Mais grana para os vereadores: com a palavra, o cidadão eleitor
Jessé Souza*
Legislar em causa própria foi o maior feito neste ano legislativo, que está chegando ao fim, na Câmara Municipal de Boa Vista. Não se trata de nenhuma leviandade tal afirmação, uma vez que há constatação em atos publicados no Diário Oficial do Município. Senão, vejamos.
Os vereadores acabaram de aprovar o aumento do valor da verba de gabinete de R$23 mil para R$32 mil, cujo recurso é utilizado para pagamento de assessores parlamentares. Para atribuições que deixam muito a desejar, ter mais assessores chega a ser um contrassenso.
Além disso, o país passa por um grave momento de crise, em que pais de família estão desempregados e/ou passando fome porque seus salários não são mais suficiente para pagar as contas e colocar comida na mesa de seus familiares.
Nem precisa entrar em detalhes sobre a fila para comprar osso ou pés de galina país afora; ou sobre o absurdo preço da carne bovina, do gás de cozinha e da gasolina para abastecer o veículo para ir trabalhar, o que dificulta ainda mais a vida do trabalhar assalariado, que é maior no país.
Mas, na contramão dessa realidade, os vereadores de Boa Vista já haviam legislado em causa própria no mês de outubro passado, qando eles aprovaram o aumento da verba indenizatória de R$28,3 mil para R$35 mil. Essa verba é exclusivamente para ressarcimento de despesas feitas pelo gabinete do vereador no exercício da atividade parlamentar.
Só como ilustração, não custa lembrar que a verba indenizatória sempre tem sido motivo de questionamentos, denúncias e escândalos, envolvendo aluguel de carros, abastecimento de veículos e outros serviços, em todos os poderes legislativos, cujos casos já foram alvo de denúncias na imprensa em todo o país.
Mas a causa própria não é uma exclusividade da atual legislatura. Em 2016, antes mesmo de assumirem, 15 vereadores eleitos para o mandato de 2017 a 2020 pediram – e os vereadores que estavam de saída aprovaram – um reajuste no salário deles próprios, passando de R$10 mil para R$15 mil, um aumento de 50%.
Também há de se destacado que aquela legislatura ficou lembrada pelo fato de um vereador cumprir boa parte de seu mandato preso, sob acusação de envolvimento com o crime organizado, cuja cena que chamou a atenção foi a de um grupo de vereadores que foi receber o edil na saída da prisão, com direito a choros e abraços dignos de novela mexicana.
Então, já que quem paga tudo isso é o contribuinte, esse artigo não terá uma conclusão igual aos demais, com alguma mensagem de indignação, reivindicação ou constatação. A palavra agora está com o próprio cidadão, especialmente o eleitor responsável por colocar todos os políticos no bem-bom do poder…
*Colunista