O choque de realidade ao assistir um institucional na TV e pegar a estrada
Jessé Souza*
É de conhecimento público a importância de garantir trafegabilidade das estradas em Roraima, um Estado que precisa de um boa infraestrutura rodoviária para sair da economia do contracheque e atrair empresas, gerando empregos especialmente na zona rural, por meio da agricultura familiar.
Além disso, estradas e vicinais em boas condições não significa apenas segurança aos condutores e a população que precisda se locomover, mas também o desenvolvimento das regiões por meio de diversos benefícios e melhorias na condição social dos moradores.
Apesar dessa grande importância, não é isso que se tem visto quando o assunto é recuperação de estrada em Roraima, em que as empresas contratadas não estão comprometidas com a qualidade e com a agilidade para devolver à população uma malha viária com capacidade de se produzir no campo ou investir no turismo, por exemplo.
É por isso que não há nenhuma justificativa para a paralisação total da obra de recuperação da RR-203, que dá acesso a único ponto turístico consolidado de Roraima, a Serra do Tepequém, no Município do Amajari. Os trabalhos foram suspensos antes do Natal passado e continuam sem qualquer atividade, como se o serviço acompanhasse um recesso inaceitável da empresa privada.
As obras do trecho norte da BR-174, que se tornaram um serviço sem fim, já foram retomadas no início do ano, assim como deveria estar ocorrendo com outras frentes de trabalho de recuperação de estrada. Nem precisa frisar que aquela estrada é vital para o desenvolvimento econômico do Estado, pois é por lá que segue a exportação para a Venezuela, atividade que fez disparar o PIB roraimense.
Em situação pior está o trecho sul da BR-174, entre Boa Vista e Manaus, que é outro fator preponderante para a economia do Estado, não só pelo acesso ao Estado do Amazonas, mas também por ser ligação da Capital com os municípios da região Sul de Roraima, que é importante também para a economia interna.
Nada explica tanto descaso e morosidade com essas estradas quando se tem um bom exemplo para comparar, que é a obra de recupuração da BR-401, que liga Boa Vista ao Município de Bonfim, na fronteira com a Guiana. Realizada pelo Exército, por meio do 6º Batalhão de Engenharia e Construição (BEC), a qualidade da obra serve como referência para comparar a recuperação de outras rodovias.
Daí a necessidade de se cobrar empenho do programa lançado pelo governo estadual, que é o “Aqui tem obra”, que até agora mostrou muita propaganda e pouco compromisso das empresas em mostrar um serviço que possa devolver ao Estado a tranquilidade de se trafegar pelas regiões produtoras e de atividades turísticas.
Na RR-203, parece que a empresa está acompanhando o recesso parlamentar, enquanto a região da Serra do Tepequém vive um momento de alta temporada do turismo, que atrai principalmente pessoas de Manaus (AM), que precisam utilizar justamente a BR-174 e a RR-203, as principais estradas que carecem de um compromisso maior das empreiteiras e fiscalização por parte do governo.
É necessário que o governo tome as rédeas desse programa “Aqui tem obra” para que ele realmente adote o espírito de importância que ocupa no desenvolvimento do Estado. É ultrajante assistir um institucional desse programa na TV e, logo em seguida, pegar a estrada. É um choque de realidade que causa indignação em quem quer produzir ou mesmo viver sua vida de contribuinte com um pouco mais de dignidade.
*Colunista