Parabéns, FolhaBV, estamos ultrapassando os tempos mais obscuros! Jessé Souza*
São 30 anos da minha vida dedicados ao jornalismo. Desse total, 20 foram dedicados ao jornal Folha de Boa Vista. Lembro exatamente de quando cheguei pela primeira vez para conhecer a empresa antes de me tornar funcionário. Eram máquinas de datilografia na Redação, réguas, cola e tesouras na diagramação e peças de chumbo para montar as páginas de jornal.
Eu queria aquilo, aquela confusão organizada no final, onde o cheiro de papel e tinta parecia empreguinar uma alma que pedia um significado na vida. E assim foram 20 anos seguidos de missão cumprida, de onde galguei de repórter a editor-chefe por mais de longos 10 anos de minha vida. Saí da litotipo e da máquina de datilografia para uma rotativa que imprimia páginas coloridas; pulei da fotografia revelada em um laboratório escuro, com cheiro forte de química, para computadores silenciosos e cliques mágicos de uma máquina digital; do papel que se amassava à primeira leitura à tela virtual de um computador ou qualquer instrumento à mão, como um celular, que tem vida própria.
E hoje chegamos aos 38 anos da Folha de Boa Vista, exatamente depois de dois anos de pandemia, quando o papel e tinta foram sepultados solenemente com a supremacia do mundo digital. Tivemos que nos reinventar, reaprender a fazer a leitura da vida e do mundo, por meio de veículos que também tiveram que se readaptar e apresentar outros instrumentos.
Embora tenha ocorrido uma mudança brusca, do analógico ao digital, do papel para a tela cada vez mais moderna, o conteúdo jornalístico persegue os mais duros desafios das redes sociais, com as fake news que desafiam a sociedade. A FolhaBV sempre soube ultrapassar tempos e barreiras. E agora chega no mais sério desafio de seguir fiel aos seus leitores críticos e fiéis.
Por quase três anos não sou mais editor, mas sigo com minhas opiniões diárias, as quais só são possíveis graças à linha editorial da empresa, que sempre me deixou livre para opinar e analisar nossa sociedade pelo olhar crítico de quem nem sempre concorda com os caminhos oficiais que a sociedade oferece e que muitas vezes impõe a quem não tem posição nem opinião.
Essa é a vitória que quero celebrar hoje: a liberdade de um jornal que pratica um jornalismo livre e independente. Esse sempre foi espírito perseguido pelos primeiros criadores da Folha de Boa Vista, que fizeram desse jornal, ao lançá-lo em 1983, um espírito de um jornalismo que pudesse contribuir para o crescimento da sociedade.
E a Folha seguiu fiel a esse propósito, sendo protagonista dos principais episódios que culminam com que o Estado que temos hoje, consciente de seus avanços e sabedor do desafios para continuar crescendo. Tenho orgulho de ter sido instrumento desse jornalismo por duas décadas, os mais desafiadores e decisivos para a nossa sociedade, pagando um preço caro, mas compensador para quem pensa com o coração em favor dos mais fracos.
Mais há muito ainda o que fazer. Na verdade, o papel da imprensa nunca se encerra. Aqui repousa a missão intrínseca de um veículo de comunicação. Essa é a mensagem nesses 38 anos de vida da Folha, que é continuar sendo esse instrumento de transformação por meio da informação e do despertar do senso crítico. Nenhuma sociedade conseguirá se desenvolver se não tiver uma imprensa livre.
E a FolhaBV é o maior patrimônio que nossa sociedade pode comemorar, neste momento de incertezas e mentiras na internet. Acertaram os primeiros donos ao criarem o slogan desse veículo que sobrevive aos tempos obscuros: “Um jornal necessário”. Nunca foi tão essencial manter uma credibilidade que ultrapassa o tempo do analógico ao virtual. Essa é a nossa alma. Essa é a nossa festa para celebrar.
*Colunista