Uma pincelada nos municípios que vivem a velha política ao extremo
Jessé Souza*
Enquanto a máscara da nova política caiu no atual governo, cujo coração foi entregue ao fisiologismo do Centrão do Congresso Nacional, a velha política nunca saiu da alma dos políticos lá na ponta, nos estados e municípios, onde tudo começa, onde moram e vivem os cidadãos que elegem os políticos para os cargos em todos os níveis.
A picaretagem que está sendo exposta no escândalo da vacina, no Senado, não é muito diferente da realidade que se vê nos municípios de longas datas. E Roraima vem vivenciando essa velha política na sua máxima expressão nos últimos dias. Vamos aos fatos.
A Justiça cassou o diploma do prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (Republicanos), e do vice, Simeão Peixoto (PV), decidindo por novas eleições. Junto com uma secretária e um servidor, eles foram condenados por realizar ações ilegais para promover chapa nos meses anteriores às eleições de 2020.
Antes disso, a Polícia Federal havia deflagrado, em fevereiro deste ano, uma operação que investiga fraudes e desvios envolvendo contratações de aproximadamente R$ 10 milhões da Prefeitura de Pacaraima, inclusive com recursos destinados ao enfrentamento da Covid-19.
Mais recentemente, o mesmo prefeito de Pacaraima e o prefeito Iracema, Jairo Sousa, já haviam sido multados pelo Tribubal de Contas do Estado (TCE) em R$402 mil, aproximadamente, cada um, por deixarem de cumprir determinações do próprio TCE para o funcionamento de forma legal do Conselho de Saúde de cada região.
Também foi condenada na mesma decisão do TCE a ex-prefeita de Amajari, Vera Lúcia Cardoso, município este onde há muitos fatos a serem esclarecidos, especialmente na área de saúde no combate à pandemia, revelando a extensão dos problemas da velha política impregnada país afora.
A então prefeita aplicou boa parte dos recursos destinados ao coronavírus para borrifar ruas e móveis de residências. E instalou uma barreira sanitária inócua, pagando diárias e justificando gastos de recursos, ação esta que segue até os dias de hoje, já com a nova administração.
Enquanto este artigo estava sendo escrito, a Polícia Federal dava andamento a uma diligência dentro da operação que apura fraude e superfaturamento na aplicção de R$4 milhões de recursos federais destinadas ao combate da Covid-19 no Município de Rorainópolis.
O recurso foi para compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e insumos para atender os pontos de atendimentos de saúde no enfrentamento do coronavírus e as necessidades da Secretaria Municipal de Saúde, postos de saúde e programas de saúde visando a prevenção do vírus naquele município.
Conforme os autos, a forma de operar é semelhante aos demais casos nos governos: organização criminosa com apoio de um grupo político e de um grupo empresarial, cujos investigados estão o prefeito do município, o secretário de Saúde e o sócio administrador da empresa beneficiada.
Enquanto isso, os municípes de todas as lecalidades sofrem as mais duras consequências na saúde pública, com atendimento limitado e precário, e onde mais precisar de serviços mais básicos, como uma terranplanagem em sua rua ou em sua vicinal, por exemplo. É a velha política no comando, com as velhacarias de sempre, que se revezam no poder.
A CPI da Covid está mostrando que o país está sob o comando de militares fisiologistas, pastores vendilhões do templo, milicianos e aquelas pessoas que se valem do nome de Deus, da Pátria e da família. E tudo pincelado com passeios de motos pelo país em berço esplêndido.
Enquanto isso, nos municípios… Bem, aí é só verificar as últimas decisões em Roraima e as acusações que pesam contra prefeitos e ex-prefeita nesses últimos dias. Se for puxar pela memória, tem muito mais envolvendo outra ex-prefeita, ex-senador, ex-governadores, parlamentares em todo os níveis e toda gente da velha política que comanda Estado e municípios.
*Colunista