Uma prisão em Santa Catarina que puxa o fio de um escabroso enredo em Roraima
Jessé Souza*
A maioria dos crimes mais escabrosos em Roraima deve ficar sem solução e os mandantes ou responsáveis impunes. Mas há os casos em que o enredo é tão complicado e melindroso que, apesar de terem sido solucionados, os verdadeiros motivos que existiram por trás jamais ficaremos sabendo.
Um desses casos é o do assassinato do empresário que era conhecido como Chico da Meta (Francisco Mesquita), cujo enredo não é fácil de ser explicado em poucas linhas e, apesar de os envolvidos terem sido presos, o caso ganhou contornos mais escabrosos ainda e o desfecho final ainda está em aberto.
O motivo para relembrar o caso foi a prisão do ex-policial Josias Severino Chaves, considerado um dos 10 foragidos mais procurados de Roraima, o qual foi localizado em Joinville (SC), no dia 08 passado, onde estava vivendo após fugir da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em 2012, onde cumpria de 50 anos por tráfico de drogas.
Embora esse ex-policial não tenha nada a ver com o caso Chico da Meta, sua fuga acabou cruzando com o caso do assassinato. É que o ex-policial fugiu pela porta da frente da Pamc junto com Cirilo Barros Ferreira, que estava preso por ser o pistoleiro que matou o empresário Chico da Meta. Os dois foram para a Venezuela e, de lá, ganharam rumo desconhecido.
A dupla pagou R$ 8 mil para um policial militar facilitar a fuga pela porta da frente da Pamc (o PM foi expulso da Corporação e recorre da acusação). Cirilo havia sido condenado a 22 anos por ter matado Chico da Meta a tiros, na noite de 12 de maio de 2011, em crime de tocaia, quando o empresário saía de uma pizzaria. Com ele estavam duas armas de fogo, uma de uso permitido e outra de uso restrito.
Conforme os autos, Cirilo matou Chico da Meta a mando do empresário Vibaldo Nogueira Barros, o Vivi, proprietário do táxi aéreo Paramazônia, que era concorrente do empresário assassinato. Vivi também foi preso em flagrante por ser o mandante, mas também fugiu de forma espetacular do Quartel da Polícia Militar e morreu em seguida na queda do avião que o estava resgatando.
Não só a fuga e a queda foram espetaculares, como também a forma que o corpo fora encontrado rapidamente, completamente carbonizado entre os destroços, quanto também espetacular foi a agilidade impressionante para os legistas atestarem em um tempo recorde que se tratava do corpo de Vivi.
O motivo do crime foi a disputa de um processo licitatório na Fundação Nacional de Serviço de Saúde (Funasa) referente a aluguel de aviões de pequeno porte para a saúde indígena, processos estes sobre os quais sempre rondavam suspeitas de irregularidades dentro de um órgão entregue a políticos.
Não custa lembrar que a Funasa em Roraima foi alvo de investigação da Polícia Federal, em 2007, quando foram presoas 23 pessoas na Operação Metástase, que desarticulou uma organização criminosa especializada em fraudar licitações para contratar justamente serviços de transporte em táxi aéreo, obras de engenharia e aquisição de medicamentos
A Funasa continua nas mãos de políticos e a situação da saúde especialmente dos povos Yanomami, embora esteja nas mãos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), também segue em condições precárias, conforme foi amplamente denunciado no ano passado.
Porém, apessar de todo esse enredo, nunca saberemos os meandros desse lamentável episódio, em que o âmago da questão envolve o que estava ocorrendo dentro da Funasa, com envolvimento de políticos, além da pitada de corrupção dentro do sistema prisional, setor hoje sob controle, com o pagamento para a facilitação da fuga.
E o caso Chico da Meta ainda ficará na memória até quando não houver o desfecho final, que é a prisão do pistoleiro que matou o empresário.
*Colunista