se trata apenas do controle de R$ 16,5 bilhões em “emendas-chave” para atender aos caciques políticos da Câmara e do Senado, mas também passou a ter em suas mãos a manuteção de Bolsonaro no cargo, que se tonrou uma espécie de useiro e vezeiro do Centrão.
Também será recriado o Ministério do Trabalho só para acomodar Onyx Lorenzone, desapeado da Casa Civil, que foi entregue para Ciro Nogueira, a expressão maior do Centrão dentro do governo Bolsonaro. A criação de um ministério vai contra a promessa de bolsonaro que prometia justamente o inverso. Da mesma forma que demonizava nomeações em troca de apoio, o toma-lá-dá-cá.
Aliás, prometer e não entregar é o forte deste governo. Prometeu uma nova política ambiental, mas o então ministro Ricardo Salles foi flagrado com a mão na botija, fazendo exatamente o inverso da atribuição de seu cargo, passando a proteger uma grande madeireira que foi alvo de uma operação policial.
Salles saiu do cargo após começar a ser investigado pela Polílcia Federal no escândalo que envolveu a maior apreensão de carregamento da madeira extraída ilegalmente na Amazônia, cuja carga foi enviada com documento fraudado para os Estados Unidos.
A nova política ambiental nunca sequer existiu como ainda apoiou e incentivou o avanço do garimpo ilegal, a exemplo do que vem ocorrendo na Terra Indígena Yanomami, inclusive com surgimento de milícias garimpeiros que atacaram os indígenas a tiros e bombas, além de enfrentarem agentes da PF na bala.
Prometeu combater a violência, com liberação de armas para cidadãos comuns, mas o que se vê é o avanço de milícias agindo nas favelas cariocas e nas periferias brasileiras, com o crescimento do poder de facções criminosas que mandam e desmandam a partir dos presídios.
E a economia? Prometeu consertar, mas não entregou. Hoje os país de família se espremem na fila do açougue para receber doação de osso e buscam nos supermercados arroz e feijão quebrados, modalidades estas adotadas para oferecer produtos mais baratos diante da carestia do preço dos alimentos.
Enfim, estamos de volta à velha política, que antes ainda tentava se disfarçar quando abertamente o governo colocava em curso um ataque sistemático a todos os direitos conquistados pelos trabalhadores brasileiros e povos tradicionais, enviando projetos de lei ao Congresso suprimindo inclusive garantias constitucionais.
Agora não há mais máscaras, a não ser aquelas exigidas como proteção ao coronavírus, cujo poder letal do vírus vem sendo negado por este governo desde o começo da pandemai, que fez de tudo para adiar a compra de vacinas contra a Covid-19, enquanto um grupo fazia negociatas em troca de propinas.
Bem-vindos de volta ao velho Brasil. É o que chamamos de a volta dos que nunca foram!
*Colunista