Jessé Souza

JESSE SOUZA 12628

Mortes no trânsito boa-vistense e a culpa creditada na conta dos gestores públicos

Jessé Souza*

A morte do cinegrafista Sidimar Mota, de 59 anos, vítima de acidente de trânsito na manhã de segunda-feira, 27, pode ser creditada na conta da Prefeitura de Boa Vista, inclusive não só da ataual gestão como também da anterior. Afinal, o atual prefeito Arthur Henrique (MDB) já era vice-prefeito na administração anterior e, antes, também foi secretário.

Sem contar que a ex-prefeita Teresa Surita (MDB) atualmente é consultora-geral da Prefeitura, cargo criado por ela mesmo antes de deixar o cargo, no final de 2020, com as bençãos da Câmara de Vereadores, cujo aliados aprovavam tudo o que aquela administração queria.

Pois bem. O cinegrafista Sidmar Mota morreu em uma colisão no cruzamento das avenidas Santos Dumont e Benjamim Constant, no bairro São Pedro. Nesse cruzamento, sempre ocorrem acidentes graves, porém nunca recebeu a instalação de um semáforo. Aliás, o local fica em frente ao prédio do Ministério Público, a quem compete também fiscalizar o município.

São vários cruzamentos que precisam, de forma urgente, a instalação de semáforos, não só na área central da cidade como também nas movimentas ruas e avenidas dos bairros da zona Oeste, onde o fluxo é constante inclusive nos fins de semana e onde morre gente constantemente em colisões, principalmente envolvendo motociclistas.

Óbvio que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) regula a preferência até em cruzamentos não sinalizados. Porém, na administração de Teresa Surita, foram gastos R$68 milhões em um projeto de mobilidade urbana que sequer contemplou, como uma das prioridades, a instalação de semáforos numa cidade onde a frota de veículo aumenta a cada ano e onde a imprudência por parte dos condutores é rotineira e vergonhosa.

Boa Vista é carente de semáforos, onde se priorizou rotatórias que não tardaram a ficarem ultrapassadas. O curioso é que a Prefeitura não consegue amenizar o problema, a ponto de fazer festa na imprensa quando instala alguma sinaleira com pelo menos 10 anos de atraso. É tão surreal que as pessoas morrem nesses cruzamentos, mas as autoridades de trânsito não tomam providências para instalar semáforos nesses locais.

O contribuinte paga até hoje esses R$68 milhões do projeto de mobilidade, oriundos de um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, cujo contrato foi assinado em fevereiro de 2014. Passaram-se sete anos, e a Capital segue com os graves problemas, os quais só pioram com a chegada de mais imigrantes, os quais mostram-se sem qualquer noção qualquer de trânsito.

Não adianta querer jogar culpa só na imprudência do boa-vistense e dos imigrantes que chegam desorientados. Porque inexistem campanhas educativas, faltam semáforos e a engenharia de trânsito não acompanha o crescimento urbana, a exemplo da falta de passarelas para pedestres e de viadutos em cruzamentos que se tornaram perigosos, o que deveria ter sido prioridade no planejamento para preparar Boa Vista para o futuro.

É por isso que a morte do cinegrafista Sidi tem que ser creditada na conta da Prefeitura e dos seus gestores, do atual e da anterior. E assim devem ser lançadas na conta dos gestores as demais mortes que ocorrem e que ocorrerão em outros cruzamentos onde falta o básico, como semáforos e câmeras de segurança, ou onde houver desleixo das autoridades para tornar o trânsito mais seguro.

No mínimo o que vereadores poderiam ter feito, nas legislaturas passadas, é ter fiscalizado a aplicação de toda aquela dinheirama em um projeto de mobilidade urbana que não tem conseguido salvar vidas de pais de família por falta de semáforos. Isso é inadmissível. E os vereadores atuais? O que estão fazendo para mudar esse quadro? Estes também não devem ficar imunes às responsabilidades…

*Colunista