Após a festa, a realidade de um Estado acossado pela pobreza ampliada pela imigração
Jessé Souza*
Um dos fatos que se pôde concluir da manifestação de 7 de setembro em Boa Vista, no feriado do Dia da Independência desta terça-feira, é que ela foi patrocinada por um grupo de empresários já conhecidos, amigos e apoiadores do governador Antonio Denarium (sem partido).
Sendo assim, o evento acabou servindo para testar a popularidade de Denarium, eleito sob a bandeira bolsonarista e que pretende continuar (ou acha que ainda pode continuar) surfando nesta onda. Afinal, ao assumir o governo, ele não escondeu sua opção preferencial pelo agronegócio, com explícito apoio aos grandes empresários.
Desta forma, o governador se vestiu de verde e amarelo para se misturar aos manifestantes no evento organizado por seus apoiadores do agronegócio, na Praça do Centro Cívico, não apenas para ser visto como um político “fechado com o mito”, mas também para se parecer acessível aos braços do povo.
Embora Roraima tenha um eleitorado explicitamente bolsonarista, com 71,5% dos votos no segundo turno, pela repercussão nas redes sociais, será preciso muito mais que colar em Bolsonaro (sem partido) para o governador alcançar uma popularidade que o permita continuar sonhando com sua reeleição ou achar que ele se tornou um grande político e que assim poderá repetir a votação de sua eleição ao governo.
De sua principal promessa, que foi acabar com a corrupção em Roraima, até agora não se viu nada. A saúde pública, por exemplo, com sua corrupão sistêmica, só está respirando hoje graças a ação da Polícia Federal que, com suas operações, flagrou os aliados governistas com arma, dinheiro (inclusive na cueca) e até ouro.
O governador tentou seguir a pauta bolsonarista pró-garimpo, sancionando uma lei flagrantemente inconstitucional liberando a garimpagem com uso de mercúrio, que é altamente poluente. Mas o Supremo Tribunal Federal (STF) não tardou ao responder um recurso para suspender a lei de Denarium. O ICMS só foi reduzido mesmo para combustível de aeronaves, as quais são apreendidas a cada operação da PF contra o garimpo.
Já que os manifestantes pró-bolsonaro foram para a rua em apoio ao presidente, então Denarium sentiu-se confortável na Praça do Centro Cívico para circular entre as pessoas. Mas ele não pode achar que essa manifestação foi uma arrancada para sua almejada popularidade. Porque a realidade de Roraima não anda nada bem.
De concreto mesmo, o que restou depois da mobilização foram a carestia dos alimentos, que continuam com os preços sendo remarcados no supermercado, o valor absurdo da gasolina, da energia e do gás de cozinha, além da pobreza aumentando ainda mais, com um quadro de desesperança sem ampliando por causa da chegada de mais venezuelanos diariamente, o que só agravará a pobreza.
Com o anúncio da vinda do presidente Bolsonaro no fim de mês a Roraima, com uma possível ida ao Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, o que se espera é que Denarium tenha respaldo para conseguir apoio do Governo Federal a fim de ajudar o Estado com a crise imigratória. Porque não adianta ir à fronteira para gravar um vídeo somente para “mostrar o que o comunismo fez com a Venezuela”.
A visita oficial de Bolsonaro pela primeira vez ao Estado, depois de eleito, é o teste de Denarium perante o eleitorado, o qual espera uma solução para o que está por vir diante da migração em massa de venezuelanos. Além disso, é necessária uma guinada da opção preferencial pelos grandes produtores para uma ação em favor dos pequenos.
*Colunista