Jessé Souza

Escanteado nao se pode mais esperar muito do setor de Turismo 12934

Escanteado, não se pode mais esperar muito do setor de Turismo Jessé Souza*

Embora  Estado de Roraima seja rico em potencial turístico, por ter uma riqueza ambiental diversa em toda a Amazônia, transitando de matas ao cerrado, de planícies às serras, o Turismo é tratado com desdém, cujo departamento governamental responsável pelas políticas desse setor é  jogado de uma secretaria para outra.

Os políticos e o próprio governo não fazem a mínima questão de adotar o setor turístico como uma das prioridades, como sempre fizeram com a Serra do Tepequém, o único ponto turístico realmente consolidado de Roraima, localizado ao Norte do Estado, no Município de Amajari. Por ser uma vitrine, o local geralmente é tratado com demagogia política. 

O senador Chico Rodrigues (DEM), por exemplo, foi lá prometer instalar um trem (sim, um trem sob trilhos chamado por ele de “maria fumaça”) que serviria para levar turistas em um passeio da sede da Vila Tepequém até a Cachoeira do Paiva. E isso sem ouvir a comunidade, que tem seus legítimos representantes e que tem prioridades urgentes, como regularização fundiária, esgotamento sanitário, internet e outras.

O deputado Neto Loureiro recentemente apareceu divulgando indicação para que o governo construa poços artesianos com rede de abastecimento de água para Tepequém. Embora seja uma das grandes necessidades daquela vila, um pleito louvável, trata-se de um logro, pois o parlamentar que quer fazer algo de verdade não faz indicação, e sim apresenta uma emenda orçamentária para que o governo concretize a obra.

São algumas pinceladas para mostrar como o único local do Estado mantido exclusivamente pelo Turismo é tratado pelas políticas públicas e escanteado por uma reforma administrativa controversa, que não convence ser realmente necessária para melhorar a estrutura administrativa do Estado, muito menos cortar gastos.

O golpe agora foi colocar o Turismo agregado a um setor da super Secretaria de Agricultura, onde os interesses dos grandes produtores rurais não convergem com o interesse do Turismo. Pode até haver algumas finalidades afins, mas os planos desse governo para a agricultura e a pecuária são distintos – e até mesmo divergentes – do que o Turismo precisa para se desenvolver.

Só para se ter uma ideia, o Município do Amajari, onde está localizada a Serra do Tepequém, é o exemplo do que a pecuária faz com a economia de determinada região onde fazendas estão instaladas.  A pecuária pode gerar divisas para o Estado, mas não gera emprego para as comunidades ali inseridas, carentes de todos os tipos de políticas públicas, muito menos para a região. 

Embora seja uma terra de “coronéis da política”, os quais investem na criação de gado e peixe, Amajari é um município pobre, abandonado, sem emprego, enquanto Tepequém clama por investimentos para continuar gerando emprego e renda, tendo o Turismo como única atividade que faz circular dinheiro novo e com investimentos privados que não passam pelas mãos de políticos (talvez por isso seja ignorado). 

O Turismo seria mais uma alternativa inclusive para as comunidades indígenas que ali existem, algumas delas localizadas às margens da RR-203, que dá acesso a Tepequém, mas o setor não recebe a prioridade devida pelos governos e pelos políticos da região. A situação da estrada é apenas um exemplo do descaso, a qual passou quase dez anos sem manutenção, em que a obra de recuperação foi abandonada pelo governo passado, sendo retomada este ano, no atual governo.

O descaso é tão flagrante – e ultrajante para quem viaja para a região – que a Prefeitura do Amajari historicamente sequer cuida da principal via, o trecho urbano da RR-203, que passa em frente da própria Prefeitura e da Câmara de Vereadores, onde localiza-se os principais comércios. A vergonhosa buraqueira naquela via é o atestado do desprezo com o turismo e do descaso com a aquela região.

Com essa reforma administrativa que escanteará o Turismo para a super Secretaria de Agricultura, o tornando apenas um penduricalho sem a importância indevida, significa que não se pode esperar muito do setor . Que ao menos o governo faça cumprir a conclusão da obra de recuperação da RR-203, que está em curso e que já representa algo para aquele ponto turístico. Porque política de governo é possível afirmar, sem temor, que ela inexiste. 

*Colunista