O avanço do crime e a política dividida por policiais parlamentares
Jessé Souza*
As mortes com claros sinas de execução a tiro, em via pública, durante a luz do dia, continuam ocorrendo em Boa Vista, enquanto o Governo do Estado ainda faz desfile de viaturas policiais em frente ao Palácio Senador Hélio Campos no programa Polícia na Rua.
No mesmo mometo em que representantes da Polícia Militar estavam reunidos para receber mais 21 viaturas para o policiamento no interior, na tarde desta segunda-feira, um venezuelano era morto com um tiro na cabeça durante perseguição no meio da rua nas imediações da Feira do Produtor, no bairro São Vicente.
Não se trata de um fato isolado, mas de uma cena corriqueira na realidade da violência urbana em bairros onde há uma flagrante guerra envolvendo faccionados venezuelanos. Esse confronto ocorre onde há abrigos para imigrantes e pontos de prostituição com presença de mulheres estrangeiras, a exemplo dos bairros Caimbé e Tancredo Neves.
Os fatos indicam a necessidade de uma ação mais planejada do que apenas intensificar a presença do policiamento nos bairros da Capital e nos municípios do interior, como é a proposta do Polícia na Rua. É preciso integrar ações de inteligência das polícias para conter a criminalidade e até o incentivo da população para denunciar anonimamente.
O método de “enxugar gelo” do policiamento ostensivo pode ser visto no Conjunto Residencial Vila Jardim, dominado pelo tráfico e chamado por populares de o “novo Beiral”, onde jovens desocupados vendem droga abertamente, durante o dia, entre os blocos de apartamento. Os moradores sabem de tudo, mas não confiam em denunciar.
As viaturas da PM estão mais presentes por lá, como todos podem constatar visualmente, mas isso não tem intimidado a ação do crime. As viaturas fazem perseguições inócuas, no jogo de “gato e rato”, onde os “ratos” facilmente driblam a ação policial por entre os imensos blocos verticais, sem muros ou qualquer tipo de obstáculo.
Esse é apenas um exemplo de que existe a necessidade de um plano efetivo de segurança pública que possa enfrentar essa guerra urbana que está sendo perdida pelo aparelho policial, enquanto as execuções ocorrem rotineiramente, o tráfico avança e a PM gasta gasolina e emprego de efetivo sem os efeitos desejados por todos.
Obviamente que o desafio é de todos, mas a grande responsabilidade está nas mãos de uma Segurança Pública dividida não só administrativamente, mas politicamente e partidariamente na disputa eleitoral entre membros das forças policiais que disputam votos para os Legislativos.
A grande responsabilidade também está nas mãos dos políticos, os quais fazem o jogo de empurrar com a barriga ou ignorar a realidade de violência, enquanto a sociedade fica refém do aumento da criminalidade em que as facções estão bem organizadas e as famílias amendrotadas dentro de casa ou quando as pessoas saem para trabalhar ou para suas atividades rotineiras.
Hoje temos até policial rodoviário federal como deputado federal. Na Assembleia Legislativa há deputados estaduais que são delegado, agente da Polícia Civil e dois policiais militares! O presidente da Casa é um soldado da PM. Mas não se vê o retorno para a sociedade, na seguraça pública, da ação desses parlamentares policiais.
Como se nota, não há desculpa para dizer que a política não tem representantes da segurança pública. Falta mostrar trabalho, num pacto que extrapole essa mesmice que permite os bandidos estarem mais organizados do que as forças policiais e que exija do governo um plano que vá além de colocar mais polícia na rua.
Se assim não for, seguirá a tática do “gato e rato” ou do “enxugar gelo”, enquanto Boa Vista se encaminha para ser uma Capital dominada pelo crime.
*Colunista