Depois da campanha eleitoral antecipada, políticos inventaram o showmício fora de época Jessé Souza*
Já não bastasse a campanha eleitoral antecipada e aberta que está em andamento há um certo tempo não só em Roraima, mas em todo o Brasil, agora os políticos colocaram em prática o “showmício fora de época”, com música ao vivo, danças e sorteios de brindes e prêmios como bicicletas e motos.
A campanha eleitoral antecipada com showmício é disfarçada de “prestação de conta do mandato”. Os prêmios anunciados atraem uma multidão que vai em busca dos sorteios e acabam participando de um showmício aos moldes de uma antiga prática proibida pela legislação eleitoral.
A propósito, abrindo um parêntese, no início desse mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter a proibição de artistas em comícios e reuniões de candidatos, popularmente conhecido como “showmícios“, para as eleições de 2022, cuja realização desses eventos é proibida desde 2006.
A realização de “showmícios antecipados” é divulgada amplamente nas redes sociais de parlamentares estaduais e federais, o que chama os órgãos fiscalizadores à responsabilidade, no caso o Ministério Público Eleitoral (MPE), para que analise tais práticas, uma vez que elas atraem eleitores para sorteio de brindes, os quais acabam participando de um showmício fora de época.
A preocupação é que essas práticas estão se normalizando, alimentando táticas antigas usadas para pedir votos de forma dissimulada com distribuição de brindes e prêmios. Independente do pedido explícito de voto, todos os atos são visivelmente usados estrategicamente para atrair eleitores onde a suposta prestação de conta não passa de discursos e depoimentos de caráter visivelmente eleitoral.
Um claro abuso de poder econômico também fica bem caracterizado nesses eventos partidários, os quais são realizados preferencialmente em cidades do interior e comunidades indígenas. Os prêmios se tornam “iscas” para que as pessoas acabem ouvindo uma verdadeira campanha eleitoral disfarçada e antecipada.
São os políticos se reinventando para ludibriar os eleitores mais incautos, muitos dos quais não fazem esforço qualquer para se livrar das práticas que alimentam a troca de favores, assistencialismo, distribuição de brindes e a compra descarada de voto antes e durante as eleições.
Como diz a linguagem das redes sociais, o golpe está aí. Daqui a pouco, haverá parlamentar só vivendo de “prestação de conta” com sorteio de prêmios a cada seis meses, como se política partidária fosse uma micareta, cujas edições podem ser realizadas fora de época ao sabor de promotores que querem faturar mais antes do Carnaval.
Agora cabe ao Ministério Público Eleitoral apurar esta nova prática em curso abertamente, para quem quiser ver e participar. Não é possível que a esperteza política seja usada abertamente, na cara de todos, como se fosse algo normal em um país onde a compra de voto se reiventa para ludibriar a legislação eleitoral.
*Colunista