Jessé Souza

JESSE SOUZA 12559

O cenário dos carrões reluzentes nas vicinais mais longínquas do Estado

Jessé Souza*

Nesses últimos tempos, o que mais se observa são políticos desfilando pelas diversas regiões do Estado não apenas como forma de construir alianças com as lideranças locais visando as eleições futuras, mas também para conhecer as diversas localidades do Estado (sim, conhecer!).

O curioso é que não temos nenhum político novato, recém-chegado. Todos já têm uma carreira política consolidada, até mesmo os que se diziam “não políticos” nas últimas campanhas eleitorais. Podiam até serem calouros como candidatos, mas já tinham ligações com os políticos tradicionais.

Até mesmo os que chegaram na década de 1980, era para que todos já conhecessem a realidade do Estado de Roraima, suas diversas regiões, diversidade e dificuldades. Mas muito não conhecem porque sempre trataram esta terra como um sítio, onde só ficavam aqui para tratar de negócios, mas caíam fora na primeira oportunidade.

Houve um tempo, no início da década de 1990, que haviam jornais que se dedicavam a questionar onde estavam o prefeito (ou a prefeita) e o governador em feriados das datas comemorativas, como o aniversário do Município e o aniversário do Estado, pois geralmente os políticos pegavam o primeiro avião para curtir o feriadão bem longe.

A política roraimense é repleta de aventureiros na política. Há o caso de um político que, assim que se elegeu deputado federal, não colocou mais os pés em Roraima. Haviam governadores biônicos que não tinham a menor ligação e apreço com este local. Os políticos viviam mais viajando a passeio do que trabalhando para os cargos aos quais foram eleitos.

E assim construímos políticos que não conhecem a realidade do Estado. No máximo visitaram algumas regiões quando foram pedir votos em tempos de campanha eleitoral. Alguns nem isso. Outros viviam da área central de Boa Vista para o Aeroporto Internacional de Boa Vista, no final da Avenida Capitão Ene Garcez.

Existiam casos de esposas de governadores que odiavam a periferia de Boa Vista, e, obrigadas ao rito político do cargo de primeira-dama, tinham uma secretária espefícica para levar uma garrafa de álcool e uma tolha para higineizar as mãos depois do aperto de mãos com os pobres.

É por isso que ainda vivemos cenas de políticos que, apesar de estarem por aqui há 30 ou 40 anos, ainda não conhecem o Estado. Porque se negavam a conhecer mesmo e viviam na ponte aérea todos os fins de semanas, feriados e fins de ano.

Muitos até tiravam férias de Roraima quando perdiam a eleição, inclusive com direito a despedida com “tchauzinho” na sacada do aeroporto. Com um bom sítio que era, onde seus donos só vão para tratar de negócios, deixavam seus peões tomando conta de seus negócios. E davam ordens de onde estivessem até que chegasse nova campanha eleitoral.

Não é à toa que muitos eleitores, nos confins desse Estado, nunca viram boa parte de nossos políticos pessoalmente. Não só isso, que não é o mais importante. Muitos nunca viram uma ação de governo (incluindo aí o estadual, o federal e o municipal) em sua região; ou até hoje muitos cobram uma obra no seu bairro na periferia de Boa Vista.

O cenário de carrões desfilando em vicinais e estradas longínquas revela uma antecipação da campanha eleitoral. Além disso, desnuda a face de políticos que desconhecem a realidade destas pessoas, seja porque nunca tiveram interesse em conhecê-la, pois estavam passeando ou tratando de seus interesses, como também não têm compromisso com essa gente, a não ser o de pedir o voto.

*Colunista