PERSONAGEM DA NOSSA HISTÓRIA MARINA MEU CASO – A “GOIÂNIA DO 38”. ___________________
Quem a vê hoje, corpo franzino, média estatura, peso menor do que aparenta ter, não imagina o quanto ela é forte, valente, destemida e que já trabalhou em vários garimpos no Pará e em Roraima. Marina Cantão dos Santos, a conhecida “Marina Meu Caso”, tem muitas histórias a contar. Quando estava no garimpo em Itaituba, no interior do Pará, tinha o seu restaurante “Recanto da Marina” e para manter à distância os assédios dos garimpeiros, portava na bolsa um revólver e, como dizia que tinha vindo de Goiânia, em Goiás, passou a ser conhecida como a “Goiânia do 38”.
Em outra ocasião, quando precisou entrar no Garimpo de Serra Pelada, no sudeste do Pará, se travestiu de homem e assumiu o nome: “Geraldo Brandão dos Santos”, já que era proibida a presença de mulheres no garimpo.
A Serra Pelada se tornou muito conhecida durante a década de 1980 devido à corrida do ouro, se tornando o maior garimpo a céu aberto do Mundo. Nos tempos áureos, entre 1980 a 1982, a Serra Pelada produziu 42 toneladas de Ouro. Chegou a ter 120 mil habitantes e a impressão que se tinha, ao avistar a área, era de um verdadeiro formigueiro de seres humanos, que revolviam a terra em busca de fortuna.
A Marina já havia tentado entrar no garimpo de Serra Pelada. A oportunidade surgiu quando um amigo de nome Victor Hugo, conversando com ela, lhe disse que havia morrido um dos seus funcionários, um travesti que lhe ajudava no restaurante que ele tinha em Serra Pelada. Naquele instante, a Marina teve a ideia de pedir a “Carteira de Garimpeiro” do travesti, colocou a sua própria foto por cima, e assumiu a identidade do falecido: “Geraldo Brandão dos Santos”.
Assim, entrou no garimpo, montou dois comércios (o “Restaurante dos Garimpeiros” e a “Churrascaria Gaúcha”) e, para todos os efeitos, o nome era Geraldo, um travesti, e ainda inventou que tinha vindo da cidade de Goiânia, em Goiás. Ela escondeu o quanto pode a sua condição de mulher no garimpo, até porque temia pela própria vida se fosse descoberta. Por isto, mantinha sempre à mão o seu “38”, para a sua autodefesa.
A Marina se travestiu de homem até no dia em que o Major Curió, um representante do Governo Federal e candidato a deputado, conseguiu a liberação para que a mulher pudesse adentrar e trabalhar no garimpo de Serra Pelada, até então um concessão proibida. A partir daquela lei autorizativa, a Marina reassumiu a sua própria identidade, registrou-se como “Garimpeira” e passou a trabalhar nos barrancos, cavando a terra, comprando maquinários para balsa de exploração e até mergulhando nos rios retirando areia em busca de Ouro. E, o que ganhou gastou com roupas, viagens e para usufruto próprio.
Marina Cantão dos Santos deixou o garimpo de Serra Pelada em 1987 e veio para Roraima, a convite do garimpeiro Rangel Reis, um maranhense da cidade de Santa Luzia do Tide, para que ela montasse um restaurante. E, depois do falecimento do Rangel Reis, numa queda de avião, a Marina comprou o seu próprio maquinário e passou a trabalhar com balsas no lugar de nome “Constituinte”, apelido que deram para o local do garimpo, na região do Paapiú. O problema é que a área explorada se estendia até o “Baixão das Cobras”, dentro do território da Venezuela.
Não passou muito tempo e a Polícia venezuelana invadiu o local e a Marina teve que fugir por dentro da mata, acompanhada por outros garimpeiros. Mas, após alguns quilômetros em meio à fuga, o grupo se dispersou e ela ficou sozinha perdida na selva.
A Marina passou 20 dias embrenhada na mata, sem saber onde realmente estava. E, devido à fome, chegou a comer os próprios documentos que levava. Mas, por “sorte”, encontrou outro grupo de garimpeiros que indicaram a ela o caminho de volta à Boa Vista.
E, aqui ela está há mais 35 anos. Neste seu retorno à Boa Vista, ela trabalhou como cozinheira, vendedora ambulante e montou uma barraca com vendas de comidas na Praia Grande (“Barraca Tia Marina”), do outro lado do rio Branco; depois voltou para a margem do rio próxima a cidade, instalou um pequeno restaurante em cima do flutuante “Remanso”, mas, meses após, naufragou.
Então, em 26/12/1994, finalmente, montou o Restaurante “Marina, meu caso”, nome escolhido por ela para retratar a sua própria história de vida. O Restaurante “Marina, meu caso” está situado no final da Avenida Santos Dumont, às margens do rio Branco, no Bairro São Pedro, e já ganhou vários prêmios pela qualidade, inclusive pela Revista Top of Mind e reportagem no Livro: “Fartura”, ano 2015. Anualmente promove com sucesso o Concurso “Garota Matrinchã”.
A Marina Cantão dos Santos nasceu no dia 05/06/1956, no atual município de Muaná, na Ilha de Marajó, no Pará. É filha do casal Bernardino Conceição dos Santos e Benedita de Sena Cantão dos Santos. O seu amor é o ex-professor, o conhecidíssimo pescador “Bobôco” (Stanley Barros de Lira), filho do professor Enedino Joaquim de Lira e Olinda Barros de Lira.
A Marina tem dois filhos: Abel dos Santos Dias e Celso dos Santos Dias, e a sua paixão é a netinha que a homenageou com seu nome: Marina Neta (filha do Celso).