Somos livres?
Francisco Rafael Leidens*
É comum definirmos a liberdade apenas em termos negativos: “não estar preso” ou “não obedecer a ordens”, por exemplo. Manter essa característica da liberdade como única, no entanto, não confere ao ser humano nenhum atributo que o diferencie dos animais em geral. Podemos dizer que um pássaro fora da gaiola é livre, tanto quanto alguém que não esteja cumprindo pena em alguma prisão.
Essa liberdade negativa, ainda que fundamental, é muito limitada para perceber o alcance do termo em relação às ações humanas. Somos livres para além desse sentido negativo quando podemos pensar, refletir e decidir o que fazer nas mais variadas situações e contextos. Poder inaugurar uma ação que não esteja determinada por nenhuma causa anterior é algo muito próprio aos seres humanos. Em oposição a isso, uma onça jamais irá reprimir sua fome, após longa deliberação, por sentir compaixão de sua presa. Ou ainda, escolher alimentos pouco gordurosos porque pretende adquirir hábitos mais saudáveis: ela é condicionada por seus instintos, e não tem escolhas fora disso. Assim, uma onça não é livre, mesmo que não esteja presa em um zoológico. A liberdade positiva só ocorre em seres dotados de razão. É esta que oferece as condições para romper o determinismo das causas, ou seja, não estar obrigado a nada e, para além disso, escolher agir conforme aquilo que ponderou de maneira completamente autônoma. Mas será que somos, efetivamente, livres e autônomos, na direção aqui indicada?
Essa questão é importante, e assume contornos dramáticos quando pensamos nas consequências da internet e, mais especificamente, das redes sociais sobre nossas vidas. Entenda-se aqui não o advento da internet, com a promessa de facilitar a comunicação e o acesso à informação, mas o aprimoramento dessa ferramenta e o uso mal-intencionado que podemos identificar atualmente. Quem nunca digitou no Google o nome de algum produto desejado, um determinado celular, por exemplo, e passou a ser alvo de constantes anúncios daquele produto nas mais diversas páginas e redes sociais, mesmo que já tenha desistido de adquiri-lo após descobrir que não cabe no orçamento. Um desavisado poderia acreditar que se trata de uma mensagem do além dizendo que deve comprar, ou algo do tipo. Sabemos, no entanto, que algoritmos escritos para detectar um provável consumidor passam a funcionar e incansavelmente recomendar aquele produto desde o momento em que a palavra foi digitada no navegador. Para um consumidor controlado, todavia, nada de mais grave acontece. O mesmo, contudo, não pode ser dito das redes sociais como Instagram, YouTube, Facebook, TikTok, dentre outras.
Não é necessário saber o que significa um algoritmo ou como são escritos, basta sabermos para que servem. Podemos resumir do seguinte modo: algoritmos servem para recomendar conteúdos a partir de certo “gatilho”. Assim, quando a pessoa marca um vídeo como “gostei”, no Youtube, “curte” alguma página ou postagem no Facebook, digita uma palavra na pesquisa, acessa um vídeo por meio de um link encaminhado, e assim por diante, o algoritmo presente na rede social “entende” que é isso que a pessoa gosta e passa a recomentar outros conteúdos com a mesma temática. Quem tem crianças em casa sabe o que isso significa: uma vez passado o celular às mãos de uma criança e acessado conteúdos infantis, o YouTube irá recomendar, a partir de então, uma avalanche de vídeos semelhantes.
O objetivo mais imediato das redes sociais, através de seus algoritmos, é nos manter presos em seus vídeos, páginas e anúncios por um prolongado tempo. A criança que acessa o YouTube pode passar horas assistindo vídeos apenas clicando nas recomendações da própria rede social. Se pensarmos apenas em termos de entretenimento, pode-se considerar que essa dinâmica é excelente, uma vez que nenhum vídeo estranho à preferência inicialmente delimitada será indicado pelo algoritmo.
Porém, aprofundando um pouco a questão, não é apenas o tempo que a rede social nos rouba, mas também nossa opinião e capacidade de pensamento. Quando consideramos temas mais sérios e polêmicos, como posições políticas, por exemplo, um determinado viés ideológico pode se tornar rapidamente dominante, em termos quantitativos, nas recomendações de conteúdo. O que ocorre após isso é bem fácil de entender: quando uma determinada posição passa a ser constantemente reiterada por diferentes vídeos e postagens, e o nosso acesso é limitado apenas a esse tipo de conteúdo, a tendência daquele que recebe isso é considerar como absolutamente verdadeiro o que está sendo dito. Cria-se uma bolha de opiniões que molda nossa visão de mundo sobre determinada temática, e dificilmente a pessoa sairá dessa jaula virtual. Não é à toa que as pessoas responsáveis por publicar nas redes sociais são chamadas de influenciadores digitais. O público dessas postagens, por sua vez, é chamado de seguidores. A passividade dessa relação é evidente, e nossa autonomia praticamente inexiste quando nos deixamos conduzir por tais influenciadores.
A pergunta que se impõe, frente a essa dinâmica apresentada, é a seguinte: quanto das nossas opiniões e posições são livremente construídas e decididas? Quantas são causadas por influência de algoritmos que limitam nossa visão de mundo ao restringir nosso acesso a determinadas posições? Somos, de fato, livres?
*Francisco Rafael Leidens é professor do curso de Filosofia da UERR
A fala coloquial
Afonso Rodrigues de Oliveira
“As abelhas trabalham na obscuridade; o pensamento se elabora no silêncio e na reflexão; a virtude, a dedicação e a doação aos outros se adquire no colóquio com Deus”. (Belguise)
Conversar com Deus e simples pra dedéu, é só você estar de bem com você mesmo. Tudo que você precisa para ser feliz está em você. Não sabemos quantas eternidades já vivemos por aqui, rodopiando, sem saber que podemos viver tranquilos com o poder que temos para sermos felizes. E por isso, a maioria do tempo perdemos pedindo a Deus para nos dá o que Ele já nos deu há vinte e uma eternidades. O mundo seria outro se soubéssemos viver. E se somos tod
os, devemos viver no todo. Cada um vivendo cada um. Na união racional, com a consideração de que somos todos da mesma origem. E se somos da mesma origem, somos todos iguais. E construímos as diferenças, com nosso desconhecimento. E sem querer ofender nem ser o dono da verdade, vamos considerar desconhecimento como ignorância. Se fôssemos esclarecidos como imaginamos que somos, não viveríamos a guerra irracional que vivemos nos contatos pessoais. Mas, talvez isso nos tornasse anjos do Senhor. E nenhum de nós gostaria de viver na tranquilidade do céu. Então vamos nos preparar para voltar ao nosso mundo de origem, que é apelidado de céu. Mas primeiro vamos viver este mundo em que pensamos que vivemos. Quando na verdade estamos num período de preparativos para o retorno ao mundo de origem; de onde viemos e para onde teremos que voltar, querendo ou não. De acordo com a cultura racional, estamos aqui, sobre este planeta Terra, há vinte e uma eternidades. É tempo pra dedéu. Mas o tempo pesa só para nós, que continuaremos carregando o fardo sem saber que estamos carregando. Vamos parar e meditar. Não progrediremos enquanto não respeitarmos o nosso próximo. O Emerson já nos disse: “Você é tão pobre ou tão rico quanto o seu vizinho, senão não seria vizinho dele”. E todos os seres humanos são nossos vizinhos. Assim como somos vizinhos deles. Então, por que vermo-nos com diferenças? Você pode estar conversando com Deus, num papo coloquial, dando mais atenção ao seu próximo. E a atenção deve ser dada com racionalidade. E como vivemos nas diferenças, devemos viver com respeito às diferenças. E respeitar não significa afastar nas diferenças, mas respeitar sem familiarizar. Ame as pessoas como elas são. Porque se você acredita em Deus, sabe que é assim que Ele ama todos os seus filhos, independentemente do grau de evolução racional de cada um. No divino não há unidade de tempo. Tempo não existe. Sua permanência aqui vai depender de você. Pense nisso.
99121-1460