Jessé Souza

Problemas cronicos que vao permanecendo na saude a cada troca de secretario 12963

Problemas crônicos que vão permanecendo na saúde a cada troca de secretário  Jessé Souza*

O pedido de demissão do secretário estadual de Saúde, Leocádio Vasconcelos, o nono dessa atual administração, confirma que o Governo do Estado não consegue extirpar as antigas práticas dentro da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), especialmente a ingerência política dentro dos setores, fato que vem sendo denunciado constantemente, mas logo esquecido.

Além dos esquemas de corrupção que se instalaram naquele setor, conforme vem sendo denunciado por cada secretário que se demite, existem os pequenos esquemas que se enraizaram nos diversos setores, o que impossibilitam mudanças estruturais, as quais mexem em interesses mais localizados de médicos, servidores, diretores e grupos políticos.

São esses interesses que acabam contribuindo para a constante falta de materiais e medicamentos, bem como o mal atendimento devido à estrutura que sempre foi organizada para beneficiar servidores em prejuízo do bom atendimento ao público e aos pacientes. Como há uma forte ingerência política, os gestores não conseguem apoio para fazer mudanças necessárias a fim de corrigir os erros.

Como os secretários preferem deixar o cargo a enfrentar os problemas crônicos, as irregularidades prosseguem sob a conivência em vários níveis, motivada por esse ingerência acobertada por indicações políticas e interesses pessoais que acabam beneficiando setores e categorias, além de irregularidades em escalões mais baixos que nunca são combatidas.

Conforme foi comentado no artigo de ontem, chegou ao conhecimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, cujo relatório final foi apresentado no Plenário da Assembleia Legislativa de Roraima, a interferência de deputados estaduais e do então chefe da Casa Civil na Sesau, principalmente no que diz respeito a nomeações de indicados. Mas os relatos foram ignorados.

Com relação a isso, não se pode esperar muito, pois os deputados estão concentrados em seus bate-bocas em plenário e suas divergências em relação ao relatório da CPI da Saúde devido a interesses ainda não muito bem esclarecidos para a opinião pública, enquanto a população continua penando nas unidades de saúde.

Faltam medicamentos inclusive nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do Hospital Geral de Roraima (HGR), onde os familiares de pacientes são obrigados a comprar remédios e até mesmo esquipo de soro! Isso tem ocorrido inclusive com pacientes internados por Covid-19, pacientes estes abandonados até no atendimento de familiares na hora de buscar informações nos feriados e fins de semana.

Esses crônicos problemas resultaram na falta de medicamentos e insumos no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, no mês passado, conforme foi denunciado à imprensa, impondo mais sofrimento às pacientes que agora estão sendo atendidas em um local improvisado porque o prédio que abrigada a maternidade precisou passar por reforma.

Uma provável nova onda de coronavírus, devido ao surgimento de  variantes, pode piorar a situação da saúde pública nesse novo momento de crise na Sesau, quando o nono secretário pediu exoneração alegando “divergências com o governo”, o que significa exatamente a ação de ingerência política dentro de um setor que sempre foi usado como moeda de troca eleitoral.

Os mesmos atores políticos que negociaram a Sesau no governo passado, em troca de apoio para a então governadora Suely Campos lançar sua candidatura para reeleição, são os mesmos que estão atuando nesse atual, com o mesmo poder político para garantir a candidatura a reeleição do governador Antonio Denarium (PP).

Enquanto a saúde não for realmente passada a limpo, em todos os níveis, de baixo para cima, não haverá secretário para fazer milagres. E o que se espera é que os grandes esquemas da corrupção endêmica (denunciados desde a saída do primeiro secretário) sejam combatidos, especialmente o que está sendo investigado pela Polícia Federal, já que a CPI da Saúde não trouxe nada de novo.

E assim como os grandes esquemas precisam ser minados e os responsáveis responsabilizados, as ingerências política e os interesses pessoais e de grupos também precisam ser combatidos na saúde pública. São eles que impedem não apenas um bom atendimento ao público, mas o bom gerenciamento dos recursos públicos para que não faltem materiais nem medicamentos. E esse governo tem a obrigação de combater de frente esses desmandos.  

*Colunista