Existência ou Virtualidade?
Debhora Gondim
Ao navegarmos pelas Redes Sociais percebemos o quanto nossa sociedade tem bebido de conselhos de autoajuda, conselhos que nos fazem mais individualistas e hedonistas. Mas que não tem a eficácia em trazer alívio para as nossas dores e nem trazem verdades em suas soluções. Pois são seres humanos falhos como nós tentando encontrar respostas em si mesmo e/ou em outros seres humanos, para ajudar quem quer ajuda.
É como a Bíblia traz: é um cego guiando outro cego (Lucas 6:39). Nós não temos luz própria para iluminar o caminho de alguém, mas Jesus sim. Ele é a Luz do mundo e sua Palavra a lâmpada para os nossos pés (João 1: 4 e 5; Salmos 119:105). Ele é o único e verdadeiro caminho que nos leva a Deus e nos traz vida. Em seus ensinos encontramos a humanidade que foi perdida. Uma humanidade que foi criada a imagem e semelhança de Jesus, mas que o pecado distorceu. E quanto mais nos afundamos em pecado mais ela é deturpada e menos da imagem do criador é refletida.
Após a queda e saída do jardim passamos a viver uma desordem moral, física e ambiental. O homem foi cada vez mais se afastando do seu Criador e com isso, foi perdendo gradativamente a identidade e o propósito para o qual foi criado. Perdeu a referência a ser seguida. Buscando em si e em outros meios as respostas para se guiar. Surgindo filosofias e ideologias centradas no homem e que não trazem soluções, só divagações. Trouxe mais desordem ao que já era caos (Gênesis 3; Romanos 8:21 e 22).
Papeis sociais, começando nas famílias sofreram distorções, ocasionando uma luta ideológica entre os gêneros. Homens e mulheres que perderam a essência do masculino e do feminino, que não sabem amar e conviver como deveria ser desde o princípio. Humanidade de relacionamentos líquidos como dizia Zygmunt Bautman. Ele fez esta leitura do mundo por perceber o quanto o mundo tem sofrido mudanças e em uma grande velocidade, o que tem proporcionado uma desordem social. Acredito que isso ocorre cada vez que se tenta acompanhar estas mudanças, pois vamos perdendo o que antes éramos a ponto de não sabermos mais quem somos e para onde seguir.
Não há profundidade em muitos relacionamentos. Eles ocorrem como em uma internet de alta velocidade. O amor se tornou um sentimento volúvel e centrado no hedonismo. E há quem prefira manter relações virtuais. Pais e mães que geraram filhos cristais. Que não tem consistência e qualquer pressão sofrida quebra. Geração que tem se perdido em si mesmo. Tem olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Pois, seus sentidos estão sendo treinados para agir como robôs que atendem aos comandos da rede. O que foge disso faz entrar em pane de sistema.
Afinal, cientistas e filósofos transhumanistas tem educado há algum tempo gerações para buscar na tecnologia a sua redenção. Mas basta uma pane no sistema, uma invasão ou algo mais simples como uma queda de energia que a ela para. Não passa de ídolo feito por mãos imperfeitas. Este é o retrato de uma sociedade virtual: ela não vive no concreto, no real, no racional. Só aparentam ser guiadas pela razão, mas quem manda é o coração como muitos coaching e escritores de autoajuda tem difundido. E a Bíblia desmascara o nosso coração, diz que ele é enganoso e mau (Jeremias 17:9; Mateus 15:19). Por isso, muitos a rejeitam ou só aceitam o que é conveniente. Não querem transformação. Preferem alimentar o que dá prazer, pecado de estimação.
Por fim, a nossa referência e modelo a seguir é Cristo. À medida que O conhecemos nos tornamos conforme Sua imagem. Quanto mais perto de Cristo mais humanos somos, pois foi para ser e agir como um ser humano que fomos criados e, não para termos qualquer outra identidade diferente disso. Que nossas vidas sejam firmadas no que Deus diz e quer que sejamos. Pois Nele existimos e nos movemos (Atos 17:28).
Teóloga e Professora
PROJETO SUSTENTÁVEL PARA OS POVOS INDÍGENAS
Sebastião Pereira do Nascimento*
O estado de Roraima, com cerca de 224.300 km², tem 46% do seu território dentro de áreas indígenas compostas por pelo menos onze etnias (Macuxi, Wapixana, Ingaricó, Taurepang, Patamona, Sapará, Ye’kuana, Yanomami, Wai-Wai, Wamiri-Atroari e Pirititi). São trinta e duas terras indígenas demarcadas e/ou homologadas, que ainda sustentam conflitos provocados por pessoas não indígenas, principalmente relativos às invasões dos territórios tradicionais. Estas situações vêm criando problemas para o avanço socioeconômico das comunidades indígenas roraimenses, tanto aos povos que residem na floresta quanto aos residentes na região de lavrado.
Dentre outros fatores que também vêm afligindo as populações indígenas estão as recorrentes falhas ou omissões dos órgãos governamentais (estaduais e federais), principalmente com relação ao apoio financeiro e à assistência técnica dos projetos desenvolvidos nas áreas indígenas. Muitas vezes estes fatores promovem intromissões prejudiciais aos valores socioculturais dos povos indígenas, contribuindo para que as comunidades se arrisquem em soluções individualizadas contrárias às práticas coletivas das etnias indígenas.
Como agravante relativo às soluções individualizadas, está a introdução do capitalismo nos planos de desenvolvimento nas terras indígenas. São propostas feitas por órgãos governamentais (ou às vezes não governamentais), que desconsideram as reais vocações dos povos originais, porque eles não seguem as normas do capitalismo. E fazer com que estes povos adotem políticas alheias às suas culturas é incentivá-los a transgredirem os seus interesses socioculturais.
Embora muitas vezes as proposta
s de desenvolvimento dos órgãos oficiais para os indígenas estejam focadas nas demandas comunitárias, estas propostas não levam em conta as peculiaridades da região e os aspectos culturais das etnias. As consultas realizadas pelos agentes sociais não levam em consideração o fato de que os povos indígenas não têm o domínio do sistema capitalista, condição primária para viabilizar um programa de natureza meramente econômica.
Utilizando o termo sustentabilidade no sentido capitalista, tão em moda, os agentes públicos imaginam que o retorno advindo de projetos que olham apenas os aspectos econômicos possa ser categorizado como benefício para as comunidades indígenas, porém o resultado é um campo de ruína e insatisfação. São resultados desastrosos porque as propostas são baseadas no pressuposto de commodities, com base em atitudes especulativas, as quais vão contra os princípios dos povos indígenas.
Enquanto o sistema capitalista orienta as pessoas a exercerem o código da concorrência e do preço, os povos indígenas têm outra visão de mundo. As atividades produtivas dos povos indígenas são orientadas pelas forças da natureza e não as monetárias, levando a um trabalho voltado para uma sadia satisfação comunitária – um tipo de trabalho no qual a rotina tem outro significado e outros procedimentos, a acumulação de bens para amanhã não tem a relevância imediata do capitalismo. Quando há fartura eles a compartilham; em épocas de escassez eles cooperam entre si.
Deste modo, as atuais propostas governamentais, da forma como são feitas não permitem a inclusão destes aspectos culturais dos povos indígenas, em particular das etnias do lavrado de Roraima, levando a um conjunto de desacertos. Por exemplo, quando chegam os recursos de uma determinada proposta, as comunidades o aceitam e utilizam, mas as ações são interrompidas quando cessam os recursos, resultando no desfecho prematuro de um projeto que poderia dar certo caso fosse implementado de outra forma. Algo que compromete seriamente o conceito de benefícios quando voltados para as comunidades indígenas.
Diante desta realidade é necessário procurar meios que possam ir ao encontro das culturas indígenas e não o contrário. Dentro desta perspectiva, as propostas de trabalho devem ser realizadas a partir da visão cultural dos indígenas, incluindo as comunidades tanto na elaboração dos projetos como na execução. A proposição exige em primeiro lugar empatia com as comunidades, além de um corpo técnico familiarizado com os saberes tradicionais. São estes os atributos primários e necessários para intermediar com sucesso as relações entre um corpo técnico e as comunidades indígenas.
A expectativa dessas proposições é gerar resultados com base na continuidade dos trabalhos e de acordo com a perspectiva dos indígenas. O ponto principal consiste na participação direta das comunidades, tanto no processo da elaboração do plano de atividades como no desenvolvimento destas. As propostas devem ser necessariamente identificadas pelas bases comunitárias e construídas através de uma dinâmica compartilhada entre toda a comunidade.
A presença de facilitadores familiarizados com as culturas indígenas é essencial. As conversas devem ser incentivadas pelos facilitadores de maneira descontraída, sendo todos os participantes estimulados a emitir suas opiniões a respeito das ações pleiteadas. Tais atitudes ajudam a aprimorar o senso comum e tornar realidade o que nasceu da vontade coletiva de um grupo comunitário. Uma dinâmica de grupo que busca inserir em cada interessado a expectativa de se sentir capaz de construir suas experiências a partir do conhecimento que a comunidade tem da região.
Dessa forma, atividades assim desenvolvidas, dão mais eficiência e durabilidade às ações governamentais e fortalecem o modo de vida indígena, visto que as práticas coletivas são manifestações próprias da sua cultura. Assim, um projeto de desenvolvimento desta natureza é claro que prevê a geração de renda entre as populações indígenas, mas respeita seus valores socioculturais e oferece condições para resolver seus problemas comunitários.
*Consultor Ambiental, Filósofo e Escritor. Autor dos livros “Sonhador do Absoluto” e “Recado aos Humanos”. Editora CRV. Coautor de “Vertebrados Terrestres de Roraima”, edição especial da revista científica Biologia Geral e Experimental.
Vida transitória
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Nossa existência é transitória como as nuvens do outono.
Observar o nascimento e a morte do ser é como olhar os movimentos da dança.
Uma vida é como o brilho de um relâmpago no céu.
Levada pela torrente, montanha abaixo”. (Buda)
Já sabemos que a vida é um eterno ir e vir. Talvez o problema esteja em não levarmos isso em consideração. Só quando estivermos plenamente conscientes do que somos seremos o que realmente somos. Nunca seremos o que somos enquanto não cuidarmos uns dos outros. De acordo com a Cultura Racional, nós estamos sobre este planeta Terra há vinte e um eternidades. Tempo pra dedéu, para já sermos realmente racionais e estarmos fora do planeta. Vamos procurar viver a vida como se ela fosse um ensaio no palco da vida. Vamos viver cada minuto como se ele fosse o último. Mas sem arrufos nem preocupações. Com muita calma e segurança para encarar os barrancos.
Hoje foi uma manhã difícil para mim. Passei o tempo todo olhando para o céu, sem saber o que fazer. Andei, andei, caminhei de cá para lá e de lá para cá. Aí me toquei: que é que estou fazendo quando deveria estar fazendo? Bati forte com a mão na coxa e resolvi vir bater esse papo com você. O Sol causticante começou a me aborrecer. Aí parei e pensei o quanto ele poderia ser útil em vez de inútil. Fui mais duas vezes até ao portão, voltei, entrei em casa e respirei fundo. Que é o que devemos fazer sempre que alguma coisa estiver nos aborrecendo.
Não se deixe levar por pensamentos mesquinhos. Mantenha sua mente sempre aberta para o positivo. Caminhe sempre de cabeça erguida. Mire sempre o horizonte, mesmo que ele não esteja ao alcance da visão física. Nunca se aborreça com coisas que não lhe agradem, ignore-as. Se tropeçou, lembre-se do Bob Marley: “A vida é para quem topa qualquer parada, e não para quem para em qualquer topada”. Devemos sempre prestar mais atenção às palavras dos que nos deixaram ensinamentos no que nos disseram. A Cultura Racional nos diz que o ser humano só aprende com as repetições. E embora não tenhamos nenhuma intenção de ensinar, vamos repetir. O Victor Hugo disse: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Então vamos ser racionais.
Todos nós viemos do mesmo universo, o Universo Racional. É lá que é nossa origem. Foi de lá que viemos e é para lá que voltaremos. Quando voltaremos, não sabemos. Mas vai depender de cada um de nós. Do nosso desenvolvimento racional. E tudo está na nossa mente. Todo o poder de que necessitamos para voltar ao nosso mundo de origem está dentro de nós, em nossa mente. Então vamos usá-la com racionalidade. Pense nisso.
99121-1460