Escute para ouvir
Afonso Rodrigues de Oliveira
“O curso normal das coisas nos ensina a acreditar. Precisamos apenas, obedecer. Existe orientação para todos nós, se prestarmos atenção ouviremos a palavra certa”. (Emerson)
Alguém também já nos disse que o bom conversador não é o que fala mais, mas o que ouve mais. Precisamos ouvir mais para poder analisar o que ouvimos. E é nessa análise que mostramos o que e quem somos. E o mais sensato é respeitar o pensamento do outro. O que nos leva a não discutir. Somos todos iguais, mas nas diferenças. Então vamos respeitar as diferenças para que sejamos iguais.
Vamos desenrolar o novelo. Acreditar é uma saída para a racionalidade. Em que acreditamos é o que vale. Somos o que pensamos. Nossas vidas são vividas de acordo com o nosso poder de pensar. E se é assim não devemos ficar pensando em coisas e acontecimentos que não nos façam feliz. Quando somos capaz de fazer o melhor, estamos construindo dentro de nós mesmos. E ficar pensando no negativo não é construir.
Todos nós aprendemos com o caminhar pelas veredas da vida. E estas são diversas e controversas. O que nos obriga a aprender a viver, para viver.
Ontem pela manhã preocupei-me com a imagem de um jovem sentado no banco da praça, com um aspecto negativo, indicando que estava preocupado. Pensei em me aproximar e iniciar um papo sadio. Observei-o à distância, e ele levantou-se e saiu caminhando vagarosamente, como se carregasse uma carga de negativismo. Aí não tive mais como me aproximar para um papo. Segui meu caminho. Afinal de contas somos todos responsáveis pelos nossos comportamentos. Talvez uma gripe estivesse amargurando a vida daquele jovem. Talvez ele ainda não tenha ouvido a voz macia da experiência.
Vamos reiniciar nossas vidas, independentemente do avanço da pandemia, alimentado pela euforia dos que querem viver o pior. No andar da carruagem aprendemos que nunca iremos encontrar a solução, pensando no problema. Uma verdade nua e crua, que por ser simples não é entendida. Por que ficar preso ao problema quando deveria procurar a solução? Somos todos responsáveis pelo que somos. Então vamos ser o melhor que pudermos ser. E isso requer racionalidade. E a racionalidade exige preparo racional.
Pare, pense, reflita e encontre-se. Nenhuma crise, nada nem ninguém, é superior a você, se você se conhecer no que você realmente é. E você é um ser humano, de origem racional. Nada nem ninguém é superior a você, se você se sentir superior. Mas para se sentir, tem que ser. Não permita que as crises façam de você um títere de você mesmo. Ouça uma música serena e de qualidade. Ela vai acordar você. Pense nisso.
99121-1460
Pautando a sociedade: Política Cultural Indígena
Evandro Pereira
Na condição de sociólogo, ativista cultural indígena e representante das organizações indígenas do contexto urbano, destaco a importância da cultura indígena para o nosso Estado. O artigo 215 da nossa Constituição Cidadã diz que: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.” Neste sentido, proponho neste espaço, breve reflexão sobre a política e a realidade sociocultural de nosso estado.
O Conselho Estadual de Cultura (CEC-RR) de Roraima precisa de reformas. O CEC é a instância vinculada à Secretaria Estadual de Cultura de Roraima que representa segmentos culturais do estado com poder deliberativo, normativo, consultivo e fiscal. Para além da falta de estrutura, espaços físicos e tecnologia adequada para desenvolver suas ações, o CEC precisa ser atualizado em sua composição de representação: não há uma cadeira destinada exclusivamente aos povos originários.
A lei nº 055/1993, que cria o CEC-RR, foi alterada pela lei nº 264/2000, que amplia o mandato dos conselheiros de dois para quatro anos. Entretanto, na composição do Conselho, há uma cadeira reservada para representante da Cultura Popular e Cultura Indígena. Sim, são duas “áreas complexas” em apenas “uma cadeira”.
O Estado com maior presença indígena proporcional do país reproduz um preconceito histórico, que é minimizar a importância das populações indígenas, destinando uma cadeira para agregar dois segmentos, fato que esvazia a importância dos indígenas.
Atualmente na cidade de Boa Vista existem cinco organizações indígenas que são fazedores de cultura. Temos três grupos de dança Parixara: Grupo de dança Kapoi, grupo de mulheres da Organização dos Indígenas da Cidade (ODIC) e o coletivo Dunui San Nau – que teve projeto contemplado em 2020 pelo incentivo Lei Aldir Blanc.
Além desses grupos, temos vários artesãos que produzem artesanatos nos espaços culturais nas sedes das associações. Estes artesanatos são comercializados em instituições públicas, privados e em eventos locais, regionais, nacionais e internacionais.
Destacamos a grande produção de artesanatos nas comunidades indígenas e a existência de vários grupos de dança Parixara, Areruya e Tukui no estado. Temos vários festivais tradicionais organizados pelas próprias comunidades, dentre estes: o Festival da Damurida (Malacacheta), Festival do Beiju (Tabalascada), Festival Intercultural (Canauanim), Festival da Farinha e Festival da Mandioca.
São nossos ritos que alimentam o corpo e o espírito. Estas manifestações precisam ser valorizadas, respeitadas e incentivadas pelo poder público. A criação da cadeira da Cultura Indígena no Conselho de Cultura de Roraima beneficia os povos indígenas, mas, sobretudo, é importante para o Brasil.
É importante ressaltar também que temos duas instâncias políticas de fiscalização dos recursos destinados à cultura: o CEC-RR e a Assembleia Legislativa de Roraima, considerando que em dezembro último, foi criada a Frente Parlamentar em Defesa da Cultura. Nosso papel, enquanto movimento, é provocar o debate e, se preciso, ir para o enfrentamento, cobrando respostas do estado.
Enfim, os povos indígenas querem reconhecimento. O incentivo cultural é importante para desconstrução de preconceitos e para projeção da dignidade dos povos autóctones. Nossa luta sempre foi coletiva, como sempre foi a vida dos povos tradicionais desta terra.