Política da vela na mão à noite e do balde para aparar água durante o dia
Jessé Souza*
Enquanto as empresas Roraima Energia e a Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) entram em um confronto público, por meio de acusações mútuas, a população roraimense sofre as mais duras consequências nas seguidas falhas de abastecimento de energia elétrica e água potável em suas residências.
Porém, o que veio à tona a partir desse embate foi a informação, dada pela Roraima Energia, de que a Caer deve R$354 millhões de conta do consumo de energia não paga desde 2005, cuja dívida só se amplia com o não pagamento da fatura mensal do consumo.
A revelação desse grande rombo, que certamente cairá no colo do consumidor roraimense, que já come o pão que o diabo amassou, fez com que deputados da base governistas saíssem de sua zona de conforto. Eles reclamaram da deficiência do serviço de fornecimento de energia no interior e apontaram a necessidade de pedir a suspensão da concessão pública da emepresa fornecedora de energia.
O fato que mais interessa dentro desse embate, para a opinião pública, é que nenhum dos lados está mentindo. A Caer, afundada em dívidas milionárias e sempre loteada para grupos políticos a cada governo, não consegue solucionar o mais básico problema da falta de água nos bairros da Capital e nos municípios do interior.
A Roraima Energia, por sua vez, com seu serviço altamente agressor ao meio ambiente com queima de óleo diesel, também impõe um serviço deficiente e precário, especialmente no interior do Estado, depois do setor energético roraimense ter sido leiloado a preço de banana em fim de feira. O apagão que Boa Vista enfrentou recentemente é rotineiro em vários municípios.
O grande abacaxi está aí para ser descascado, com acusações mútuas para saber quem tem mais culpa no cartório, enquanto a população sofre com falta de água e luz constantemente. A trocação de acusações públicas serve a um propósito político, mas intessa para a opinião pública como fato elucidador do que está sendo mantido oculto.
Mas o que importa mesmo ao contribuinte é que, a partir dessa lavagem de roupa suja, os problemas comecem a ser solucionados, pois as duas empresas fornecem produtos essenciais para a vida da população. Cabe ressaltar que, apesar da privatização, a empresa de energia recebeu uma concessão pública e ao público deve toda satisfação.
É estarrecedor o que está ocorrendo com a Caer, servindo sempre a propósitos partidários de seguidos governos e, diante do que foi revelado, indica que os desmandos administrativos continuam, seguindo em mãos de grupos políticos que conseguem mal resolver as demandas no varejo para mostrar que se está fazendo algo.
Não menos preocupante é a realidade do serviço de fornecimento praticado pela Roraima Energia em todo o Estado, impondo a população ao pagamento de uma das energias mais caras do país sem proporcionar um fornecimento minamente de qualidade para os consumidores, com destaque para os municípios mais pobres.
A população do interior é a que mais sofre. No Município do Amajari, por exemplo, onde tem o único ponto turítico consolidado do Estado, a Serra do Tepequém, a falta de energia é constante e a queda de tensão um problema corriqueiro, causando transtornos a turistas, bem como seguidos prejuízos a moradores e empresários do turismo.
Nessa região, o problema é em dobro, pois a falta de enegia afeta diretamente a internet, a única forma de comunicação por meio de rádio, pois não há uma única empresa de telefonia atuando no local, apesar do movimento de quase 5 mil turistas em fins de semana e feriados prolongados. Mas essa é outra questão e outro sério problema.
Então, já que os problemas dos fornecimentos de água e luz foram colocados à mesa, dando mais clareza à opinião pública, agora é hora de se discutir a solução. É perturbador que a população de Roraima continue sofrendo com falta de luz, água e internet corriqueiramente.
Também é uma vergonha para os políticos e administradores públicos saber que eles comandam um Estado obrigado a viver de vela na mão à noite e um balde para aparar água durante o dia. Roraima se tornou o símbolo do que uma política sem escrúpulo é capaz de fazer com uma população, que por sua vez sabe que está apanhando por não saber votar.
*Colunista