O conjunto de falhas e omissões no crítico cenário do trânsito roraimense
Jessé Souza*
Embora faltem ações dos órgãos de trânsito do Governo do Estado e da Prefeitura de Boa Vista para enfrentar a situação caótica do trânsito boa-vistense, os graves acidentes com mortes, ocorridos no fim de semana passado, mostram que a imprudência do condutor beira o absurdo e representam uma das causas de acidentes.
Em dois casos de acidentes com vítimas, gravados por câmeras de segurança, dois condutores da moto não obedeceram a sinalização, um avançando o sinal vermelho do semáforo e outro avançando um placa de “Pare” no cruzamento, custando a vida de mais duas pessoas por causa da imprudência.
No caso da moto que avançou o sinal vermelho e colidiu com um carro, o condutor confessou ter ingerido bebida alcóolica durante toda a tarde e avançou o sinal vermelho querendo aproveitar aquela transição de sinal, achando que daria tempo, como muitos fazem em uma situação corriqueira de imprudência. A esposa do condutor, que estava na garupa, morreu.
No outro caso, as imagens mostram o condutor em alta velocidade avançando a placa de parada obrigatória, quando colidiu com um ônibus da linha urbana. Neste caso, ficaram visíveis não somente duas imprudência em relação à legislação do trânsito, mas também uma “falha humana”.
As imagens mostram que o condutor não sabia usar corretamente os freios da moto em situação de emergência, tendo a reação de se lançar ao solo junto com a moto, diante do susto, fazendo com que condutor e veículo continuassem deslizando na pista até colidir contra o ônibus. Há ainda a possibilidade de falhas mecânicas que podem contribuir com os acidentes, representando uma culpa do condutor que não fazem as revisões e reparos necessários nos veículos.
Mas, geralmente, essa “falha humana” não é necessariamente uma culpa somente do condutor, mas o fato acaba revelando outro grave problema que é responsável por erros e imprudências que provocam acidentes de trânsito: a falha na formação de condutores, um problema estrutural cuja culpa recai sobre a política de trânsito brasileira.
Quem tirou sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) sabe que não se trata exatamente de uma formação nos Centros de Formação ao Condutor (CFCs) voltada para preparar o condutor, mas de um adestramento para que o aluno aprenda os “macetes” a fim de não errar na hora do teste prático. A situação se complica ainda mais porque existe a politicalha agindo no trânsito, em que candidatos já foram inclusive presos em flagrante ao participarem de esquema junto a autoescola na comprar voto de eleitores com a promessa de entregar CNH.
Junte-se a isso (imprudência e má formação) as falhas dos órgãos de trânsito que há tempos não promovem campanhas educativas para combater a violência no trânsito, muito menos deixam de agir rápido para corrigir problemas em trechos onde ocorrem acidentes, como instalação de semáforos em cruzamentos movimentados.
A ausência de uma programa de mobilibidade urbana soma-se a tudo isso na construção desse quadro caótico e preocupante no trânsito roraimense, que não apenas tira a vida de pais e mães de famílias, mas também deixa pessoas mutiladas, incapacitadas permanente ou temporariamente, fazendo lotar hospitais, pagamento de beneficíos e incapacidade laboral, comprometendo o mercado de trabalho.
Embora seja óbvio a imprudência e irresponsabilidade de boa parte dos condutores, as autoridades de trânsito não podem se livrar de suas culpas e responsabilidades, pois, nos últimos anos, viu-se mais uma “indústria de multas” do que ações para enfrentar o caos no trânsito roraimense, entre imprudência, má formação, falta de campanhas, ausência de fiscalização e demora para corrigir problemas na engenharia de trânsito.
*Colunista