Jessé Souza

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Páginas de Polícia e Política desta semana revelam a que ponto chegou o Estado

Jessé Souza*

A semana foi marcada por alguns fatos que, em princípio, são casos distintos, mas que acabam sendo fruto da mesma realidade do Estado de Roraima: a insegurança e o avanço da criminalidade. Só para reforçar o contexto, durante todo o fim de semana passado foram registradas 80 ocorrências policiais, entre os quais dois corpos desovados de pessoas executadas de forma cruel.

Na quarta-feira passada, 24, um professor que cometeu um crime de feminicídio, ao esfaquear a ex-namorada por não aceitar o fim do relacionamento, foi linchado em via pública durante a fuga. Populares o perseguiram, o imobilizaram no chão e o amarraram, quando foi violentamente espancado até a morte.

O dia seguinte, na quinta-feira, 25, foi de mais violência e de fatos importantes também na área policial: o assassinato de um comerciante no Município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, crime cometido por um venezuelano durante um latrocínio, o que gerou revolta na população, a qual foi para as ruas protestar contra a violência provocada pela imigração desordenada.

Enquanto isso, no mesmo dia, em Boa Vista, uma quadrilha de assaltantes chefiada por venezuelano foi presa. Os bandidos invadiam residências para assaltar, inclusive duas das vítimas eram policiais, os quais tiveram suas armas roubadas durante as ações. O que prova que nem os policiais estão seguros em suas casas.

Ainda na quinta-feira, a Polícia Federal desencadeou uma operação contra empresas de segurança clandestinas que ofereciam serviço de segurança privada na Capital, as quais atuavam na cidade sem qualquer licença. Essas empresas se proliferaram no vácuo deixando pelo poder público, ou seja, na insegurança que a população passou a viver.

No desenrolar desses fatos, o caso do professor linchado em via pública pode ser visto como reflexo de uma sociedade doente que, desacreditada no  papel da segurança pública e da Justiça, decidiu partir para fazer justiça com as próprias mãos, em um canibalismo social que vinha avançando há um certo tempo, desde a chegada em massa de venezuelanos.

Em Pacaraima, cidade fronteiriça devastada pela imigração desordenada, a população também já vem dando recado de que não acredita mais na polícia nem na Justiça desde 2018, quando populares partiram para cima dos venezuelanos e os expulsaram após uma tentativa de assalto contra um comerciante que ficou gravemente ferido. 

Desde lá, nada foi feito pelas autoridades para amenizar os graves problemas que vinham se arrastando há tempos naquela cidade fronteiriça, por onde entra quase mil venezuelanos diariamente. Para complicar, o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (Republicanos), e o vice Simeão Oliveira (PV) foram cassados pelo Tribunal Regional de Roraima (TRE) por compra de votos.

Com as fronteiras escancaradas, não só chegaram migrantes para escapar da fome em seu país e buscar refúgio no Brasil, como também vieram bandidos de facções venezuelanas, que se uniram a facções brasileiras em um intercâmbio criminoso, se instalando principalmente em Boa Vista, onde corpos são desovados até nas áreas centrais da cidade.

Todos esses eventos estão ocorrendo simultaneamente no momento em que o Governo do Estado anunciou a implantação do programa “Polícia na Rua”, com quase três anos de atraso, quando os bandidos brasileiros já estavam organizados dentro e fora dos presídios, e quando os bandidos venezuelanos se fixaram definitivamente.

Da forma que a população está desacreditada na polícia e na Justiça, sujando suas mãos de sangue, as pessoas também têm a impressão de que não podem esperar muito dessa política que aí está, uma vez que, na quarta-feira, o deputado Eder Lourinho (PTC) foi cassado pela Justiça Eleitoral, que também manteve a cassação do prefeito de Alto Alegre, Pedro Henrique Machado (PSD).

O curioso é que o deputado e os prefeitos de Alto Alegre e Pacaraima foram cassados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pelo mesmo motivo: compra de votos por meio de doação de cesta básica. Para reforçar esse sentimento de descrédito na política, a namorada do prefeito de Alto Alegre, uma influencer digital, foi flagrada furando a fila da vacina contra a Covid-19, um caso de repercussão nacional.

Apenas puxando a relação de matérias nas editorias de Polícia e de Política do jornal desta semana tem-se em mãos uma leitura fiel sobre como está a situação de Roraima na segurança pública e na política partidária. Algo já deveria ter sido feito há muito tempo. O que está ocorrendo agora é reflexo da conivência de muitas autoridades, que ficaram assistindo tudo se agravar.

E parece que do governo Bolsonaro não se pode esperar muito, pois ele ignorou solenemente a realidade de Pacaraima quando veio ao Estado, preferindo ir a um culto-comício evangélico. Daquela fronteira escancarada está partindo o agravamento da situação do Estado, com o Exército mais ocupado com o acolhimento de imigrantes do que em vigiar a fronteira. 

O que preocupa diante do que vimos nessas últimas 48 horas é o comportamento das pessoas. É só abrir os comentários nas redes sociais para perceber que tem um monte de gente aplaudindo o linchamento em via pública e, na outra ponta, apoiando que a população de Pacaraima avance sobre os venezuelanos. Estamos caminhando para algo bem pior, caso tudo isso não seja contido.

*Colunista