O cenário de horror está aí, mas não sensibiliza as autoridades
Jessé Souza*
O início do programa de policiamento ostensivo “Polícia na Rua”, implantado pelo Governo do Estado no dia 12 de novembro, foi marcada por cinco assassinatos no feriado prolongado de Proclamação da República, inclusive um deles foi um homem com um dos braços decepado.
A semana que se seguiu também foi marcada com mais dois asssinatos: uma morte macabra, em que um homem foi esquartejado e uma mulher morta com um saco na cabeça, cujos corpos foram encontrados no mesmo lugar. Embora as informações sejam poucas, especula-se que os crimes tenham sido praticadas por uma facção criminosa venezuelana.
O que chamou a atenção é que, no meio dessas graves ocorrências da violência urbana na Capital e interior, o governo enviou ao menos dez viaturas para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol para desativar um posto de fiscalização e monitoramento montado pelos indígenas, mesmo sendo uma área de domínio federal e sem uma nova determinação judicial para aquele caso.
Foi uma operação policial feita sem tentar diálogo prévio com lideranças indígenas e sem conversação com forças policiais federais para buscar estratégias. Tudo ocorre depois que um grupo de motociclistas foi empedido de adentrar a terra indígena para participar de uma festa numa comunidade indígena. E esse caso ainda terá desdobramentos que irão cobrar responsabilidade do governo.
Enquanto isso, o crime organizado continuava agindo em Boa Vista, em claro desafio às forças policiais, cometendo crimes bárbaros, com intuito não apenas de mandar recado para facções rivais, mas também desafiando as autoridades policiais. Esses crimes precisam ser tratados como divisor de águas entre a sanha da criminalidade no Estado e o papel da segurança pública roraimense.
A grave situação a que chegou o Estado não tem mobilizado os políticos instalados em suas bolhas virtuais, que entraram numa campanha eleitoral antecipada sem sequer colocar a segurança pública como uma discussão, como se apenas esse programa lançado pelo governo com festa fosse a solução de tudo.
Na Assembleia Legislativa – que se tornou uma central de oferta de cursos, cuja discussão central é sobre um pedido de cassação de um deputado, enquanto há casos de outros deputados que deveriam ser tratados da mesma forma -, nada se ouve falar a respeito dessa escalada de violência, como forma de discutor soluções, onde corpos já foram desovados não muito longe dali, na orla às margens do Rio Branco, no Centro.
A situação requer muita atenção, pois quem acompanha a crônica policial diária tem visto as ocorrências em várias frentes: tráfico de droga, assaltos e furtos corriqueiros a residências, foragidos de outros estados circulando pelos municípios e vários pedidos de socorro nas redes sociais para combater a criminalidad nos bairros.
Não há mais nada que alarmar nem reforçar pedidos de socorro, pois os corpos destroçados se tornaram cenas corriqueiras a qualquer dia da semana e até policiais são atacados no meio da rua por assaltantes cada vez mais audaciosos. Na periferia, tem comércio que decidiu passar uma grade na porta, por onde o cliente é atendido, sem poder entrar mais.
O deslocamento de viaturas policiais para uma terra indígena como uma ação prioritária, só porque um festejo de motociclista estava sendo prejudicado, enquanto os bandidos agem na Capital, é um indicativo de que a segurança pública continua desorientada, enquanto o crime segue organizado. Esse é o cenário preocupante.
*Colunista