Opinião

Opiniao 12673

Condições filosóficas que definem a pessoa humana

Sebastião Pereira do Nascimento*

A partir de uma teia conceitual, ao longo da existência da humanidade muitos pensadores trataram de identificar o que é a pessoa humana. Entre várias argumentações a respeito desse entendimento, uma que despertou atenção foi a definição do filósofo romano Boécio, o qual entende o ser humano como uma substância racional de natureza individual, portadora de uma dignidade e de uma responsabilidade ímpar.

Embora esse conceito se distancia de tantos outros, Boécio se posiciona acentuando a compreensão humana sobre uma valorização, que a priori, é digna de uma vida inalienável, não sendo só um atributo ou uma concessão de algo ou alguém. Boécio adiciona ainda que só pelo fato de ser humano, o sujeito já é digno. Definição que parece ser unânime nas concepções do pensamento filosófico, salvo raras exceções que podem e devem ser discutidas conceitualmente.

Da conceituação humana sugerida por Boécio, entendemos ser uma argumentação importante, visto que na medida em que ao interpretar o indivíduo o filósofo enfatiza a dimensão da natureza racional e o caráter individual/social para definir a pessoa. Assim, dentro do que possamos entender o que seja uma pessoa humana, ratifico as observações acima complementando que apesar da pessoa ser uma entidade individual, ela passa ser uma entidade social do mesmo modo que é uma entidade racional. Razões pelas quais muitos autores convergem para esse significado.

Quanto à natureza racional, é algo que permite levar a pessoa humana a desenvolver habilidades, competência e, sobretudo, o aprimoramento constante. Ao passo que pode também levá-lo ao pensar bem que, por sua vez, leva ao emprego das virtudes morais norteadoras da conduta do bem individual e coletivo, fazendo com que o sujeito – através da logicidade e serenidade – seja capaz de escolher a melhor opção, do ponto de vista da normalidade social.

Aqui cabe dizer também, o quanto das virtudes morais se entrelaçam com o crescer da pessoa humana. Onde em muitos tratados filosóficos, as virtudes são apreciadas como regulação das forças que impulsionam a vida, numa afirmação sadia do poder humano de existir, em especial do poder de nossa alma – onde cada segmento da alma deve atuar de acordo com a virtude que lhe corresponde – sobre os impulsos irracionais dos nossos apetites. Além disso, Tomás de Aquino, quando se refere às virtudes, percebe o quão importante são seus atributos para a pessoa humana, sobretudo no contexto das virtudes aristotélicas, o qual as considera que devem, por excelência, reger as outras; pois, sem elas, as demais seriam disposições cegas ou indeterminadas e não seriam mais do que apenas habilidades humanas.

Outra questão que revigora o teor humano, é o fato do sujeito optar por viver em grupos sociais cuja função é satisfazer a convivência comum, a qual, sem essa coletividade, a satisfação social se tornaria inviável. Boécio sugere então que quem escolhe fazer o bem coletivo não é apenas feliz, mas também é partícipe de uma significância muito maior. Diante disso, fica entendível que a pessoa humana não é plena só por sua dignidade ímpar, ela necessita compartilhar “seu bem” com outras pessoas para que atinja essa plenitude.

Todavia, isso deve ser cruzado com diferentes valores inerentes às qualidades da pessoa humana, sendo essa interseção muito importante para a prática do dia-a-dia de cada pessoa, uma vez que ela é “induzida” a unir sua “vontade de potência”, como manifesta o filósofo prussiano Nietzsche, numa possibilidade de reforçar nos valores essenciais prementes, toda a condição humana, mesmo que em diferentes níveis exercidos entre cada indivíduo.

 

Para Nietzsche, o ser humano projeta de alguma forma, fora de si, seu instinto de vontade, seu alvo para construir o mundo que é considerado um mundo metafísico, a coisa em si, o mundo da sua existência. Sua necessidade de partilhar “inventa” de antemão o mundo no qual vive e se antecipa, sendo essa antecipação o sustentáculo da sua vida e de seus semelhantes.

O filósofo admite ainda que a finalidade dessa antecipação é consequente da vontade de potência que se realiza em tudo o que acontece em volta do indivíduo; o qual traz consigo as condições que se assemelham a um esboço de finalidades. Pois, na medida em que alguém se dispõe em oferecer algo é sempre desejoso atribuir o maior grau possível de valor humano, no sentido de mostrar até que ponto podem as coisas carecer de sentido para nós ou até que ponto nós podemos suportar viver num mundo sem sentido.

Por outro lado, isso implica numa rede de entendimento que garante ao indivíduo as condições essenciais mínimas para uma vida saudável e coletiva, além de propiciar e promover a corresponsabilidade no destino de sua própria existência, uma vez que Boécio diz que temos a invenção filosófica da dignidade humana como balizamento para tais deliberações e escolhas.

Portanto, reconhecer a grandeza da pessoa humana (e suas limitações), edificar uma vida oxigenada de boas intenções e construir perspectivas que garantam a felicidade individual e coletiva são condutas exequíveis e motivações que permitem o sujeito reconhecer a sua própria natureza humana.

Assim, acreditamos que é preciso sempre avançar na ampliação daquilo que somos, pois como ser singular, nós somos apenas uma parte do todo humano, e só nos tornamos realizados plenamente na medida em que unimos todas as individualidades e antecipamos o bem. Por outro lado, sem essas motivações – e sem a consciência –, não há como nos qualificarmos como pessoa humana.

*Filósofo, Consultor Ambiental e Escritor. Autor das obras “Sonhador do Absoluto” e “Recado aos Humanos”. Editora CRV.

Coragem para Perseverar

Debhora Gondim

Hebreus 12:1

Vivemos dias difíceis. Tem dia que nos perguntamos se o período de pandemia vai mesmo acabar. Não sabemos o que mais virá pela frente. Fora a realidade em que o mundo se encontra, temos a nossa realidade, dentro da comunidade em que vivemos e, da família que pertencemos, dentro de nós mesmos. Realidade que nem sempre está como gostaríamos. Daí o medo e o desânimo batem na porta e não chegam sem trazer com eles a vontade de abandonar a caminhada, chutar o pau da barraca, expressão muito falada por nós brasileiros.

Quando isso acontece existe um perigo instalado em nosso ser, pois pode nos levar a caminhos cada vez mais distantes do que Deus gostaria que trilhássemos. Trazendo-nos a ilusão que estamos no caminho. E que os prazeres momentâneos que encontramos no percurso deste mundo pode nos ajudar a acabar com a dor e a aflição que estamos passando. Mas a realidade é que pegamos uma rota de fuga e ela geralmente nos leva para abismos.

A palavra de Deus nos dá o exemplo do atleta que percorreu todo o trajeto que foi determinado para ele e no final alcançou o prêmio (1 Coríntios 9:24). Sabemos que todo maratonista só tem seu percurso validado, mesmo não alcançando o primeiro lugar, se estiver correndo dentro da quilometragem que foi determinado desde o princípio para ele. Atalhos não são permitidos, mesmo quando o trajeto original apresenta obstáculos e quando parece que nunca chegará ao final. Assim também é nossa caminhada com Cristo. Não pegue atalho siga o trajeto planejado por Deus. Semelhantemente, nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras (2 Timóteo 2:5).

Sei que pode estar difícil. Sei que pode estar sofrendo. Sei que pode estar vivendo uma realidade diferente do que planejou. Sei que o nevoeiro e a escuridão podem está lhe impedindo de enxergar a Luz. Sei que a tempestade pode está fazendo o barco balançar e você tem medo de naufragar. Sei que as lembranças de um passado traumático podem estar te fazendo ter medo de prosseguir e entender que pode viver coisas novas, mesmo em meio aos seus erros recentes.

A Palavra de Deus para você hoje é: tenha coragem para perseverar no caminho que Ele traçou. Só os corajosos perseveram até o fim. Persevere em meios às dores, em meio à doença, em meio à falta de recursos, em meio ao desemprego, em meio aos traumas, em meio às quedas no percurso, em meio às perdas, em meio às frustrações. Persevere até o fim. Mas não ache que fará isso e alcançará por sua força ou inteligência. Mas só em Cristo, através da ação do Espírito Santo, conseguimos ter coragem e forças para prosseguir. Perseverança até o fim de nossas vidas.

O verdadeiro vencedor é aquele que percorreu o trajeto planejado por Deus, mesmo que tenham existido quedas, levantou e contínuo a caminhada. Levando cicatrizes sim, mas também carregando o tesouro dentro de si, Cristo. Tudo é por Ele, por meio Dele e para Ele. Que possamos viver e chegar ao fim de nossas vidas glorificando a Deus em tudo e em qualquer situação. Olhemos para a eternidade.

Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno (2 coríntios 4:16-18).

*Teóloga e Professora

Abrindo a cortina

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo”. (John D. Wey)

A atividade de educar vai muito além do que vimos fazendo. Ainda não nos tocamos para a responsabilidade no educar. Como devemos preparar o futuro do nosso País, na educação dos nossos filhos. O processo usado para a educação, durante a pandemia está me preocupando. Como será que iremos recuperar o pouco-muito que perdemos com o processo de educação no lar. Talvez tenha valido para percebermos que a educação começa no lar, mas não sem a participação da escola. O contraditório aparente, quando dizemos que as escolas não educam, ensinam, é válido. O lar educa.

Só quando formos devidamente educados para entender as diferenças entre ensinar e educar estaremos prontos para a educação. Não está fácil educar os filhos no lar, com o desenvolvimento atual, no despreparo para as mudanças. O Nelson Mandela já disse que “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Não há outra arma mais poderosa para as mudanças. Porque nunca mudaremos o mundo sem mudarmos a nós mesmos. Vamos fazer nossa parte na construção do novo mundo. Porque não a estamos fazendo, por falta de educação.

Busque em você mesmo o poder de que você necessita para construir um mundo melhor para seus descendentes. Não se esqueça de que eles irão viver o mundo deles, e não o seu. E nós, no mundo de hoje, ainda não somos capazes para mudar. Continuamos esperando que os outros façam por nós o que nós mesmo deveríamos fazer. Vamos ser mais rigorosos no querer. Mas para isso precisamos saber o que realmente queremos. Procure ver o que você está vendo no movimento político mundial. Talvez você não esteja vendo o que deveria ver.

Seu falar depende do que você vê, ouve e escuta. Um volume que deve ser levado em consideração na construção do que construímos. E queiramos ou não, cada um de nós está construindo o futuro. O que nos obriga a sermos mais criteriosos no que fazemos. E nunca faremos o que deveríamos fazer, enquanto não formos seres educados, independentemente da nossa origem. Vamos cuidar da nossa educação para que sejamos os cidadãos que merecemos ser. E se merecemos, busquemos. Vamos parar com os blá-blá-blás inúteis e exigir dos nossos políticos mais atividade na busca da nossa Educação. Porque sem ela não seremos cidadãos. Continuaremos votando por obrigação, quando deveríamos votar por dever de cidadão. Chega de engodo
e atitudes vexatórias que nos envergonham, em vez de nos educar. Mas não deixe de fazer sua parte na tarefa hercúlea, mas necessária. Pense nisso.

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