Jessé Souza

JESSE SOUZA 12477

A juventude em risco e o discurso político que não se sustenta à luz da realidade

Jessé Souza*

Em explícita campanha para ser conhecida no interior do Estado, visando seus planos políticos imediatos, a ex-prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), foi acometida por um surto de realidade curioso. Em entrevista recente, afirmou que os “municípios do interior não têm políticas públicas para jovens” e que o Governo do Estado havia abandonado esses moradores.

Analisando friamente, Teresa tem razão. Mas em termos. Pois não foram apenas os municípios do interior nem tão somente o Governo do Estado. A Prefeitura de Boa Vista foi quem mais abandonou as crianças, os jovens e adolescentes especialmente nos quase 20 anos que ela comandou a cidade, que é uma Capital-Estado, onde está concentrado 70% da população roraimense.

A juventude está largada há tempos, e a ex-prefeita não precisa gastar muita gasolina para constatar isso. Basta ela sair de sua casa, que fica em uma fazenda com cerca de 600 hectares no bairro Cidade Satélite, e se dirigir ali perto, a cerca de 500 metros, para ver a realidade do Residencial Vila Jardim – que é sua vizinhança mais próxima, pois esse conjunto foi construído numa área desmembrada de sua fazenda (mas essa é outra história, da qual poucos querem lembrar).

Por ser o maior conjunto habitacional do Estado, fica mais visível a realidade daquelas pessoas, com crianças, jovens e adolescentes perambulando pelas ruas daquele local, na completa ociosidade ou sujeitas a qualquer vulnerabilidade, especialmente a mercê do tráfico de drogas, que é uma das portas para entrar na criminalidade e, por conseguinte, a uma cooptação pelo crime organizado.

Enquanto o Governo do Estado acabou com os programas sociais e também os estudantis para os jovens, a exemplo da Bolsa de Estudo, e sequer um dia pensou em um Bolsa Atleta, a Prefeitura de Boa Vista, nas seguidas administrações de Teresa Surita, acabou com todos programas sociais; todos, em especial o Guarda Civil Mirim e os Meninos do Dedo Verde.

Para se ter uma ideia da extensão desse problema, o “Dedo Verde” acabou sendo devorado do dentro do bolo da maior contratação já vista em Roraima em uma prefeitura, que foi a da empresa paulista Sanepav, que ganhou mais de meio bilhão de reais durante as administrações de Teresa para fazer a limpeza urbana e o trabalho de jardinagem da Capital.

Com esta vultosa semana, bem que a Prefeitura poderia ter cobrado da Sanepav – que está sob investigação da Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) do Lixo – para que desse uma contrapartida social mantendo o programa Meninos do Dedo Verde. Mas nem isso. O programa acabou e extinguiu uma ação que deveria ter sido incentivada e ampliada, que poderia servir como exemplo para as demais prefeituras e o próprio Governo do Estado.

Sem quaisquers perspectivas e sem programas sociais, de lazer, cultura ou esportivo, adolescentes estão exercitando sua ociosidade nas praças públicas, as quais foram reformadas como principal política de Teresa Surita, totalizando 29 praças, fora as outras áreas de lazer, onde o tráfico de droga vem ocupando os espaços, aos poucos, expulsando as famílias com suas crianças.

Sem uma política que enfrente a ociosidade, em todos os níveis de governo, não terá recurso público suficiente para fazer manutenção dessas praças e outros prédios público. A propósito, a Prefeitura acaba de contratar a empresa AS Construções e Serviços, pelo valor de R$15,5 milhões para manutenção dessas praças, áreas de lazer, abrigo de ônibus e prédios públicos. É muita grana!

Como se pode notar, Teresa reclama de um problema do qual ela mesma faz parte, pois ainda é gestora municipal. Sua administração foi um desastre em políticas sociais e programas para a infância, adolescência e juventude. Se ela quer ser lembrada por praças, okay, tudo bem! Que o povo avalie. Mas não pode querer se livrar de um problema do qual ela também faz parte como gestora e como política. Aí é desafiar demais a inteligência das pessoas.

*Colunista