O ‘eu fico’ do secretário dá o tom de fim de ano na saúde pública Jessé Souza*
A permanência do secretário estadual de Saúde, Leocádio Vasconcelos, não significa necessariamente um boa notícia. Acima disso, existe o sinal vermelho de que há ingerências e outras forças ocultas ainda agindo para tentar manter a saúde pública nas rédeas de um passado do qual conhecemos muito bem.
O comunicado do próprio Vasconcelos de que iria sair, talvez tenha sido um pedido de ajuda para que tivesse apoio necessário ou uma forma de chamar a atenção aos entraves que estava enfrentando para fazer as mudanças necessárias, uma vez que continua a necessidade de um esforço concentrado para tirar a saúde daquele grande buraco ao qual foi lançado.
Enquanto isso, a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde caminha com o relatório debaixo do braço, nos corredores da Assembleia Legislativa, anunciando que ainda vai fazer que o documento chegue às mãos dos órgãos fiscalizadores, depois de dois anos (sim, dois anos!) de investigação.
O maior feito da CPI da Saúde foi político. Ou melhor: o maior esforço político da CPI foi o malabarismo para livrar o governador Antonio Denarium (PP) de quaisquer responsabilidades, ainda que houvessem fortes indícios para convocá-lo a depor, mesmo como testemunha, uma vez que o irmão dele foi citado em depoimento de um ex-secretário da Saúde.
Em resumo, o ano encerra-se com um secretário ainda tentando ter respaldo para tomar decisões e com uma CPI que passeia com o relatório, no mesmo momento em que centenas de pessoas buscam por uma cirurgia há anos, na fila de espera muito antes da pandemia, e quando faltam medicamentos na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
De outro modo, o governador segue da mesma maneira que chegou ao Palácio Senador Hélio Campos, alegando que “nada sabia”, como ficou bem claro diante do pedido de exoneração do secretário Leocádio Vasconcelos – ou do ensaio para chamar a atenção de que precisava de respaldo.
Como o momento agora é de recesso geral em todos os poderes constituídos, não se pode esperar muito para as próximas semanas, a não ser aguardar que os políticos voltem de suas festas de fim de ano, enquanto a população tenta sobreviver e espera por atendimento nos hospitais que não conseguem sequer manter seus estoques de medicamentos e materiais.
Significa que o ano de 2022 chegará com os mesmos grandes desafios na saúde pública, já que o Palácio do Governo continua com a política do “eu não sabia”. A única esperança é que as investigações da Polícia Federal resultem em alguma coisa, diante de um ano que ficou marcado pelo dinheiro na cueca do senador.
*Colunista